O presidente da Câmara Municipal de Mação (Santarém) afirmou hoje que foi com tristeza que constatou no local o elevado grau de destruição dos passadiços de Ortiga, inaugurados este ano à beira Tejo, por força da corrente das águas.
“Efetivamente é uma situação triste o que aconteceu e os passadiços da Ortiga estão, não diria todos destruídos, mas em grande parte com alguma destruição”, disse à Lusa Vasco Estrela (PSD), tendo referido que se deslocou à zona ribeirinha, onde constatou que “algumas partes ainda estão no local e que muitas outras foram levadas pela corrente”.
No entanto, observou o autarca, a esta altura ainda não é possível ter uma “perceção total dos estragos” causados pela força das águas, uma vez que “o caudal do rio ainda está bastante elevado”, sendo de “dar mais alguns dias para se ter uma perceção mais fina daquilo que aconteceu, do nível de estragos e daquilo que eventualmente possa ou não ser feito, recuperado ou não recuperado, e para uma avaliação concreta dos prejuízos e da destruição que ali ocorreu”.
A construção dos passadiços, num percurso ribeirinho com cerca de 1.300 metros integrado nas Rotas das Pesqueiras e Lagoas do Tejo, representou um investimento na ordem dos 300 mil euros, comparticipado por fundos comunitários em 85%, tendo os mesmos sido inaugurados em fevereiro deste ano.
O SAPO Viagens percorreu a estrutura em junho, e pôde constatar como o curso do rio Tejo seguia "tranquilo" junto aos passadiços, por ser "domesticado pela barragem de Belver".
O percurso, junto ao antigo Bairro dos Pescadores de Ortiga, faz-se ao longo do Tejo, entre passadiços em madeira e trilhos pedestres, e em que o rio é o fio condutor de uma visita com direito a miradouro sobre o curso de água e sobre as mais de 20 pesqueiras tradicionais e de ligação às Lagoas do Tejo, tendo o projeto revitalizado uma zona de forte valor cultural, histórico e patrimonial.
“Estamos a falar de uma destruição grande e, efetivamente, com prejuízos avultados”, disse Vasco Estrela, tendo lamentado o ocorrido num projeto “estruturante” e que “estava a ter sucesso pelo número de pessoas que iam visitar aquele local”, num investimento que visava “devolver o rio às pessoas”.
Tendo reiterado a “imensa pena” e “tristeza” por aquilo que aconteceu, o autarca disse estar “ciente dos riscos” da construção, mas que nunca se contava com um cenário desta violência.
“Havia a possibilidade de haver cheias, como houve no passado, mas nunca pensámos que pudessem ser com esta violência e também não podemos descontextualizar aquilo que aconteceu aqui em Mação e o que aconteceu no resto do país, uma situação por muitos referida de perfeitamente anormal e que conduziram a este desfecho”, afirmou.
“Há sempre risco nestes tipos de projetos, infelizmente, as coisas correram mal para o concelho de Mação”, lamentou.
Os caudais lançados no Tejo baixaram hoje, mas, segundo a Proteção Civil, os níveis hidrométricos do rio vão continuar a subir até às 18:00 a jusante de Almourol, cuja estação registou um pico de 3.637 m3/s às 07:00.
Em comunicado, o Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Santarém afirma que a diminuição dos caudais lançados pelas barragens “já se reflete a montante do Almourol”, mas, a jusante, as águas no Tejo vão continuar a subir ao longo do dia, “prevendo-se uma descida a partir das 18:00".
Contudo, o CDOS de Santarém adverte que os “avisos meteorológicos para o dia de hoje, para precipitação”, tornam “expectável um agravamento dos caudais com consequente influência na previsão anterior”.
Na terça-feira de manhã, a Comissão Distrital de Proteção Civil de Santarém acionou o Plano Especial de Emergência para Cheias na Bacia do Tejo, no nível Amarelo, devido ao “aumento considerável dos níveis hidrométricos e caudais do rio Tejo, especialmente nos provenientes de Espanha”.
A chuva intensa e persistente que caiu na terça-feira causou mais de 3.000 ocorrências, entre alagamentos, inundações, quedas de árvores e cortes de estradas, afetando sobretudo os distritos de Lisboa, Setúbal, Portalegre e Santarém.
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