Este museu regional é mais conhecido pelo espólio associado à identidade do Nordeste Transmontano e recolhido pelo fundador, o Abade de Baçal, mas tem patente e, sobretudo, nas reservas obras de diversas temáticas e autores, algumas das quais desconhecidas e a precisar de restauro.
A direção do museu decidiu avançar com o projeto “Restaurar o património, preservar a memória”, de sensibilização para este espólio escondido e angariação de fundos, que será apresentado, no sábado, com a abertura da exposição com algumas obras que estão nas reservas há muito tempo, “são verdadeiros tesouros”, mas que estão em mau estado.
O diretor do museu, Jorge da Costa, é o curador da exposição, junto com Georgina Pessoa, e explicou à Lusa que “o objetivo desta exposição é mostrar esse conjunto de tesouros e alertar para a necessidade de, através de uma campanha de doações, do público, das empresas, de quem queira participar como mecenas deste projeto, ajudar a angariar dinheiro para fazer o restauro destas obras”.
Para esta mostra foram escolhidas 25 peças que estarão patentes no espaço cultural até meados de abril, mas o projeto terá continuidade na página oficial do museu na Internet, onde o público poderá acompanhar o processo.
Segundo o diretor, “a exposição mostra o lado eclético do museu, com peças de pintura, escultura, desenho, mobiliário, documentos, e o propósito é que, através da campanha de restauro, essas obras possam voltar, algumas delas, à coleção permanente”.
“A mais importante, e aquela que nos mereceu mais a nossa atenção, é um retábulo do século XVI, que desconhecemos a proveniência, mas que provavelmente é muito próxima da Escola de Grão Vasco. É uma obra que está muito danificada, mas que com o restauro, ela voltará a ter uma boa leitura e pode ser apreciada pelo visitante da melhor forma”, contou.
A estimativa é de que serão necessários mais de dez mil euros para restaurar esta obra, enquanto as outras necessitarão de quantias inferiores.
O projeto é encarado também como “um motivo para investir no estudo das obras”.
A exposição que dá início ao projeto mostra, entre outras, obras de Domingos Sequeira, do pintor Metrass ou uma escultura da Sra. da Serra do século XIV, considerada “uma verdadeira relíquia para esta região”, pois trata-se da santa que ainda motiva uma das peregrinações anuais mais emblemática da região de Bragança.
Esta será a primeira vez que o museu de Bragança recorre ao mecenato para este fim, seguindo o exemplo de outros museus, como já aconteceu com o Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa, ou o Museu de Lamego.
“O Museu Abade de Baçal é desta região, deste território, nós no fundo, também estamos a apelar à importância deste património que é a nossa história, que é a nossa memória e que, se não o preservamos ele vai-se perder para as gerações futuras”, considerou o diretor.
Segundo Jorge da Costa, das centenas de peças que se encontram nas reservas, “há muitas a precisarem de restauro”.
Uma boa parte do acervo é herança do fundador, o Abade de Baçal, mas também de outro diretor, Raul Teixeira, considerado a “alma artística deste museu”.
O Museu do Abade de Baçal tem coleções desde a proto-história à Arte Contemporânea e vários temas são abordados, desde epigrafia, numismática, pintura, escultura, arte sacra, paramentaria ou mobiliário.
“E temos muitas obras que são uma curiosidade, por exemplo temos uma coleção de moedas de todas as dinastias”, indicou.
O museu tem esta escala regional, mas também nacional, e o diretor deu o exemplo “do núcleo do naturalismo que é comparável às coleções de alguns museus, como o Soares dos Reis ou do Chiado, que têm os mesmos autores”.
O Abade de Baçal tem também uma coleção de Almada Negreiros, que já foi exposta em Espanha.
“É por isso que este museu está cheio de tesouros, muitos deles ainda desconhecidos”, enfatizou o diretor, que tem ainda como objetivo reanimar a Associação dos Amigos do Abade de Baçal, que contribuiu para este acervo.
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