Por Helena Simão, Starting Today
O novo “Eight - The Healthy Lounge” é muito mais do que um restaurante saudável, é uma espécie de viagem que pretende questionar as nossas rotinas e inspirar-nos a ter uma vida plena de saúde e bem-estar. Porque nesta sociedade que nos obriga a viver à pressa, sem tempo para comer bem ou até para respirar, há, e deve haver, espaço para as “coisas certas”. E, de acordo com o conceito do novo restaurante, que abriu portas a 1 de fevereiro na Praça da Figueira, em Lisboa, são apenas oito os princípios simples que podemos adotar. E não, não falamos só de comida.
Este “oito” começou a ser desenhado há muitos anos, quando um problema de saúde mudou a vida de uma família. Fora diagnosticado ao pai de Ruben Dias, proprietário do espaço em parceria com a mulher Nancy, um cancro no cérebro. O tratamento aconselhado era inevitavelmente a quimioterapia, mas não foi esse o caminho escolhido. Após uma cuidada investigação, a família optou por mudar de alimentação e o certo é que o cancro desapareceu. Com quase 80 anos, o pai de Ruben mantém uma vida saudável e, sobretudo, feliz.
O casal, que já não comia carne ou peixe, tornou-se vegan, uma mudança na alimentação que combina com um estilo de vida saudável. Graças à carreira profissional de Ruben, ambos viajam com frequência, sobretudo entre Inglaterra e Dubai, para além de Lisboa, e gostam de descobrir espaços como o que agora inauguraram em plena baixa da capital, conceito que pretendem replicar, em breve, nessas cidades.
O casal reside perto de Vancouver, no Canadá, e coube à irmã de Nancy, Lara Pereira da Silva, ficar à frente do restaurante, um projeto que agarrou “de corpo e alma” e que a “apaixona todos os dias”. Porque é assim que deve ser.
Voltamos aos oito princípios ou pilares que devem sustentar a nossa existência: beber água, respirar fundo, apanhar sol, comer alimentos integrais e vegetais, fazer exercício, dormir bem, confiar em Deus ou cuidar do nosso lado espiritual e manter o auto-controlo. Oito ideias fundamentais, que regem a vida desta família e que se encontram escritas num quadro em letras garrafais numa das paredes do restaurante. Oito pilares que, se forem seguidos, nos levam a querer viver mais com menos, que nos fazem sentir mais vivos e inspirados.
Além da comida, no rés-do-chão do edifício, encontramos vários produtos para venda, vegetarianos, como sabonetes, sacos, postais, canecas e almofadas. Na decoração, os responsáveis escolheram cores neutras e pastel, até porque “o que deve sobressair é a comida”, sublinha Lara. E tem razão. No prato, encontramos todas as cores do arco-íris. A ementa é variada e rica em opções leves, mas saciantes, todas vegan.
Para comer, há sopas, saladas, tostas, paninis e smoothies bowls. Acompanham com sumos, smoothies, chás e lattes, que são adoçados com puré de tâmara. Isto porque o açúcar não entra neste restaurante. Além disso, não são utilizados óleos, apenas o de coco, e é usado azeite para grelhar os legumes. O pão é feito com 90% de centeio e apenas 10% de trigo. Com exceção do pão, tudo o que é consumido é da casa, feito diariamente, já que os produtos não têm conservantes. Ao final do dia, as sobras são entregues à Refood, projeto humanitário que ajuda quem precisa.
Tudo é preparado no momento, depois de ter sido feito o pedido no rés-do-chão. Daí, passamos para o primeiro andar, onde podemos desfrutar da localização central na baixa lisboeta. Das janelas, conseguimos ver o Convento do Carmo. O espaço tem vários tipos de mesas com ambientes distintos para que nos sintamos confortáveis. Podemos inclusivamente trabalhar, ler ou ver filmes. Sem qualquer pressa. Outra opção é levar a comida. As caixas, as palhinhas e os guardanapos são reciclados e biodegradáveis.
A ementa é sazonal, de acordo com os alimentos que vão estando disponíveis. Para já, estão a fazer sucesso os shots, bebidas com concentrados de nutrientes, como o “Immune Booster“, de curcuma, gengibre, limão e ananás, que resolvi experimentar. É bastante intenso e para quem aprecia sabores fortes. É a bebida ideal para iniciar uma refeição nesta época do ano. O nosso corpo agradece.
Nos lattes, destaque para o “Vanilla Sky” com leite de amêndoa, tâmara, corante natural azul e baunilha, e para o “Yo Soy Latte”, preparado com leite de soja, chicória, cevada, centeio e tâmara. Para quem prefere smoothies, existem oito opções, como o “Spice and Everything Nice”, feito com banana, espinafres, canela, noz-moscada, gengibre, manteiga de amêndoa e leite de coco, e o “Black Diamond”, que leva carvão ativado, baunilha, leite de coco, banana e amoras. A lista de sumos tem também oito opções diferentes, assim como a lista de chás.
Para comer, há quatro saladas, como a “Veggie Statement, que leva alface, espinafres, pimento, tomate, pepino, quinoa, feijão frade e cenoura, e a “Crispy Croutons”, que leva alface, arroz integral, pepino, couve roxa e crouton de grão. Mas são as smoothie bowls que estão a fazer furor. Há a “Ceri Berry”, que leva morangos, framboesas e mirtilos, a “Black Diamond”, que leva carvão ativado, a “Blueberry Muffin” com mirtilos e banana, e a “Emerald Dream”, que tem cor verde, graças aos espinafres.
Dada a localização, cerca de 80% das pessoas que procuram o Eight são estrangeiros, mas, ao domingo, há muitos portugueses. E, segundo a responsável, os turistas que permanecem vários dias na cidade, regressam, sobretudo os que procuram opções vegan.
Depois do shot, optei pela sopa do dia, de lentilhas, decorada com sementes de abóbora e microgreens, que são produzidos no restaurante. Foi a escolha perfeita para um dia frio, enquanto o sol e a chuva iam surgindo de forma intermitente. O creme aveludado e o sabor equilibrado dos alimentos frescos lembram-nos que comer não é apenas uma necessidade básica, é também um prazer.
De seguida, experimentei a tosta “Cheese”, com microgreens, pepino e queijo cremoso de caju e endro. O resultado é uma combinação muito curiosa, mas que resulta. Enche sem pesar, satisfaz sem fartar. Acompanhei com um “Latte Feel the Beet”, que leva leite de coco, beterraba, canela, essência de laranja e tâmara. Uma ousada e exótica mistura que me convenceu.
A refeição não é apenas mais uma refeição. É um momento divertido, original, criativo, ousado, saciante, saboroso, relaxante e inesquecível. Resumimos a experiência a oito adjetivos, já que o “Eight” não nos sai mais da cabeça.
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