A casa ostentável que todos querem ver e onde morava a família Capuleto, portanto Julieta. Ali onde abundam pequenas notas que fui perscrutar. Eram bilhetes aflitos de pedidos ao amante, de promessas enamoradas, de paixões intermitentes… ou de um voto ingénuo de amor. Mas ingenuidade foi o que eu senti quando entrei na famosa casa do Amor de todo o Mundo. E fica sempre a dúvida que ali se esfuma: é lenda? Pisei aquele chão do átrio da casa rústica e grande e fixei os olhos na varanda onde Julieta esperava Romeu, em segredo. A varanda do namoro proibido e fatalista sobre o qual não me preciso de alongar. Todos conhecemos a história de Romeu e Julieta. E queremos inspiração para esta semana, por isso eu desço da varanda para os bilhetes e canetas que vi nos vários turistas.
Fiquei a pensar se todos amavam ou já teriam amado, se estariam a escrever por replicação e para deixar a sua marca nas paredes de Romeu e Julieta? Vi espanto e sobretudo homenagem ao amor puro e sofrido (amor que é amor envolve sofrimento) que aquela casa expira. Depois voltei a focar-me na felicidade de quem ia rascunhando os bilhetes, em várias línguas, depois afixando nos locais permitidos nas paredes, mesmo por detrás da estátua de Julieta. Provavelmente as paredes e estátua mais famosas e desejadas de Verona. Nesta cidade há um anfiteatro colossal, há um teatro romano antigo que me fez apaixonar mais, mas esta é a semana da casa e das varandas de Julieta. Dedico-me, até porque sou metade romântica, metade ‘lua’.
Nesta casa, fácil de chegar, em Verona, consegue também observar as indumentárias que a família Capuleto usava na altura e também a cama no quarto, alegando-se, de Julieta. Mas as pessoas preferem escrever notas e pedirem sorte no amor quando tocam na estátua de cobre. Agora parem e imaginem como seria Julieta a aguardar os sinais proibidos de Romeu e como o amor era vivido de forma mais verdadeira, a ideia de compromisso. E depois pensem como este confinamento pode ser um teste da varanda que distanciava Romeu-Julieta.
Sobre gravar amor em paredes ou pontes: uma coisa que me enerva profundamente são as escrituras e os cadeados nas pontes parisienses e mesmo alguns em pontes aveirenses (minha bela terra). No caso da ponte aveirense, há algo que me cativa: laços que esvoaçam quase imitando as gaivotas que tanto povoam o céu da minha terra-natal. Isso gosto, mas repito que cadeados não, como os que se veem na ponte das Artes, em Paris. As pessoas acham engraçado fotografar ali, rasurar a tinta e os artefactos… e lacrar o momento com cadeados. Ainda por cima não gosto de cadeados… remete-me para algo que nada tem a ver com a liberdade que é o amor.
Pensem que se todos fizermos isto nem a ponte, nem nada se verá. Aliás a tradição e superstição dos cadeados nas pontes começou em Roma: na Ponte Milvio. Tornou-se muito ‘moda’ depois do filme “Ho voglia di te” lançado em 2007. Anos após, a Câmara Municipal impôs que não se poderia mais danificar a ponte Milvio com tanto espetáculo turístico. Mas de ROMA, virou-se a palavra ao contrário e o AMOR continuou por essas pontes fora. Quando vi tal em Paris, pareceu-me um cemitério de amor, desculpem a minha típica franqueza. Em França eu recordo-me de tirar uma foto perto dos cadeados e dos amores escritos, depois olhei para o resultado e pensei que estava perto de uma coisa aprisionada com aqueles cadeados. O Amor é liberdade, as paredes têm de estar limpas, as pontes são símbolo de ‘atravessar’ de mão dada. Não precisamos de escrever tudo o que desejamos e sentimos ali, nem prender Amor com cadeado.
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