Quem entra pela porta número 46 da Praça das Flores, em Lisboa, ingressa numa experiência que começa mesmo à entrada ao ficarmos de queixo caído. Entramos num espaço aconchegante e intimista e, ao mesmo tempo, futurista. O facto de ser todo acaltifado e em tons claros faz-nos querer tirar os sapatos para ficarmos mais confortáveis.

Entretanto, percebemos que pouco ou nada está ali ao acaso. Nem mesmo a apresentação dos colaboradores. O chef e barman Guilherme Profiro, que nos recebe, tem uma linha vermelha pintada no rosto a lembrar os povos indígenas do Brasil. No espelho da casa de banho, cujas paredes estão cobertas com motivos tribais a preto e a branco, também existe uma linha vermelha semelhante a do rosto de Guilherme. Sentimos que existe uma harmonia entre os elementos que constituem o espaço que, embora com funções diferentes, complementam-se, criando sinergias e proporcionado uma experiência sensorial e imersiva aos visitantes.

46 Lisboa: o “não lugar” da Praça das Flores que se define ao final de cada experiência
créditos: Ana Oliveira

Mas que lugar este?

Inspirado no conceito de “não-lugar" de Marc Augé, o 46 Lisboa começou por ser um lugar quase secreto. Diz-nos o chef e barman Guilherme Profiro que, entre equipa, costumam dizer que o club é filho da COVID-19. Tudo porque nasceu pouco antes do início da pandemia em Portugal. Sem grande divulgação no início – quem entrava era encorajado a não tirar fotografias e a não partilhar o espaço nas redes sociais –, o 46 resistiu aos dois confinamentos e às restrições que afetaram o setor da restauração e o de lazer. Hoje, o espaço já não se “esconde”. Para além de site oficial, tem também uma página de Instagram onde podemos acompanhar as suas novidades tanto a nível gastronómico como artístico e cultural.

O 46 Lisboa pode ser apresentado como um club que nos permite reunir com amigos, ouvir música, experimentar novos sabores, beber um cocktail, degustar um bom vinho ou comprar roupa e outras peças produzidas de forma sustentável. Existem várias possibilidades, porém, cada experiência é única, o que permite que o lugar seja o que cada visitante sentir e que se defina à luz de cada experiência. Portanto, não estranhe se alguém lhe recomendar o 46 para tomar um cocktail e outra pessoa para ouvir música ou para um jantar descontraído.

A proposta gastronómica do 46 Lisboa

Recentemente renovada, a carta gastronómica do 46 conduz-nos por uma viagem com paragens em diferentes partes do mundo. Podemos começar a viagem com a Burrata trufada (12 euros), com trufas, pesto, tomate cherry e azeite bio ou com a sopa de tomate com ovo escalfado e depois seguir para os Dumplings vegetarianos (12 euros).  Sem querer, estaríamos a viajar pelo mundo vegetariano, existindo outras opções como os raviolis Girasoli de Gongonzola e Pêra (12 euros) e ainda os vegan Tacos ChilliBeans (11 euros), com tzatziki, pickle de cebola roxa e feijão.

O menu também conta com Ostras com molho vinaigrette (4 un. 10 euros), Lombos de Peixe Braseados (10 euros), Hot Dogs (10 euros), Focaccia Romana (12 euros) e propostas menos convencionais como o Raclete de batata doce (13 euros) que utiliza cebola confitada, presunto pata negra e rabanete.

Dada a preocupação do club em ter um impacto consciente, a ementa é elaborada a partir de ingredientes biológicos de fornecedores locais.

Já na carta de bebidas há champagne, espumante, espirituosas, cocktails com e sem álcool, kombucha vegan,vinhos naturais e biológicos com castas únicas e ainda cerveja, envolvida numa manga de papel reciclado polvilhada com sementes de hortelã para levar para casa e semear.

Depois pode terminar a refeição com uma Panacotta com Frutos Vermelhos e, se ainda tiver espaço e for aventureiro, com um Shot de Chocolate com Chili e Whisky Japonês que, segundo o chef Guilherme, é “um abraço” da casa “bem quentinho”.

O outro lado do 46

Para além da carta recém-renovada, o 46 tem novidades como os 46xTakeovers, o 46x Social Club, o 46x Green Club, o 46x Social Food e o 46x Social Creators. Se o Takeover convida à ocupação do espaço por plataformas, pensadores, projetos e todos os sonhadores interessados, já o Social Club dá palco a músicos dos mais variados quadrantes, em formato de residência.

A carta branca estende-se também à cozinha, uma vez que o projeto comunitário de culinária Social Food convida clientes, conhecidos, curiosos e amantes da gastronomia a criar menus de degustação e a reunir os amigos à volta das sensações e dos sabores.

Ainda com a liberdade criativa como premissa, designers, artistas, artesãos e criadores de moda com consciência e impacto social, local e global, são os membros honrosos do Social Creators, sendo convidados a produzir obras que respeitem o pantone do bar, a fim de serem expostas no mesmo.

Por fim, Green Club integra a cultura plant-based com música, sendo a primeira interpretação em Lisboa da emergente vaga conscious clubbing. O Green Club terá lugar aos sábados de manhã, entre as 11h e as 15h, cruzando DJs e música ao vivo com comida vegetariana e vegan.

Em dias de sol, os visitantes podem viver a experiência no exterior. Até porque o espaço conta com apenas cerca de 20 lugares sentados. Assim, quem quiser, pode levar comida num tabuleiro e a música através de auscultadores com sistema bluetooth e instalar-se com almofadas num recanto do jardim da Praça das Flores.

Catarina Romano e Miguel Silva são os responsáveis pela criação deste espaço multifacetado e contaram com a colaboração de António Rosa, responsável por maquilhar todos os colaboradores do 46 Lisboa, Nuno Faria na seleção da carta de bebidas, Mike Stellar como curador musical, Rui Miguel Abreu no copywriting, e ainda Joana Cardoso e Sebastião Faro na direção de arte.

O 46 Lisboa promete não ficar por aqui. Na mira do futuro estão projetos para envolver mais a comunidade local e estimular práticas sustentáveis dentro da cidade como a criação de um centro de compostagem no jardim da Praça dasFlores.

O espaço está aberto de terça-feira a sexta-feira entre as 18h00 e as 23h00 e ao sábado entre as 11h00 e as 15h00 e as 18h00 e as 23h00.

*O SAPO Viagens visitou o 46 Lisboa a convite do espaço