O comentário generalizado é que foi descoberto primeiro pelos estrangeiros e só depois pelos brasileiros.
É curioso que na origem do projeto está uma fazenda. Pertencia ao inglês Timothy, apelidado pelos locais como Nhô Tim. A fazenda é muito grande tem uma vegetação luxuriante e várias lagoas. Tem também muitas cigarras que, durante algumas horas, produziram um som que nos acompanhou na visita.
O museu tem mais de um milhar de obras de arte e em exposição estão apenas 700. A maioria são de artistas brasileiros mas também há de outros países.
Alguns destes artistas têm exposições permanentes e aqui entramos em mais uma particularidade do Inhotim. As galerias de artistas permanentes foram concebidas de forma integrada. O espaço é resultado do diálogo entre o artista convidado, o arquiteto e o paisagista. Deste modo, cada galeria é também uma peça única que espelha a criatividade de vários saberes.
Por exemplo, a galeria de Matthew Barney é um iglu que alberga um trator, uma árvore e cada vidro da cobertura reflete o que se passa no interior.
A instalação está no meio da floresta e a sua temática aborda a força da natureza e das máquinas.
Noutros casos as galerias projetam os traços principais do artista. É exemplo a de Adriana Varejão que se desdobra em várias linguagens e suportes. Em alguns trabalhos predominam os azulejos, alguns de tonalidade azul e de inspiração portuguesa.
Outro tipo de azulejo é o branco e serve de suporte a uma escultura de 2004, Linda do Rosário. Trata-se de uma obra muita conhecida, associa os materiais de construção e o corpo humano e retrata o amor clandestino de um casal que só foi descoberto no meio das ruínas, após a derrocada do Hotel Linda do Rosário no Rio de Janeiro.
A galeria de Adriana Varejão é rodeada de um lago. Muitas outras têm também a água em redor com as árvores e os edifícios a serem refletidos nos lagos criando um ambiente de profunda de harmonia.
A True Rouge ou a Galeria do Lago são bons exemplos deste enquadramento, em frente de uma das maiores lagoas.
Além de Matthew Barney e Adriana Varejão, os outros artistas com obras e galerias permanentes são Marilá Dardot, John Ahearn, Carlos Garaicoa, Chris Burden, Dan Graham, Paul McCarthy, Olafur Eliasson, Rvane Neuenschwander, Tunga, Dominique Gonzalez-Foerster, Giuseppe Penone, Valeska Soares, Hélio Oiticica, Waltércio Caldas, Doris Salcedo, Cildo Meireles, Miguel Rio Branco, George Bures Miller, Vítor Grippo, Lygia Pape, Zhang Huan, Carroll Dunham, Amílcar de Castro, Yayoi Kusama, Rirkit Tiravanija, Jorge Macchi, Doug Aitken, Jarbas Lopes, Cristina Iglesias e Edgard de Sousa.
Uma das últimas galerias permanentes foi inaugurada em 2015 e é dedicada à fotógrafa suíça radicada no Brasil Cláudia Andujar que fez um trabalho notável sobre os índios Yanomami.
Cildo Meireles tem também vários trabalhos em destaque no Inhotim e um dos que mais se destaca é Através, uma instalação onde os visitantes caminham sobre vidro (tem de se levar calçado fechado).
Um outro espaço fabuloso do mesmo autor é Desvio para o vermelho: Impregnação, Entorno, Desvio 1967 – 1984. Trata-se de uma instalação em três espaços contíguos, com vários materiais e onde o vermelho se assume como o elemento dominante.
Troca-troca
As galerias temporárias são também espaços grandes e muitos artistas convidados produzem obras em função do local onde vão expor.
No meio do imenso espaço verde estão escultura, instalações e, até há pouco tempo, os fuscas do Troca-troca de Jarbas Lopes. Fazem parte do acervo do museu e é uma das obras mais populares.
Os fuscas foram restaurados e retomaram o brilho do amarelo, vermelho e azul. Jarbas Lopes diz que estas são “as cores da arte, as cores primárias que dão origem a todas as outras” e eram as cores originais de cada um dos carros. Trocou as chapas e assim começou o “troca-troca”. Os carros podem andar, acentuando a vertente de mobilidade de partilha, a “troca” com o público.
Jardim Botânico com espécies raras
Os visitantes ao mesmo tempo que visitam as galerias e as obras expostas ao ar livre vão também contemplando uma beleza natural fantásticas com milhares de espécies de plantas do jardim botânico. A maioria são espécies nativas e algumas são raras.
Há também jardins temáticos.
A vegetação é luxuriante e é igualmente útil para se aproveitar a sombra e descansar um pouco na caminhada. Em muitos locais há bancos de madeira, feitos de troncos de árvores em que a natureza também quis fazer parte da arquitetura do local.
A harmonia, o contexto natural e paisagístico, o olhar que se perde entre a criatividade do homem e da natureza, conferem, de facto, ao Inhotim uma vivência única.
Na verdade, eles têm razão quando afirmam que “quem entra no Inhotim esquece tudo o que já aprendeu sobre a definição de um museu”. No mesmo tom têm sido as referências em órgãos de comunicação social brasileiros e internacionais.
Muito do mérito deve-se a Bernardo de Mello Paz, um empresário de Minas Gerais e coleccionador de arte, que procurou um espaço para colocar algumas obras de arte de grande dimensão. Encontrou esse lugar a 60 km de Belo Horizonte e comprou a fazenda do Nhô Tim. No inicio deste século o projeto ganhou uma vertente filantrópica e em 2005 começaram as visitas para as escolas. No ano seguinte abriu ao publico em geral e já recebeu cerca de 3 milhões de visitantes.
Eugénia Salcedo, diretora artística adjunta, diz que o espaço funciona como um conjunto e é desajustado destacar uma obra ou um artista. “Através da junção do jardim botânico e da coleção de arte contemporânea procura-se trazer para o público uma experiência em função dessas duas formas de pensamento, duas formas de organização do nosso conhecimento.
"Nesse sentido, o Inhotim possibilita que o público compartilhe connosco a missão de museu, de preservar, conservar, expor e pensar sobre a cultura contemporânea”.
É um espaço que pode ser usufruído por toda a família. Quem tiver dificuldades em se mover pode pagar um extra e tem acesso aos carros elétricos que transportam os visitantes para as galerias e os jardim mais distantes.
Para a visita é recomendável levar chapéu, protetor solar e água. O Inhotim tem restaurantes a cafetaria.
A distância de Inhotim a Belo Horizonte é de 60 km e demora cerca de uma hora a percorrer de carro. Vários operadores turísticos organizam programas para visitar o museu. Para Belo Horizonte a TAP tem voo direto.
Aqui tem informação prática sobre a deslocação e a visita ao Inhotim. A viagem foi a convite da SETUR e do Festival Fartura.
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