Maiorca é a maior ilha das Baleares, com uma área de mais de 3000 quilómetros quadrados. E, apesar de ser conhecida pelas suas praias de água cristalina que se estendem em cada enseada, é também uma ilha repleta de serras e montanhas, como podemos constatar ainda antes de aterrar no aeroporto de Palma de Maiorca.

A nossa sugestão de hoje provavelmente passa desapercebida nos guias, mas para quem gosta de percorrer trilhos, respirar o ar da floresta e contar passos no smartwatch, o Parque Natural da Península do Levante (Parc Natural de la Penúnsula de Llevant, em catalão) é um destino a ter em conta.

Este Parque fica situado no nordeste da ilha, a cerca de uma hora e quinze minutos de Palma de Maiorca, no município de Artà, e tem uma área de 1,671 hectares.

Chegámos pela estrada Artà Ma-3333 (sentido santuário de Betlem), à boleia da Tui Care Foundation que está a desenvolver, juntamente com o governo maiorquino, um projeto de reflorestação do parque.

Nesta entrada principal para o parque encontramos o Centro de Interpretação S’Aqueria Vella de Baix sediado numa antiga herdade, que se dedicava maioritariamente à produção de oliveiras e ovelhas.

O centro dispõe de uma série de informação sobre os itinerários que se podem fazer, de forma autónoma, como também sobre a fauna e flora do parque.

Aconselhamos a uma paragem neste local para obter toda a informação sobre os trilhos. Aos sábados há possibilidade de fazer visitas guiadas, mas as vagas são limitadas e por isso carecem de reserva prévia.

Se, como nós, tiver a sorte de ir à quarta-feira, saiba que da parte da tarde pode cruzar-se com um grupo de senhoras que semanalmente se encontram ali para perpetuar a tradição do artesanato com as folhas da Palmeira de Leque, única palmeira autóctone da Europa. Regionalmente este artesanato é conhecida pela “llatra” e foi uma importante fonte de riqueza nos finais do século XIX para os municípios de Capdepera e ArtÀ

Esta é uma planta que se encontra nas zonas serranas e abundam em áreas fustigadas pelos incêndios, como é o caso do Parque Natural da Península do Levante, pois tendem a nascer muito rápido mesmo depois de queimadas.

O Parque Natural da Península do Levante: Fauna, Flora e cultura

O Parque Natural da Península do Levante, por ser num ambiente seco e quente, tem uma vasta vegetação de oliveiras, amendoeiras, figos e azinheiras, contudo a grande diversidade de ambientes que o rodeiam confere-lhe paisagens incríveis.

Na nossa visita percebemos que não houve uma política de investimento muito grande neste tipo de turismo, de natureza, e por isso locais como estes foram perdendo algum público. Atualmente, o governo maiorquino, em parceria com Tui Care Foundation, está a iniciar um projeto de reflorestação que pretende, até 2027, plantar mais de 50 mil árvores.

Parque Natural da Peninsula do Levante
créditos: A. Palma

Na nossa caminhada encontrámos Toni, um vigia do Parque Florestal, que conhece aquela área como a palma da sua mão. Não é natural de Maiorca, e sim de Ibiza, mas há cinco anos que adotou esta ilha, de onde é natural o pai, e esta floresta como casa. Explica-nos as técnicas de podar as árvores para que cresçam com mais força e em maior quantidade. “Destes cinco galhos, tiramos dois, limpamos à volta, e duplicam”, explica.

Plantação de arvore TUI Care Foundation
Toni (vigilante florestal) ajuda na plantação de mais uma árvore. Ao lado , da direita para a esquerda, Sebastian Ebel (CEO TUI) Joan Simonet Pons (Ministro da Agricultura, Pescas e Meio Ambiente) e Thomas Ellerbeck (Chairman Tui Care Foundation) créditos: A. Palma

As maiores ameaças deste parque têm sido os incêndios e as cabras selvagens que destroem os solos. “ A cabra é um animal muito inteligente e com o abandono da atividade agrícola, ela fugiu das herdades e anda por aqui a viver autonomamente”, explica. Mostra-nos como são os estragos desta raça, que não são cabras de montanha, e o que as suas investidas sobre as árvores fazem. “A ovelha corta, tira bocadinhos, as cabras arrancam as raízes e depois com as chuvas temos problemas com a erosão dos solos”, diz.

O Parque Natural da Península do Levante oferece aos visitantes, não só uma caminhada pela natureza e paisagens de perder de vista, como também um contexto histórico e cultural, com a passagem por algumas herdades (chamadas de “fincas) onde a agricultura era a atividade principal da região.

Para os amantes de aves, a atividade de birdwatching também é uma possibilidade já que habitam no parque uma série de espécies como o abutre negro, a maior ave de rapina da Europa com 295 centímetros de comprimento; o milhafre-real , inconfundível pela sua cauda em formato de peixe , ou a águia-calçada de pequenas dimensões.

Trilhos: deixe-se perder pela floresta

Se gosta de caminhadas pela natureza, pegue na mochila porque trilhos não faltam. O Parque também está preparado para passeios de bicicleta e a cavalo.

São mais de dez itinerários possíveis, que vão desde dificuldade baixa à elevada com vários ambientes. Deixamos aqui algumas sugestões, contudo pode conhecer em detalhe cada um dos trilhos no site oficial da rede dos parques naturais das baleares.

  • Trilho de "S’Alqueria a Es Verguer"

Dificuldade: Baixa

Distância a percorrer: 1,8 quilómetros

Duração: 35 minutos

O trilho começa nas casas da antiga herdade s’Alqueria Vella de Baix e o caminho é marcado por muita vegetação rasteira, principalmente pelo caniço. Este é um trilho onde se consegue perceber um bocadinho da história e tradição agrícola, com a presença de oliveiras, amendoeiras e alfarrobeiras. O trilho acaba noutra herdade, Es Verguer, não tão conservada como a de Vella de Baix, onde também houve atividade agrícola, mas mais dedicada à suinicultura.

  • Trilho "de Es Verger a Albarca"

Dificuldade: Baixa

Distância a percorrer: 3 quilómetros

Duração: 50 minutos

Este trilho liga as herdade de Verger, onde atualmente só habitam alguns morcegos, às casas de Albarca, uma herdade do século XIII. O caminho é composto por uma zona de olivais. Entre vales, socalcos e rochas a vista é incrível.

  •  Trilho “Estrada dos Presos”

Dificuldade: Mediana

Distância a percorrer: 5, 5 quilómetros

Duração: 2h

Com início no Centro de Interpretação das S’Aqueria Vella de Baix, este trilho tem vários pontos de interesse, não só da vida selvagem, mas também de contexto etnológico e histórico. Caminhará por uma estrada conhecida como o “Camí dels Presos”, caminho construído por presos políticos em troca de amenizações da pena. A estrada leva a umas ruínas onde outrora foi um estabelecimento prisional para os presos do regime de Franco. Um dos pontos mais altos, Puig de Sa Tudossa, é a meta e fica a 441 metros de altitude. Durante a subida, e já no cume, o caminhante disfrutará de uma vista desafogada sobre a baía e, se o dia permitir, também é possível avistar a ilha de Menorca.

  •  Trilho “Camí d’en Mondoi”

Dificuldade: Média

Distância a percorrer: 3,7 quilómetros

Duração: 1h30min

Este trilho é uma descida até ao mar Mediterrâneo. Começa na “Estrada dos Presos” e o seu caminho, sempre a descer, leva-nos até à praia s’Arenalet des Verger de extenso areal branco. Pelo caminho, escondem-se nas rochas cavernas e recantos repletos de espécies vivas que atestam a qualidade do ar. Também cruzará a “Estrada de Mondoi”, que dá nome ao trilho, conhecida outrora pelo contrabando, atividade muito típica das montanhas de Artá. Pode ainda encontrar tartarugas mediterrâneas, típicas desta zona, que durante os meses mais frios enterram-se em buracos e durante os meses mais quentes ficam simplesmente a apanhar banhos de sol. As tartarugas estão expostas a várias ameaças como os incêndios, a construção de novas urbanizações, estradas e infraestruturas ou aos pesticidas usadas em plantações.

O SAPO Viagens visitou Maiorca a convite da Tui Care Foundation