De carro até ao Peso da Régua
A opção por ir de carro até à Régua foi pensada com pormenor. Queríamos adentrar o Douro Vinhateiro e deliciarmo-nos com as suas paisagens panorâmicas que foram classificadas, em 2001, como Património de Humanidade UNESCO. Uma comunhão perfeita da natureza com a ação humana. O que vemos? Socalcos de vinha que ladeiam o rio e que produzem um dos vinhos mais conhecidos do mundo. O vinho do Porto. E todos os outros vinhos do Douro que fazem furor em qualquer festa de Baco. Pare nos vários miradouros que vão aparecendo e aprecie esta vista única.
Chegando ao destino, visite a cidade ribeirinha da Régua. Como negar a visita ao maior entreposto de comércio e transporte do Vinho do Porto? Em Portugal, vinho é cultura! Mas não se perca nas horas, há um comboio para apanhar!
“All aboard!”: da Régua ao Pocinho de comboio
Na Estação da Régua apanhamos o comboio até ao Pocinho, que é uma estação terminal, e que permite percorrer uma parte da Linha do Douro que foi inaugurada em 1887 e tem uma extensão de 160 quilómetros. A linha segue o vale do rio Douro o que a torna numa das mais belas de Portugal e com fortes potencialidades turísticas.
1h40 de viagem que passou num abrir e fechar de olhos. Todos/as querem o lugar à janela que tem vista rio. Do outro lado, só se sentam as pessoas da terra que conhecem aquela vista como a palma das suas mãos enrugadas do tempo. Lá dentro são mais os turistas do que os autóctones, mas é por eles que ouvimos as histórias de quando a Linha do Douro era cheia de gente.
"Quando me casei este comboio ia até Barca d'Alva", contava-nos uma senhora mais velha que viajava ao nosso lado.
O dia estava morno. Abrimos as janelas e pusemos a cabeça de fora, afinal é (lá) fora que o mundo passa.
Sabiam que o comboio beira tanto o rio que parece querer beijá-lo? Um rio que serpenteia a terra e que deixa que o céu, vaidoso, se espelhe. Depois da Estação do Tua, a paisagem vai mudando e o rio como que se adelgaça… ficamos sem saber se é ele que se estreita ou se são as margens que o comprimem. Da encosta verde e socalcada, passamos a paisagens mais agrestes, rochosas e acastanhadas. Belas à sua maneira.
Chegamos à estação final. Pocinho. Estamos no km 171, 913. A partir dali a linha está desativada.
Se quisermos regressar no mesmo dia, temos duas hipóteses: ou apanhamos o mesmo comboio que pára cerca de 30 minutos na estação do Pocinho, ou esperamos pelo próximo comboio que nos permite uma estadia de mais ou menos 4 horas. Se optar por esta última, explore os trilhos e a ponte de ferro, ambas desativadas. Atenção ao sinal "Proibido passar"! A ponte de ferro, melancólica e sozinha, está lá a forçar diálogos entre margens. Desde que construíram a barragem, o rio já não lhe faz festa(s).
Está na hora de regressar e temos de apressar o passo para não perder a "boleia". O comboio não espera por ninguém. Fitamos o horizonte, campesino e acastanhado, e quase jurava que dali a uns minutos poderia passar um cowboy a galope, não fosse o cenário tão parecido com o faroeste.
No Douro, bebe um douro
De regresso à Régua, procure um local onde possa saborear e degustar um bom copo de vinho ou fazer uma prova de vinhos numa das muitas quintas renomadas que disponibilizam tours às suas caves e adegas. Não lhe faltam opções. Sugerimos uma passagem pelo Cais de Mercadorias da Refer, que preserva a construção original, mas com um traço elegante, tanto quanto os restaurantes que o compõem. Espaços com "rótulo de marca" onde o melhor da região é servido à mesa (e no copo).
Mira (o) douro
O Douro é tão lindo que até a palavra miradouro parece ter sido feita para ele. A poucos quilómetros da Régua, por uma estrada curvilínea, chegamos a São Leonardo da Galafura que, dos seus 630 metros de altitude, nos oferece uma das vistas mais bonitas do rio e da região. Na fotografia não se sente o bem que se respira lá em cima ou o silêncio que "nem o rio se atreve a quebrar". Tire as fotografias todas, mas depois sente-se por lá e contemple este "excesso de natureza".
E assim se passou um dia. Regressamos a casa de coração cheio e conquistados por este Douro que é ouro.
Artigo originalmente publicado no blogue Ir em Viagem
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