É no coração do Dão, no concelho de Nelas, na aldeia de Vilar Seco que começa a nossa viagem ao sabor do queijo.

Estátua do Cristo Rei
Estátua do Cristo Rei A estátua do Cristo Rei oferece-nos belas vistas para a aldeia. créditos: Ana Oliveira

Vamos à Quinta da Estaca, onde tomaremos contacto com as estrelas da produção do Queijo da Serra da Estrela: as ovelhas de raça Bordaleira Serra da Estrela, que se distinguem das outras por causa das cabeças compridas sem pelo e dos chifres em espiral em ambos os sexos.

ovelhas bordaleiras na Quinta da Estaca
ovelhas bordaleiras na Quinta da Estaca Ovelhas bordaleiras e borregos na Quinta da Estaca. créditos: Ana Oliveira

A Rota Turística e Gastronómica dos Queijos do Centro de Portugal tem como produto âncora o Queijo Serra da Estrela DOP, Queijo da Beira Baixa DOP e Queijo Rabaçal DOP.

Num total de 46 agentes, a rota propõe mais de 50 experiências8 roteiros pelas três regiões DOP.

Acompanhados por Aurélio Pinto e Leandra Ricardo, conhecidos por parte dos portugueses por causa da participação no programa televisivo “Quem quer Casar com o Agricultor” – onde se conheceram –, visitámos as ovelhas da quinta e tivemos a oportunidade de carregar alguns dos 70 borregos nascidos em meados de agosto. Estávamos em setembro.

No total, a quinta conta com cerca de 200 ovelhas de raça bordaleira e, a partir de meados de outubro, que é quando se inicia o alavão (época de produção do queijo da ovelha, que se segue à parição) é possível assistir à ordenha e fazer Queijo Serra da Estrela sob supervisão do queijeiro.

Aurélio Pinto e Leandra Ricardo
Aurélio Pinto e Leandra Ricardo Enquanto que Aurélio Pinto foca-se na parte da produção, Leandra Ricardo organiza as visitas turísticas à quinta. créditos: Ana Oliveira

A ordenha cativa os mais novos mas, segundo Leandro, “são os adultos que mais se divertem”.

Ainda que a curiosidade nos faça desejar visitar a Quinta durante a época da ordenha e da produção, a Estaca proporciona diferentes experiências ao longo do ano e é flexível ao adaptá-las à vontade de quem a visita.

Quinta da Estaca
Quinta da Estaca Fora da época de produção dos queijos, os visitantes podem assistir a um vídeo que mostra o processo de produção do queijo. créditos: Ana Oliveira

Qualquer experiência pode ser complementada com a degustação dos queijos da casa acompanhados com broa de milho, pão-de-ló, doces e mel, vinho do Dão ou, como alternativa, sumo natural de laranja.

Quinta da Estaca
Quinta da Estaca Mesa de degustação da Quinta da Estaca. créditos: Ana Oliveira

E se falamos do queijo da Serra da Estrela é obrigatório passar na sua capital: Celorico da Beira. Seguindo a Rota Turística e Gastronómica dos Queijos do Centro de Portugal, descobrimos, na Aldeia de Linhares da Beira, o restaurante Cova da Loba.

cova da loba
cova da loba Para entrada, a sugestão dopassa por figos (fruta da época) com queijo da serra em duas texturas: mole e curado. créditos: Ana Oliveira

A Cova da Loba tem um menu especialmente criado para quem segue a Rota do Queijos do Centro que começa com a entrada dos queijos da Serra e tem como prato principal "lombinho de novilho com creme de queijo". A refeição termina com um folhado de requeijão com doce de abóbora.

 Lombinho de novilho com creme de queijo
Lombinho de novilho com creme de queijo Lombinho de novilho com creme de queijo créditos: Ana Oliveira

Ainda que o queijo seja a razão da visita, vale a pena visitar o Castelo de Linhares, que não passa despercebido do alto seus 800 metros de altitude. A aldeia, cujas origens remontam ao tempo dos romanos, oferece mais atrações que pode descobrir aqui para planear a sua visita.

Castelo de Linhares
Castelo de Linhares Castelo de Linhares créditos: Ana Oliveira

Novas portas são abertas a propósito das ovelhas bordaleiras. Essenciais para a produção do queijo, também permitiram à Serra criar um tecido único, o burel, séculos atrás (XI).

O burel, que quase caiu no esquecimento, vestiu e aqueceu pastores desta região, tendo chegado a ser usado como traje de luto real na Idade Média. Podemos ficar a saber mais sobre a história e a importância deste tecido rústico e áspero em Manteigas, na Burel Factory, que não só está aberta a visitas como, tal como a Ecolã, deu nova vida e uso a este tecido.

Burel Factory
Burel Factory A Burel Factory reinventou a forma de utilizar o burel apostando também em novas cores. créditos: Ana Oliveira

Recuperar, dar nova vida sem esquecer o passado e a tradição, são ingredientes que dão mais sabor a esta rota. Assim, e seguindo a temática do burel, jantámos na Casa de São Lourenço - Burel Panorama Hotel, onde provámos o menu dedicado à rota dos queijos.

Casa de São Lourenço - Burel Panorama Hotel
Casa de São Lourenço - Burel Panorama Hotel O restaurante oferece uma vista e esplanda incrível. créditos: Ana Oliveira

“O nosso caminho é recuperar, manter a tradição que quase se perdeu”, explica o Chef Manuel Figueira cujos pratos resultam de reinterpretações de receitas ancestrais da região das Beiras.

Cada garfada faz-nos viajar entre o presente e o passado, pois queremos entender as combinações como, por exemplo, do “Estaladiço de figo com queijo da Serra da Estrela DOP, nozes e mel regional” e da “Feijoca de Manteigas com bacalhau de cura tradicional, ervas frescas e arroz frito com piso de coentros”.

Feijoca de Manteigas com bacalhau de cura tradicional, ervas frescas e arroz frito com piso de coentrosâ créditos: Ana Oliveira

Se por um lado os pratos trazem novidade, por outro, partem dos sabores serranos mais tradicionais e dos produtos da época.

É no Hotel da Fábrica, onde entre 1925 e 2012 funcionou a Ecolã, que terminamos o dia. Totalmente renovado, homenageia a antiga fábrica através de apontamentos de burel nos quartos e ao aproveitar alguns dos seus antigos objetos para decorar o espaço.

* O SAPO visitou a região Centro a convite da InovCluster