Depois de dois carnavais marcados pela covid-19, o Rio recupera seu "carnaval pleno" e dispõe-se a celebrar "a vida e a democracia", disse nesta sexta-feira o prefeito Eduardo Paes ao entregar simbolicamente as chaves da cidade ao "Rei Momo", ritual que dá início oficial aos festejos.

O Carnaval foi suspenso em 2021 devido ao coronavírus. Em 2022, aconteceu fora de época, em abril, apenas com os desfiles no Sambódromo, sem os blocos de rua.

Enquanto centenas de blocos animam as ruas desde a semana passada, as escolas finalizam os detalhes dos desfiles no Sambódromo.

"A gente sempre dá o nosso melhor. Não temos horário, vida social, trabalhamos até a madrugada. Tudo para ver a alegria do folião no dia do carnaval", diz o aderecista da Viradouro Rogério Sampaio, de 54 anos, um dos muitos integrantes da escola de samba que passaram os últimos meses confecionando fantasias no barracão da Cidade do Samba, localizada no Centro do Rio.

A Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) espera um público de 100 mil pessoas por noite no Sambódromo, a contar com os mais de 70 mil espetadores que cabem no local e os integrantes das 12 escolas.

Além de ser o primeiro carnaval sem restrições sanitárias, será o primeiro desde que Lula voltou à Presidência, após derrotar Jair Bolsonaro, um crítico da festa.

Carnaval do Rio
Rei Momo créditos: AFP

"Luz" depois das "trevas"

Com fantasias rebuscadas, carros alegóricos deslumbrantes e um espetáculo de música e dança, as escolas, que nasceram nas comunidades do Rio, contam diferentes histórias. Nos últimos anos, denunciaram de forma mais ou menos explícita o governo Bolsonaro, criticado por ter enfraquecido os direitos das minorias.

Nos desfiles deste ano, que começaram a ser preparados no início do ano passado, as agremiações voltarão a abordar temas sociais e políticos, como as raízes africanas do Brasil, os personagens emblemáticos do samba e as tradições culturais do Nordeste.

"O Carnaval é um espelho do Brasil em diálogo com a cultura popular", disse à revista Veja Leandro Vieira, carnavalesco da Imperatriz Leopoldinense. "É um momento em que o Brasil, seja na cultura popular ou no campo político, precisa reafirmar aquilo que possui de melhor. Não é coincidência, é a luz depois das trevas".

A Imperatriz falará sobre Lampião, considerado um herói por alguns e um mero bandido por outros. Já a Mangueira irá homenagear o estado da Bahia e as suas raízes africanas.

A verde e rosa contará, entre os mais de 3.000 componentes, com a nova ministra da Cultura, a cantora Margareth Menezes. Ao menos duas outras escolas irão levar para o sambódromo culturas do Nordeste, como Mocidade e Tuiuti.

A Grande Rio, campeã de 2022, irá homenagear o cantor Zeca Pagodinho, ícone do samba e da cultura carioca de música, cerveja gelada e amizades. Já a tradicional Portela celebrará seu centenário com um enredo sobre sua própria história.

O Salgueiro irá lembrar o carnavalesco Joãosinho Trinta, que modernizou os desfiles cariocas no fim dos anos 1980 ao introduzir carros alegóricos ostensivos e outras propostas ousadas.

Milhões para a economia local

Além de sua habitual crítica social, "a Sapucaí neste ano é uma grande expressão de alegria, de vida e das conquistas, pelas situações que passaram", disse à AFP Adair Rocha, diretor do Departamento de Cultura da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

A prefeitura estima que o Carnaval, incluindo o Sambódromo e a festa nas ruas, irá movimentar este ano R$ 4,5 mil milhões na economia local, incluindo uma expectativa de ocupação hoteleira de mais de 95%.

No carnaval de rua, está prevista a participação de 5 milhões de pessoas, para o que a Prefeitura instalou 34 mil WCs públicos em toda a cidade.

O serviço de limpeza pública recolhe a cada ano cerca de mil toneladas de lixo nos dias do Carnaval.