Depois desse, li outros livros do escritor vencedor do prémio Nobel da Literatura em 2010, e de todas as vezes acabei envolvida pelas suas personagens e histórias. A cidade de Lima e mais especificamente Miraflores faziam portanto parte do meu imaginário quando, anos depois, resolvi ir conhecer a capital do Peru.
Senti um entusiasmo quase infantil quando o avião começou a descer e, pela janela, pude ver a Cordilheira dos Andes a espreitar pelas nuvens. Já faltava pouco para chegar…
O taxista que me levou até ao hotel era simpático e fartou-se de falar mas depois de um voo de 11 horas eu estava tão cansada que basicamente deixei-o a falar sozinho. Não retive absolutamente nada do que ele disse. Só me apetecia dormir.
Na manhã seguinte, porém, a história já era outra. Apesar de ainda estar a sofrer com o jet lag, sentia-me mais do que preparada para descobrir Lima e perder-me de vez no mapa literário de Mario Vargas Llosa.
Comecei - como não podia deixar de ser - por Miraflores, o bairro onde o escritor passou grande parte da sua infância e adolescência e que está presente em quase todas as suas obras.
Vargas pinta Miraflores como um bairro residencial tranquilo, com ruas e jardins arborizados. Mas hoje em dia Miraflores é um lugar bem diferente. Aqui e ali - na rua Diogo Ferré principalmente - ainda aparecem algumas mansões ajardinadas e em estilo clássico, mas a área agora é dominada por prédios de escritórios e torres de apartamentos.
Descobri La Tiendecita Blanca (Pequena Loja Branca) onde os apaixonados Lucrecia e Don Rigoberto, personagens do romance Elogio da Madrastra, encontravam-se para beber chá e a cada gole recuperavam o amor perdido. Eu fiz questão de experimentar esse chá juntamente com uma deliciosa sobremesa.
Comecei o meu passeio pelos cenários de Vargas Llosa no Parque Central de Miraflores, também conhecido como Parque Kennedy - as personagens de Vargas Llosa passam por este parque em muitas das suas obra. Aqui encontramos o Paseo de los Pintores, onde artistas e artesãos locais apresentam e vendem o seu trabalho. O cheiro a doces e a pão recém-assado inundam o ar. Não resisti a parar num dos vários carrinhos de rua que vendem as suas iguarias no parque e comprar turrones.
Segui depois para o Parque Salazar. As vistas para o Oceano Pacífico e para as falésias são espetaculares, não admira que Vargas Llosa escolha este lugar para os seus personagens apaixonarem-se. A Lili de Travessuras da Menina Má gostava de vir aqui contemplar toda a baía de Lima.
Depois vi o Colégio Champagnat, cenário de Os Filhotes. Bem perto fica a Avenida Pardo, por onde Alberto, o poeta d A Cidade e os Cães caminhava de regresso à escola militar. Acabei a manhã a almoçar na Avenida Larco, uma das principais artérias de Miraflores, repleta de lojas e restaurantes.
Na parte da tarde, caminhei um pouco pelo bairro de Surquillo e visitei o seu colorido mercado. Este bairro aparece em muitas passagens dos romances do escritor.
Já de regresso ao hotel, passei pelo tumultuado cruzamento das Avenidas Tacna e Colmena, no centro histórico de Lima onde Zavalita, no início de Conversa na Catedral, faz a famosa pergunta: "Em que altura se f*** o Peru?”.
Pareceu-me um bom local para terminar o roteiro que me levou numa interessante caminhada pelas ruas e parques que enriquecem o mundo literário de Mario Vargas Llosa.
Dica: Se visitarem a cidade de Lima e caso estejam interessados em fazer o roteiro inspirado nas obras deste escritor, peçam nos postos de informação turística o mapa impresso pelo Município de Miraflores que indica os pontos principais a visitar.
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Artigo originalmente publicado no blogue The Travellight World
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