São casas: como nós já não sabemos erguer – do chão.

É um estar junto: como a maioria de nós já não sabe estar. Todos juntos, tão juntos como nos dias especiais, mas na ausência de datas que assinalem dias especiais.

É dessa união que se fazem os dias, todos os dias. A família toda na mesma casa, três gerações abrigadas pelo mesmo tecto, protegidas pelas mesmas paredes: avós, pais e netos.

E os vizinhos – ali ao lado, na porta ao lado, a ocupar um lugar à mesa, nos espaços comuns e partilhados: como nós já não temos, como nós já não partilhamos.
O arroz que seca ao ar, num pano estendido no chão que se prolonga até ao último grão.
O chão destas casas, afastado da terra, tem uma dupla função: protege a casa das cheias e protege o gado, que sob ele se abriga.

Nos passos dos povos indígenas do Bornéu
créditos: Menina Mundo
Nos passos dos povos indígenas do Bornéu
créditos: Menina Mundo

São as  Longhouses (Rumah panjang, em Malaio): casas longas, como o nome indica, para nelas todos caberem e, em alguns casos, cabia uma comunidade inteira. Tivemos a oportunidade de conhecer duas delas.

Sarawak Cultural Village, nas montanhas do Monte Santubong, podemos conhecer as várias tribos que compõem o povo de Sarawak: Bidayuh, Iban, Penan, Orang Ulu e Melanau, Malaios e Chineses. Conhecer-lhes as casas, nas réplicas ali construídas, conhecer-lhes as danças e o artesanato, trabalhado pelas mãos das mulheres, e encher os ouvidos com os sons melódicos que saem das cordas da viola do Francis e embalam a Mia. É de figurantes que se trata, não se trata de uma vila real, mas o conhecimento e ensinamentos que eles nos transmitem, aliados à beleza do lugar, construído entre o verde e o lago artificial que ocupa um lugar central na vila, vale uma visita.

E há aqui um genuinidade grande, é este viver e conviver entre povos de etnias várias que nos dá uma amostra fidedigna do povo de Sarawak.

E conhecemos ainda a Annah Rais Longhouse, saímos de barco da nossa casa no meio da selva, assim que a chuva deixou – duas famílias e três crianças num barco – e entrámos por essa longhouse adentro. Subir as escadas que a elevam do chão é já um exercício de equilibrismo não há espaço para mais de um pé em cada degrau.

Aqui mora uma comunidade Bidayuh, e aqui assistimos ao correr da vida, na ausência de qualquer representação, que não o bilhete de entrada e a familiarização dos seus habitantes com os olhos curiosos de quem a visita.

Nos passos dos povos indígenas do Bornéu
créditos: Menina Mundo

Este artigo foi originalmente publicado em Menina Mundo.