
É no coração do Dão, no concelho de Nelas, na aldeia de Vilar Seco que começa a nossa viagem ao sabor do queijo.

Vamos à Quinta da Estaca, onde tomaremos contacto com as estrelas da produção do Queijo da Serra da Estrela: as ovelhas de raça Bordaleira Serra da Estrela, que se distinguem das outras por causa das cabeças compridas sem pelo e dos chifres em espiral em ambos os sexos.

Acompanhados por Aurélio Pinto e Leandra Ricardo, conhecidos por parte dos portugueses por causa da participação no programa televisivo “Quem quer Casar com o Agricultor” – onde se conheceram –, visitámos as ovelhas da quinta e tivemos a oportunidade de carregar alguns dos 70 borregos nascidos em meados de agosto. Estávamos em setembro.
No total, a quinta conta com cerca de 200 ovelhas de raça bordaleira e, a partir de meados de outubro, que é quando se inicia o alavão (época de produção do queijo da ovelha, que se segue à parição) é possível assistir à ordenha e fazer Queijo Serra da Estrela sob supervisão do queijeiro.

A ordenha cativa os mais novos mas, segundo Leandro, “são os adultos que mais se divertem”.
Ainda que a curiosidade nos faça desejar visitar a Quinta durante a época da ordenha e da produção, a Estaca proporciona diferentes experiências ao longo do ano e é flexível ao adaptá-las à vontade de quem a visita.

Qualquer experiência pode ser complementada com a degustação dos queijos da casa acompanhados com broa de milho, pão-de-ló, doces e mel, vinho do Dão ou, como alternativa, sumo natural de laranja.

E se falamos do queijo da Serra da Estrela é obrigatório passar na sua capital: Celorico da Beira. Seguindo a Rota Turística e Gastronómica dos Queijos do Centro de Portugal, descobrimos, na Aldeia de Linhares da Beira, o restaurante Cova da Loba.

A Cova da Loba tem um menu especialmente criado para quem segue a Rota do Queijos do Centro que começa com a entrada dos queijos da Serra e tem como prato principal "lombinho de novilho com creme de queijo". A refeição termina com um folhado de requeijão com doce de abóbora.

Ainda que o queijo seja a razão da visita, vale a pena visitar o Castelo de Linhares, que não passa despercebido do alto seus 800 metros de altitude. A aldeia, cujas origens remontam ao tempo dos romanos, oferece mais atrações que pode descobrir aqui para planear a sua visita.

Novas portas são abertas a propósito das ovelhas bordaleiras. Essenciais para a produção do queijo, também permitiram à Serra criar um tecido único, o burel, séculos atrás (XI).
O burel, que quase caiu no esquecimento, vestiu e aqueceu pastores desta região, tendo chegado a ser usado como traje de luto real na Idade Média. Podemos ficar a saber mais sobre a história e a importância deste tecido rústico e áspero em Manteigas, na Burel Factory, que não só está aberta a visitas como, tal como a Ecolã, deu nova vida e uso a este tecido.

Recuperar, dar nova vida sem esquecer o passado e a tradição, são ingredientes que dão mais sabor a esta rota. Assim, e seguindo a temática do burel, jantámos na Casa de São Lourenço - Burel Panorama Hotel, onde provámos o menu dedicado à rota dos queijos.

“O nosso caminho é recuperar, manter a tradição que quase se perdeu”, explica o Chef Manuel Figueira cujos pratos resultam de reinterpretações de receitas ancestrais da região das Beiras.
Cada garfada faz-nos viajar entre o presente e o passado, pois queremos entender as combinações como, por exemplo, do “Estaladiço de figo com queijo da Serra da Estrela DOP, nozes e mel regional” e da “Feijoca de Manteigas com bacalhau de cura tradicional, ervas frescas e arroz frito com piso de coentros”.

Se por um lado os pratos trazem novidade, por outro, partem dos sabores serranos mais tradicionais e dos produtos da época.
É no Hotel da Fábrica, onde entre 1925 e 2012 funcionou a Ecolã, que terminamos o dia. Totalmente renovado, homenageia a antiga fábrica através de apontamentos de burel nos quartos e ao aproveitar alguns dos seus antigos objetos para decorar o espaço.
* O SAPO visitou a região Centro a convite da InovCluster
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