
Uma manhã de sol a revelar os inúmeros tons de azul das praias de Chipre é o suficiente para conquistar alguém que visite, pela primeira vez, o país insular do Mediterrâneo.
O mar calmo e turquesa beija placidamente as areias douradas, as espreguiçadeiras convidam a banhos de sol numa praia ainda com poucos turistas e um areal livre de plástico. Numa das extremidades da praia, uma grande tartaruga feita com resíduos reciclados dá as boas-vindas a quem visita Ayia Triada, orgulhosamente, a primeira praia do país a receber o selo “plastic-free”.
Apelidada de Calipso (na mitologia grega, uma ninfa do mar), a tartaruga foi uma obra de arte feita por crianças das escolas da região, também elas envolvidas e parte essencial do projeto “Destination Zero Waste Cyprus”, criado pela TUI Care Foundation, em parceria com a Iniciativa do Turismo Sustentável de Chipre (CSTI, na sigla inglesa).

“O turismo sustentável é, para nós, uma necessidade. Não é apenas limpar o plástico, é criar uma cultura de cuidado com as nossas praias e a nossa costa”, afirmou Philippos Drousiotis, presidente da CSTI, durante uma visita por duas praias das oito que já receberam o selo “plastic-free beach” desde o início do projeto, em 2022.
E como é que se implementa uma praia livre de plástico? Além das iniciativas de limpeza de praia que, no país, são feitas até debaixo do mar por uma equipa de mergulhadores, há infraestruturas na areia que promovem a adoção de comportamentos sustentáveis. Por exemplo, dispensadores onde podemos encher a nossa garrafa de água, uma zona para fumadores, onde são disponibilizados cinzeiros portáteis e, até, um contentor com brinquedos de praia reutilizáveis para as crianças. Um pouco por todo o areal, existem cartazes que apelam a atitudes sustentáveis.

Segundo Philippos, este projeto uniu “turistas, negócios e população local à volta de uma causa”. De facto, as praias livres de plástico são, apenas, a face mais visível de uma iniciativa que envolve quase 4 mil alunos de 25 escolas; 300 negócios pelo país, de restaurantes a hotéis que começaram a reduzir o uso de plástico e, por fim, a criação de uma app já com 35 estabelecimentos aderentes onde é possível obter descontos nas bebidas ao levarmos a nossa própria chávena ou copo, daí o nome "Bring your own cup" (traga a sua própria chávena, em tradução livre).
Já na praia de Ammos Kambouri uma equipa de voluntários procedia a uma limpeza de plástico pelo areal, mais um com o selo “plastic-free”. Entre os voluntários estava Daniel Kistler, fundador do Centro de Mergulho de Chipre, que conduz limpezas subaquáticas.
No ano passado, a sua equipa recolheu “40 quilos de microplástico”, o que é um valor considerável, tendo em conta tratar-se de pedaços muito pequenos do resíduo. “Há muito lixo no mar”, afirmou Daniel. Porém, nem tudo são más notícias, o mergulhador indicou que muitas tartarugas marinhas estão a retornar à costa do país.

Para o presidente da Câmara de Ayia Napa, a região com as praias mais concorridas do país, “a mudança é possível”. “Este projeto tem sido um sucesso, partilhamos a responsabilidade de proteger as nossas praias”, declarou Christos Zannettou.
Considerado um dos destinos com as águas mais limpas da Europa, Chipre tem muito a perder com o aumento do plástico no oceano que, se nada for feito, em 2050 poderá estar em maior quantidade do que os peixes.
A ameaça, contudo, não vem apenas do mar, também em terra a ilha já sofre os efeitos das alterações climáticas que trazem invernos mais secos e verões cada vez mais antecipados, confirmando a previsão da desertificação no Mediterrâneo.
Aliás, aquando da nossa visita no final de março, os termómetros já se aproximavam dos 30ºC. “Ainda estamos na época da chuva, não é normal este clima”, explicava aos jornalistas Sofia Matsi, diretora-executiva da Fundação Ambiental de Chipre que, apoiada pela TUI Care Foundation, e em parceria com a KES College e a Fundação Christos Stelios Ioannou, estão a implementar o “primeiro programa de agricultura regenerativa da ilha”.
O turismo representa uma oportunidade para a agricultura
O “TUI Field to Fork Cyprus” tem como objetivo criar uma rede de agricultores que, através de formação específica, possam adotar processos de agricultura regenerativa no dia-a-dia de trabalho, além de fortalecer a rede entre agricultores e o setor da hotelaria, um dos principais consumidores dos produtos agrícolas, principalmente, daqueles com o selo orgânico.
“O turismo representa uma oportunidade para a agricultura e é um incentivo para os agricultores começarem a produzir mais de forma orgânica”, disse Sofia Matsi, durante a apresentação pública do projeto.
Entre oliveiras centenárias, encontrámos um dos parceiros do "TUI Field to Fork Cyprus", a Strakka, uma quinta que produz azeite deste a ocupação veneziana de Chipre, durante os séculos XV e XVI. A oliveira mais velha da quinta, com 600 anos, é um exemplo de resiliência e resistência à passagem do tempo e a alteração nas práticas agrícolas que prejudicaram os solos.

“Os solos estão a transformar-se em desertos, o que diminui a capacidade agrícola. Precisamos mudar rapidamente para a agricultura regenerativa e orgânica”, referiu Demetris Sarris, diretor da escola de estudos do ambiente do KES College.
Nos terrenos da Strakka, é possível ver na prática a aplicação de princípios da agricultura regenerativa, tais como na cobertura dos solos com matéria orgânica, no aproveitamento da água e na não utilização de pesticidas. De acordo com o Antonis Papantoniou, diretor da exploração agrícola, “mudar para a agricultura regenerativa foi fácil e trouxe mais benefícios”.
Detentor de vários prémios, o azeite ali produzido é um dos souvernirs que os turistas podem levar para a casa depois de visitar a ilha. Vendido nos aeroportos, os azeites da Strakka são uma referência no país que luta para manter tradições que asseguram a autenticidade de um destino muito procurado na época alta, principalmente, pela beleza das praias e riqueza histórica.
O SAPO Viagens visitou Chipre a convite da TUI Care Foundation
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