Regras do jogo: chegar à embaixada com o voo marcado, teste PCR negativo e uma justificação. Parece fácil, mas eu, lá no fundo, sei bem como isto funciona.

O meu voo era na segunda, e eu tinha que ter o teste até cinco dias antes da viagem. Ora quinta fiz o teste, recebi o resultado na sexta e fui a correr para a embaixada para ter o papel e passar o fim-de-semana descansada. Cheguei por volta das 14h e o responsável tinha ido almoçar,  eu, pacientemente, esperei, mas nem cinco minutos depois a empregada doméstica apareceu a dizer que só segunda-feira ao meio-dia (o dia do meu voo).

Paniquei. Se já andava nervosa por todas as burocracias, então passar o fim-de-semana sem saber se ia viajar ou não foi doloroso, não vou mentir. Não fiz a mala e preparei-me mentalmente para o pior, pois já sei o que é que a casa gasta.

Sábado fui escalar de manhã e domingo fazer uma caminhada a Sintra, só queria estar ocupada mentalmente e fisicamente para não pensar no que podia correr mal.

Domingo à noite os nervos apertavam o coração e já só via a viagem a ser cancelada.

Segunda lá estava eu. Não às 12h mas às 10h30, tremia e entrei a medo.

Após dar os documentos pedidos e tentar simpatizar com a senhora que me recebeu, que por sua vez era de sorriso difícil (mesmo com máscara), até tínhamos um amigo em comum, vejam lá, mas nem mesmo assim. Lá ela subiu com os meus papéis.

Não sei precisar o tempo que demorou até me devolver os papéis e dizer “os documentos não foram aceites”

Um pequeno aparte: tudo isto em francês, com o meu francês macarrónico, teria muita piada ver isto de fora.

Caiu-me tudo, via o investimento feito a ir por água a abaixo.

Fiquei de pé a pedir para falar com a pessoa responsável, ela virou-me as costas.

Lá estava eu imóvel no meio da sala até que... aparece o meu anjo da guarda que me aborda em português.

- “Olá está tudo bem? Precisas de ajuda?”

Essa pergunta era tudo o que precisava, de um ombro amigo.

Comecei a chorar.

- “Já vi que precisas”.

Expliquei lhe tudo e o senhor, com um simples sorriso, disse: “não te preocupes que eu vou tratar disto”.

E assim o fez.

Fiquei sentada na sala de espera a tremer e a rezar a todos os deuses.

Eis que desce a pessoa responsável a questionar-me o que iria fazer ao Senegal, e expliquei que era guia de viagens e ia recolher orçamentos e reunir com parceiros locais. Ele não se convenceu e disse que não era suficiente, que o Senegal está fechado ao turismo e que da próxima vez eu teria que ter uma justificação mais plausível.

E subiu.

Esperei outra eternidade, pelo menos a mim pareceu-me.

E ele voltou a descer e com uma cara séria, e disse-me: "já assinei a autorização".

Suspirei fundo, só queria gritar de alívio e felicidade!

O meu anjo da guarda voltou a ir ter comigo e só me disse "da próxima, levas-me contigo" e eu não tive palavras para lhe agradecer.

Lá sai da embaixada com a autorização e a gritar que nem uma louca, a saltar como se tivesse ganho a lotaria, e por momentos foi isso que senti.

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"Até tive de chorar" é o primeiro episódio de uma série de crónicas que serão escritas no decorrer da minha viagem com destino ao continente africano. Vamos rumo à zona Oeste de África, mais propriamente para o Senegal e Guiné-Bissau. Para quem me segue, sabe que ambos os países não são novidade para mim. Vou em viagem de prospeção para o ano poder levar-te comigo! Inshallah*

*Inshallah é uma expressão árabe para "se Deus quiser" ou "se Alá quiser"