A Sagrada Família, as Ramblas, o Parque Güell... e também as aglomerações, o barulho e o preço inacessível da habitação. Barcelona atrai todos os anos milhões de turistas para satisfação de um importante setor na cidade, mas que preocupa os moradores, que pedem limites.

Com 170.000 visitantes em média por dia, segundo estimativas locais, o turismo representa cerca de 13,5% do PIB da cidade, mas também é o terceiro problema que mais preocupa os seus 1,6 milhões de habitantes, de acordo com uma recente sondagem.

"Em Barcelona (...) há uma dependência excessiva do setor turístico", opina Daniel Pardo, membro da Assembleia de Bairros para o Decrescimento Turístico, que lamenta que após a pandemia viveu um "processo de turistificação muitíssimo mais rápido e agressivo".

Protestos em Barcelona contra o turismo de massas
Protestos em Barcelona contra o turismo de massas Um manifestante segura uma faixa que diz "O teu AirBnB aumenta a minha renda" durante uma manifestação contra a Taça América, no centro de Barcelona, em 13 de outubro de 2024 créditos: AFP/Josep Lago

Nos últimos meses, voltou-se a ver a cidade pintada de "Tourists go home" ou protestos contra o turismo em massa, assim como em outros locais da Espanha, país que é o segundo destino turístico mundial, atrás da França, e que, no ano passado, recebeu 85,1 milhões de visitantes estrangeiros.

Os de Barcelona deram a volta ao mundo pelas imagens de manifestantes a apontarem pistolas de água na direção de visitantes atónitos. Estas ações foram rapidamente condenadas pelas autoridades e empresários, preocupados com um possível surto de "turismofobia".

"Violência é que te expulsem do teu bairro, a exploração laboral extrema, na qual mesmo que possas ficar no teu bairro, vês como o que te rodeia vai desaparecendo aos poucos", rebate Pardo, que considera "anedóticas" as polémicas imagens.

Protesto em Barcelona contra o turismo de massas
Protesto em Barcelona contra o turismo de massas Manifestantes seguram uma faixa com as frases "Taça América nunca mais” durante uma manifestação contra o evento no centro de Barcelona, em 13 de outubro de 2024 créditos: AFP/Josep Lago

No domingo, 2.000 pessoas manifestaram-se contra a Taça América de vela, que disputa por estes dias a sua final em Barcelona, em sinal de rejeição do atual modelo económico de cidade.

"Descontrolada"

Envolvidos numa batalha legal contra a intenção do proprietário de converter 120 apartamentos em alojamentos turísticos, os inquilinos de um edifício junto à principal estação de comboios da cidade estão a lutar contra esta expulsão, que, segundo eles, está a afetar a população local.

Mais de 30 apartamentos foram transferidos para essa atividade, enquanto se decide o futuro dos restantes.

"Tivemos casos de turistas que vomitaram em cima de uma varanda. Problemas de barulho, porque fazem festas, cheiro a marijuana", explica Pamela Battigambe, que vive aqui há anos e teme ver-se forçada a deixar a cidade onde os alugueres subiram 68% na última década.

"Não somos contra ao turismo em si. Somos contra esta forma de turismo descontrolada. Não é viável", acrescenta.

Numa tentativa de aplacar a crescente preocupação, o autarca de Barcelona, o socialista Jaume Collboni, anunciou em junho a sua intenção de acabar com os 10.000 apartamentos turísticos que funcionam na cidade até ao final de 2028.

A associação de proprietários da Apartur, indignada com o que considera uma “expropriação disfarçada”, já anunciou reivindicações de pelo menos mil milhões de euros se a medida for levada adiante.

Na autarquia, no entanto, reiteram a sua intenção de se manter firme no seu propósito de gerir a oferta turística, perante uma procura que não parece parar.

“Acima de 13,5% [do PIB municipal], o turismo provavelmente não contribui mais com valor, então temos que encontrar estratégias diferentes”, explica Jordi Valls, responsável pelo pelouro da habitação, que defende medidas regulatórias como a negociação realizada para reduzir os terminais de cruzeiros, além de "tentar desenvolver outras atividades económicas".