A identidade bávara está presente em cada esquina, em cada restaurante, em cada habitante, ostentando orgulhosamente a cultura da região. Em Munique, parece viver-se constantemente em ambiente de festa, uma festa da qual é muito fácil fazer parte. Tanto que já tinha visitado a cidade com amigas e tinha vontade de regressar com a cara-metade para que pudesse perceber porque falava da cidade com tanto entusiasmo. E assim foi, acho que consegui contagiar o João de tal forma que, quando planeou esta viagem surpresa pela Europa Central (juntamente com Salzburgo, Viena e Budapeste), decidiu começar pela Baviera.

A caminho de Neuschwastein

Munique vale por si só, mas também pela proximidade a outras atrações turísticas, nomeadamente ao castelo Neuschwastein, aquele que serviu de inspiração para o castelo da Disney. Foi por aqui que decidimos começar as nossas férias, uma vez que o nosso voo chegou a Munique às 09h30 e deu para aproveitar completamente o dia. Há vários castelos para visitar naquela zona, mas após alguma pesquisa, optámos por fazer visita a Neuschwastein e a Linderhof, os dois castelos idealizados pelo Rei Cisne, Luís II da Baviera. Aconselha-se a compra antecipada dos bilhetes online, até porque as visitas são guiadas e com número limitado de visitantes. Aliás, se o horário para o qual tentarem comprar bilhete estiver lotado, são automaticamente recolocados num outro horário. E se não estiverem à hora combinada na bilheteira, para levantamento do vosso bilhete (1 hora antes do horário da visita), perdem automaticamente o direito à visita, não dá sequer para tentarem entrar no grupo seguinte. Bem-vindos ao rigor alemão.

Sendo assim, optámos por alugar carro para esse dia, com levantamento no aeroporto e depósito no centro da cidade, e reservámos visita em Linderhof às 11h e em Neuschwastein às 15h, o que nos daria, na nossa perspetiva, autonomia e tempo suficiente para fazer tudo. E é aqui que começa a aventura.

Primeiro, um verdadeiro caos para sair de Munique, obras, GPS desorientado por causa das obras e nós já com 30 minutos de atraso no nosso percurso. A dúvida: será que conseguimos chegar a Linderhof a tempo? A atitude positiva do costume: sim, claro que conseguimos! Até que a cerca de 20 km do nosso objetivo, ficamos encravados num trânsito imenso, na auto-estrada, em plenos Alpes.

Castelo Neuschwastein
Castelo Neuschwastein Vista para o castelo Neuschwastein créditos: Volto JÁ

A atitude positiva manteve-se até aos 30 minutos de espera e 500 metros percorridos, quando percebemos a extensão da fila de carros. Decidimos então sair da auto-estrada na saída mais próxima, que por sorte, era a 500 metros de onde estávamos e tentar arranjar um percurso alternativo até ao próximo acesso à auto-estrada. Claro que toda a gente teve a mesma ideia e as filas de trânsito já chegavam até aí. Portanto, percebemos que Linderhof já era e como até estávamos numa vilazinha simpática dos Alpes, o que era uma total estreia para nós, decidimos ser espontâneos, alterar o nosso plano e parar mesmo ali para almoçar antes de mudar a rota para Neuschwastein. Entrámos no único restaurante da vila, que era também a única hospedagem, que era tal e qual como na nossa imaginação seria um restaurante dos Alpes: Madeira, bancos corridos, quadros de natureza, cabeças de animais nas paredes e uma senhora de meia idade, vestida de tirolesa e com tranças, que não falava uma única palavra de inglês. Tal como o menu. Mais uma vez, decidimos ser espontâneos e escolher o nosso almoço só porque nos soava bem. Descobrimos que os alemães sabem fazer bons panados e lhes dão o nome de schnitzel. E que bier é cerveja (mentira, esta já sabíamos).

Já almoçados e com margem de tempo de zero minutos, voltámos à estrada, desta vez em direção a Neuschwastein, onde sem imprevistos, conseguimos chegar até antes da hora marcada. E conseguimos desfrutar da viagem, que é tão bela quanto o destino. Paisagens lindíssimas, verde e mais verde intercalado com grandes lagos, sempre com a proteção das montanhas alpinas, imponentes e majestosas.

E lá está ele, primeiro as torres, depois todo o castelo aparece no nosso horizonte. É uma verdadeira obra-prima, a prova de que o homem sonha e a obra nasce. E o rei Ludwig sonhou bem alto, tanto que lhe custou o título de rei, foi considerado louco e deposto antes que arruinasse completamente as finanças do reinado com esta e outras obras. Mais do que uma bela construção, a visita a este castelo torna-se fascinante pela história que esconde. A vista do castelo é fabulosa e faz-nos sentir que estamos em pleno cenário da Guerra dos Tronos, ali incrustados no alto das montanhas. Tão alto que a subida até ao castelo, a partir das bilheteiras, é bastante exigente, deu para queimar pelo menos meio schnitzel. Daí exigirem que o bilhete seja levantado com uma hora de antecedência. A sério, contem pelo menos com meia hora de caminhada em passo acelerado até ao castelo, por isso não facilitem se não querem perder a vossa visita.

Castelo Neuschwastein
Castelo Neuschwastein Nos arredores do castelo Neuschwastein créditos: Volto JÁ

No final deste dia, maravilhados com a paisagem e o castelo Neuschwastein, ficamos com imensa pena de não termos conseguido visitar Linderhof, mas valeu-nos uma boa história e a vontade de voltar e explorar melhor aquela zona.

Dois dias em Munique

Nesse mesmo dia, regressámos a Munique, onde ficámos por duas noites, tendo dois dias completos para visitar a cidade. Três dias ou dois bem aproveitados são suficientes para ver o essencial de Munique.

Ficámos alojados no Hotel Mirabell, que merece aqui um destaque pelo excelente pequeno-almoço, aliás o melhor pequeno-almoço desta viagem e quiçá de todas as viagens feitas até aqui. Tudo o que imaginem que possa fazer parte de um buffet de pequeno-almoço está lá, com imensas opções, inclusive de produtos biológicos e vegetarianos.

A localização do hotel é boa, permitindo fácil acesso ao centro da cidade, bem como ligações de comboios e autocarros para outras cidades e países. Devo só alertar que, tal como a maior parte dos hotéis de Munique, está situado numa zona que, talvez pela proximidade à estação principal de transportes, pode parecer um pouco assustadora à chegada, contudo fiquem descansados. Em nenhum momento nos sentimos inseguros, podendo referir o mesmo na minha anterior estadia em Munique.

O centro da cidade é relativamente pequeno e percorre-se bem a pé, com calma e com tempo para desfrutar da cidade e dos seus belos cafés e cervejarias. Começamos pela praça principal, a Marienplatz, com o edifício da Câmara Municipal (Neues Rathaus) em estilo gótico a preencher todo o cenário. A torre do relógio é a protagonista, que todos os dias brinda quem por lá passa com um pequeno espectáculo de bonecos e música bávara a marcar as 11 horas.

Marienplatz
Marienplatz Marienplatz créditos: Volto JÁ

Dali seguimos por uma das muitas ruas de comércio até à Odeonsplatz, outra das principais praças de Munique. É lá que está o Pórtico dos Marechais, a igreja de São Caetano (Theatinerkirche) e a Residência de Munique, em tempos residência dos duques, atualmente convertida em museu com belíssimos jardins, estes de entrada gratuita. E por falar em museus, se tiverem tempo não deixem de visitar o Distrito da Arte (Kunstareal) com exposições para todos os gostos: o Neue Pinakothek com obras impressionistas, o Pinakothek der Modern com arte moderna e contemporânea e o Alte Pinakotheke, dedicado aos mestres europeus dos séculos XIV a XVIII. Uma dica: aos domingos a entrada em qualquer um deles custa apenas 1€.

Para os amantes de carros, há também uma boa sugestão, o museu da BMW, com a história da marca e réplicas de vários modelos, motores e afins. À saída só têm de atravessar a estrada e já estão no Parque Olímpico, onde decorreram os Jogos Olímpicos de 1972, manchados pela morte de 11 atletas israelitas num ataque terrorista. À parte deste episódio negro da história, o Parque é até bastante agradável e tranquilo, e convida ao relaxe. Nada como sentar numa das colinas ou junto do lago a comer uma salsicha em pão e a beber uma cerveja, como um verdadeiro local.

Voltando agora aos palácios, temos também em Munique um ótimo exemplo do luxo e grandiosidade do Império Bávaro, o Schloss Nyphemburg. E se estão a pensar se vale a pena ver mais palácios depois de Neuschwstein, sim vale, pois os dois são bem diferentes. Construído no século XVII, com inspiração no estilo francês, há quem diga até que é o “Palácio de Versalhes” de Munique. E embora não seja tão ostensivo, é fácil perceber as semelhanças. Os enormes e bem cuidados jardins, a organização do edifício, a decoração, o uso abusivo de adornos dourados, a Sala dos Espelhos, etc. Concorde-se ou não, vale muito a pena a visita, pelo palácio em si e pela história da família real bávara, com todos os seus enredos novelescos. Além do edifício principal, existem também dois palácios menores inseridos nos jardins (abertos ao público apenas de março a outubro), o museu das carruagens e o museu das porcelanas. O custo dos bilhetes é de 8,50€ no inverno e 11,50€ no verão, dando acesso a todas áreas. Os jardins podem ser visitados gratuitamente.

Parque no centro de Munique
Parque no centro de Munique Parque no centro de Munique créditos: Volto JÁ

Nyphemburg fica um pouco afastado do centro da cidade, mas facilmente acessível de transporte público, de tram ou metro a partir do centro histórico de Munique ou da estação principal (Hauptbahnhof), contudo o tram é talvez a forma mais simples de lá chegar, uma vez que pára mesmo em frente ao palácio, enquanto a estação de metro mais próxima obriga a uma caminhada de cerca de 15 minutos.

E agora, por último, mas não menos importante. Nenhuma visita a Munique estará completa sem uma visita à cervejaria Hofbrauhaus, uma das mais antigas de Munique e provavelmente a cervejaria mais famosa do mundo. Visitar a Hofbrauhaus é toda uma experiência sensorial, onde somos completamente transportados para outra cultura. A música tipicamente bávara, as gargalhadas das pessoas sempre bem-dispostas, a estrutura do edifício com as suas belas arcadas e as mesas enormes de bancos corridos, os chapéus de penas tipicamente alpinos que muitos ainda usam, o cheiro da gastronomia tradicional, as canecas de cerveja enormes e pesadas, a culminar com um gole generoso do que melhor se faz em Munique: a cerveja. É como vos digo, não pode haver visita a Munique sem visita a Hofbrauhaus. E se a fome apertar, aproveitem também para degustar os pratos típicos da região. Não somos propriamente fãs da culinária alemã, mas não podemos deixar de recomendar que experimentem pelo menos o tal schnitzel e a famosa salsicha alemã.

Cervejaria Hofbrauhaus
Cervejaria Hofbrauhaus Cervejaria Hofbrauhaus créditos: Volto JÁ

Se no final disto tudo ainda vos sobrar energia, ficam aqui duas boas sugestões para um final de noite memorável. Se a vontade for de sentar a um balcão a beber um bom cocktail, recomendamos o Bar Schumann’s. Se, por outro lado, o que vos apetece é vida louca e dançar até queimar toda a gordura que vão ingerir por estes dias, deixamos duas sugestões: Film Casino e Heart Club, dois espaços elegantes, com bom ambiente e animação garantida.

Informações

Orçamento para estes dois dias: Aproximadamente 400 euros por casal (para despesas de refeições, gasolina, entradas nos monumentos, bares e discotecas).

Como chegámos lá: Avião da Iberia do Porto até Munique, com escala em Barcelona (68€ por pessoa).

Mês escolhido: Fevereiro.

Preço médio da refeição: Se for em restaurante, com entrada, prato, copo de vinho e sobremesa, pagam aproximadamente 25 euros por pessoa.

Alojamento: Hotel Mirabell, perto da estação central de comboios, 144€ por duas noite, com pequeno almoço.