Conheci o Aura pouco depois da abertura, fui ao jantar de anos do meu amigo João Libério, e lembro que logo que entrei, pensei: “já quero voltar!”. A elegância das mesas com candeeiros altos, me chamou a atenção logo de primeira. Como é um dos restaurantes que mais gosto em Lisboa, resolvi partilhar com vocês todas as razões que me fazem retornar vezes e mais vezes durante estes cinco anos.
No comando, há mais de 30 anos, de uma das mais elegantes empresas de catering para eventos em Portugal, Carlos Medeiros juntou-se a Fabrice Marescaux para criar um conceito diferente, onde o bom gosto pudesse contar histórias através da visão, olfato e paladar. Pode-se pensar num universo de coincidências, mas prefiro acreditar que tudo coopera quando é para dar certo, e foi assim com eles. “Seis anos atrás, surgiu um anúncio no jornal para concorrer aos espaços da Praça do Comércio, e resolvemos tentar”, me conta Carlos. “Quando soubemos que a nossa proposta tinha sido aprovada, não queríamos acreditar”, diz Fabrice, de sorriso aberto.
A esplanada do Aura tem uma vista maravilhosa para a Praça e a Ribeira. E sabe bem ficar em modo “dolce fare niente” a beber um dos cocktails ao som da música ambiente. Recomendo o Lusitana, um aperitivo com vinho do Porto frio, irresistível! Doce e cítrico, e de alma lisboeta.
Tenho cá pra mim, que a entrada do restaurante deve ter sido um dos lugares mais deliciosos para se decorar. Uma mistura de peças e detalhes vintage, como o sofá em couro, as almofadas com imagens de como era a Praça do Comércio, no início do século passado; misturados a peças mais atuais, a champagneira francesa deve de ter sido ideia do Fabrice… hahaha… quando for lá pergunte, ok?
Mas é na sala principal, com espaço para cerca de 100 pessoas, que se encontra ao lado das portas da cozinha, uma grandiosa estátua da Deusa Vénus. É a cópia número um, da obra que se encontra no museu do Louvre, em Paris, e foi encontrada pelos sócios em um antiquário em Madrid. Carlos não pensou duas vezes, sabia que seria uma loucura mas, que qual é a graça de viver sem “enlocrescer” não é?! Há cinco anos que a sua casa é o Aura. “É a minha musa inspiradora”, refere Carlos.
Para onde olhamos há história. A arte da azulejaria portuguesa, que eu amo de paixão, encontra-se nas cadeiras, nas paredes, nas mesas. É uma casa portuguesa, com certeza! Hahaha… Mas Fabrice é mais carinhoso ao definir a alma do Aura: “É um bebé de 5 anos, mas com centenas de anos de História para contar!”.
Um almoço no Aura
Semanas atrás fui almoçar com amigos ao Aura e deixei a dieta à porta de casa. Para entrada, dois pratos que recomendo. As Amêijoas à Bulhão Pato são viciantes, basta provar a primeira e já foste! Suaves ao paladar, evaporam em minutos. A Alheira auriana à portuguesa, com ovo estrelado e grelos, tem sabor tuga, crocante por fora e super macia por dentro. O sabor é forte mas perfeito para começar uma refeição em dias mais frios.
A carta do Aura é assinada desde o início pelo Chef Duarte Mathias. Ele me contou que começou a cozinhar aos 15 anos e para a criação da ementa do restaurante, foi buscar inspirações nas receitas da sua avó. E isso é nítido, os emparamentos são lindíssimos e o sabor lembra a boa comida de casa. “São as comidas de sempre, mas com um toque especial”, diz.
A Asa de raia braseada com purê de batata, lagosta de alho-porro servido em um cesto de massa é o meu prato preferido. O meu conselho é que vá sem pressa e que ao provar o purê se demore, feche os olhos e imagine as batatas sendo amassadas e misturadas à lagosta. Pode ter a certeza que é uma experiência gastronómica dos deuses!
Para os amantes de peixe, há mais dois pratos soberbos. O Polvo Confitado em azeite e alecrim, com grelos salteados, pétalas de tomate e batatas negras, com tinta de choco é encorpado e tem o sabor do azeite saliente e o Pregado Assado com um esmagado de batatas, espinafres salteados com molho de vinho verde. O tempero de ambos traz saudades de algo… “dá cozinha honesta, de lembranças e novas histórias”, define o Chef Mathias.
Das carnes, a Vitela de leite grelhada, com couve tronchuda e broa de milho é uma fofa! Hahaha… foi a primeira coisa em que pensei quando vi o empratamento, tão bem compactado. A carne é tenra e o sabor da couve é sublime.
Esta foi a primeira vez que provei as sobremesas do Aura. A minha mania das dietas me proíbe cair em pecado.
O Pão-de-ló de Alfeizerão com mousse de queijo da serra amanteigado e compota de tomate caseira é uma mistura de sabores leves e fortes que casam na perfeição, em cada garfada. A compota de tomate é simplesmente deliciosa!
Falemos assuntos sérios, chocolate! Hahaha… gente, já desisti, sou absurdamente viciada em chocolate e não há cura, mas também não há problema! Provei a Trilogia de mousse, composta por chocolate negro, caramelo e laranja. OMG! Não me tirem isto da frente, quero ser feliz! A cremosidade é perfeita, um mix do chocolate forte, com um caramelo suave e a laranja bem acentuada.
Para finalizar, uma sobremesa que não me sai da cabeça desde a última vez lá fui. Deve ter sido paixão à primeira saboreada. O Aura Emotion, criado pela Pastry Chef, Fátima Vasconcelos, é a loucura! Três camadas de merengue de chocolate e entre elas, creme de avelãs com chocolate, chocolate branco e chocolate meio amargo. Uma explosão que merece ser saboreada, novamente, bem devagar. “Tentei trazer um pouco do “melhor bolo de chocolate do mundo” para a receita, e depois acrescentei cremes suaves para a dualidade combinar bem”, me explica a Chef enquanto tento manter a compostura e não abocanhar de uma só vez esta sobremesa que me deixou doida para voltar novamente! MA-RA-VI-LHO-SA!
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