Fomos em busca da Rota Omíada do Algarve – inserida no projecto Umayyad Route – e descobrimos o legado material e imaterial desta Dinastia Árabe em Portugal, mas também as vistas sobre o oceano, a natureza, a gastronomia, os museus e experiências de aventura para viver na extremidade sul de Portugal e da Europa.

Alcoutim. Terra de Fronteira. O Algarve Natural. São os slogans do Município de Alcoutim para promover esta singela vila nas margens do Guadiana. Tal como José Saramago, o nosso Nobel da Literatura (1998), esteve nestas paragens, em 1980, no âmbito da sua Viagem a Portugal. Deixo-me surpreender pela singularidade do casario branco de Salúncar do Guadiana e do seu “Guerreiro de Pedra” – o Castillo de San Marcos – que domina a paisagem em redor. Esta pequena urbe nasceu da necessidade do controlo e vigilância do transporte de bens alimentares (trigo, azeite e mel) e de minério (ouro, prata e cobre), através do rio Guadiana, pelas  ocupações humanas sucessivas que a usavam na transição entre as rotas comerciais do Mediterrâneo e do Atlântico.

Vista parcial do Castelo de Alcoutim
Vista parcial do Castelo de Alcoutim Vista parcial do Castelo de Alcoutim créditos: OLIRAF
Vista parcial da vila de Salúncar do Guadiana (Huelva, Andaluzia)
Vista parcial da vila de Salúncar do Guadiana (Huelva, Andaluzia) Vista parcial da vila de Salúncar do Guadiana (Huelva, Andaluzia) créditos: OLIRAF

Depois de fotografar as vistas (e que vistas), dirigi-me para a experiência do slide fronteiriço agendada para a parte de manhã, com a limitezero do inglês David Jarman, radicado à treze anos nesta zona da raia luso-espanhola. Contacto com o responsável da empresa de animação turística Fun River, que me informa que o seu funcionário estava em Espanha e que me iria buscar dentro de momentos. A única ligação entre margens no rio Guadiana entre Alcoutim (Algarve) e Salúncar do Guadiana (Andaluzia) é efetuada por esta empresa. A aventura estava prestes a começar. E a adrenalina a aumentar…

Depois de uma aventura 4×4 num Land Rover chegamos até ao local do slide, onde avistamos a beleza de Salúncar do Guadiana. Do topo, a cerca de 180 metros, temos uma bela vista aérea sobre Alcoutim e o rio Guadiana.

De facto, viajar é descobrir-nos. E, claro, soltar o nosso outro eu. No meu caso, o sentido pela aventura. Já tinha saudades de fazer slide. Nem parece que vamos a 80 km/h. Em menos de um minuto estamos em Portugal. E o medo? Esse ficou para segundo plano.

E qual a razão? Há sempre uma, certo? A paisagem arrebatadora entre Salúncar do Guadiana e Alcoutim - as duas vilas gémeas do rio Guadiana -, como afirmou José Saramago.

A “Tirolesa” que faz a travessia entre a Andaluzia e o Algarve. Só para os mais aventureiros!
A “Tirolesa” que faz a travessia entre a Andaluzia e o Algarve. Só para os mais aventureiros! créditos: OLIRAF

A cerca de um 1 km para Norte da atual vila de Alcoutim, deparamo-nos com uma das melhores vistas do Algarve sobre o rio Guadiana. Aqui, podemos contemplar as três tipos de paisagem algarvia: o litoral, o barrocal e a serra. Do topo do castelo velho de Alcoutim – antigo Alcácer fortificado – do período Omíada (713-1031), edificado com as pedras com maior abundância na região:o xisto e o grauvaque.

As suas origens remontam ao século IX, segundo escavações arqueológicas recentes, e é uma das mais importantes estruturas militares islâmicas do Gharb-Al Andaluz. Como se sabe, o domínio muçulmano na Península Ibérica começa a ser ameaçado pela pressão da reconquista cristã, daí a necessidade de criar uma rede de fortificações de vigilância do território. É o caso do Castelo Velho de Alcoutim. Em virtude do seu difícil acesso (utilizado com funções de vigilância e de apoio à mineração), esta estrutura foi abandonada na época dos Almóadas e deu lugar ao atual Castelo Medieval de Alcoutim no século XIV. A partir daqui, a população foi fixando-se junto ao leito do rio Guadiana.

A pitoresca vila de Alcoutim, do topo do Castillo de San Marcos
A pitoresca vila de Alcoutim, do topo do Castillo de San Marcos A pitoresca vila de Alcoutim, do topo do Castillo de San Marcos créditos: OLIRAF

Aqui, poderá encontrar um clima mediterrânico e um património edificado e natural genuíno. As praias fluviais – Pego Fundo – e o barrocal são um convite para (e por) desvendar o castiço Algarve Natural. Para mim, visitar o Algarve das Pontas é reencontra-me.

Um pouco de história

Os Omíadas foram uma Dinastia Islâmica a implementar o sistema hereditário do califado, após a morte do profeta Maomé. Eram oriundos da mesmo clã do profeta, a tribo dos Coraixitas, oriunda da cidade de Medina na Península Arábica. Daqui, transferiram a seu do seu poder para Damasco, na atual Síria. O califado Omíada de Damasco (661-750) expande a sua influência religiosa, cultural e militar para o Norte de África (Magrebe) e para a Península Ibérica (Al-Andalus), conquistada na primeira metade século VIII, sendo administrados pelo Emir de Cairuão (Tunisía), sob dependência directa do poder califal da Damasco. Em 750, os Abássidas assassinam a Dinastia Omíada, à excepção do Abderramão I que foge para a capital do Al-Andalus. Este, em 756,  funda o Emirato Omíada de Córdova (756-929), independente do poder califal abássida de Bagdad. O apogeu do poder omíada no Al-Andalus dá-se entre 929 e 1031, com a fundação do Califado Omíada de Córdova, em 929, por Abderramão III (891-961).

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Artigo originalmente publicado no blogue OLIRAF