Bilhete-postal por Gonçalo Santos

É uma bênção gostar-se apaixonadamente das coisas e o FIMM – Festival Internacional de Música de Marvão, de que gosto entusiasticamente, é igualmente uma bênção, até porque resulta duma história de amor.

Há nove anos atrás, um casal de músicos de renome mundial, ele alemão (Christoph Poppen), ela suíça (Juliane Banse), apaixona-se por este magnífico interior de Portugal e decidem partilhar e dar a conhecer Marvão aos seus amigos músicos, espalhados pelo mundo, e, em troca, partilhar e darem a conhecer a sua música aos marvanenses, que dádiva tão grande.

A isto juntou-se certamente o empenho das pessoas locais e nasceu este festival mágico, onde durante 10 dias passaram mais de 500 músicos a dar-nos ouvir, sobretudo, música clássica e lírica, mas também outras músicas do mundo como fado, jazz, grupos corais ou flamenco.

Os espetáculos também acontecem em Castelo de Vide, Portalegre e Valência de Alcântara (Espanha), mas sobretudo nos lugares bonitos de Marvão, desde igrejas até ao interior do castelo, passando pelos jardins, pátios e até pelo interior da própria cisterna.

Dos 35 concertos apenas pude assistir a três, mas foi absolutamente memorável ter tido o privilégio de assistir à gala de encerramento, com a Sinfonietta de Hong Kong, vários instrumentistas solistas e cantores líricos convidados, no ambiente mágico das muralhas do castelo ao pôr-do-sol, e, qual cereja no topo do bolo, poder ouvir ao vivo um autêntico prodígio de 16 anos, uma menina violinista chamada Leia Zhu, um pequeno génio que nos arrebatou a todos de espanto e admiração.

No final, aquela estrondosa e demoradíssima ovação, de palmas, bravos e gritos, foi o público a agradecer duma forma muito sentida o sonho realizado de Poppen e Banse, que quando trocam um beijo de emoção nos deixam a todos felizes e orgulhosos, felizes por haver quem goste apaixonadamente das coisas e se empenhe em fazerem sonhos acontecer, e orgulhosos do nosso belíssimo interior de Portugal e do nosso Marvão em particular.

Pró ano há mais.

O Gonçalo descreve-se assim: "nascido no Baixo Vouga, tem no Beco o centro do seu mundo e na Praia da Barra o seu happy place, mas é para o seu Alentejo que corre sempre que pode – há lá melhor que a força do campo, a energia das árvores ou o silêncio do rio?"