As viagens frequentes de comboio até 300 quilómetros são gratuitas em Espanha até ao final do ano, com o objetivo de aliviar o crescente custo de vida causado pela escalada da inflação. Na quinta-feira passada, dia do lançamento dos novos títulos de transporte que concedem o desconto, a grande procura do público causou longas filas de espera e queixas de falta de organização.

“Hoje mesmo passei por um dos gabinetes de apoio ao cliente na estação de Atocha e havia uma grande fila de espera”, conta Sandra García, administrativa a trabalhar em Madrid. “Penso que o processo não foi explicado corretamente, sobretudo aos funcionários que tratam da venda ao público e estão encarregues de aplicar o desconto”, explica, por escrito, ao SAPO Viagens.

A Renfe, a transportadora pública dos caminhos-de-ferro espanhóis, criou um título de transporte específico para cada centro urbano que oferece viagens ilimitadas entre qualquer origem e destino até 31 de dezembro de 2022. Qualquer um pode beneficiar da gratuidade, até turistas, mas há um asterisco: os utentes precisam de pagar uma fiança de 10 euros no momento da compra, que só lhes é devolvida após realizarem 16 viagens durante os quatro meses de validade da iniciativa.

Acontece o mesmo nos serviços ferroviários de média distância, onde a fiança custa 20 euros e há mais uma condição para viajar “à borla”: no momento da aquisição do passe especial, o utente tem de escolher as duas estações (partida e chegada) entre as quais pretende viajar.

Ou seja, a gratuidade nos transportes públicos foi pensada para aliviar o peso económico das deslocações frequentes entre casa e trabalho. Viagens suburbanas ou regionais feitas a título ocasional continuam a sair mais baratas do que adquirir um cartão de viagens bonificado. Mesmo nos comboios de alta velocidade, onde alguns serviços dão direito a descontos de 50% em viagens inferiores a 100 minutos, o benefício só compensa com deslocações frequentes.

Na quinta-feira, mais de 400 mil novos títulos de transporte já tinham sido ativados, segundo o governo espanhol. Sandra não é uma das beneficiadas, todavia, devido à forma como a Comunidade de Madrid decidiu implementar os fundos concedidos pelo governo central para custear a medida.

“Se tivessem decidido aplicar o desconto no passe anual, no meu caso, pouparia aproximadamente 200€ durante os quatro meses”, lamenta. A sua mãe, por outro lado, já adquiriu o passe mensal para viajar por Madrid, e pagou 51€, ao invés dos habituais 82€.

“Ela conseguiu o desconto numa tabacaria, já que nos quiosques não sabiam como funcionava e não pareciam bem informados”, acrescenta Sandra. “Tenho amigos que tentaram fazer o passe mensal nas máquinas do metro, mas não tinham atualizado ainda o preço, pelo que continuavam a cobrar o preço antigo”, conta.

Fotografia: flickr/somkuti