O miúdo andava com umas manchas de "pequeno pónei" pelo corpo, uns restos de "porquinha pepa" atrás das orelhas, os joelhos acastanhados de "como treinar um dragão" e as mãos bem sujinhas de "ovelha Choné". Era urgente dar-lhe uma boa esfrega de Botticelli, em água tépida de Giotto, passar-lhe um bom exfoliante de Leonardo da Vinci, para estimular novas ideias, umas gotas de óleo de Michelangelo Buonarroti e Raphael, para lhe reluzir a mente, uma loção de Correggio, para suavizar a pele e a alma e, finalmente, acabar em grande, com um cheirinho de eau de parfum do enfant terrible Caravaggio, mas não muito, que marotice já o miúdo tem que chegue.
E como é que se avança com tamanha empreitada? Bem, eu diria que "em Roma sê romano". Portanto as táticas invasoras romanas serão provavelmente as mais adequadas. Uma boa estratégia, rigor e disciplina e entrar país adentro até à invasão completa gri, gri, gri, gri. A quem é que eu estou a tentar enganar?! Ahahahaha! Foi mesmo em modo rebaldaria total e o circo itinerante do costume. Desculpem.
Mas é sempre uma boa ideia começar pelo Norte, no Lago Como, pelo azul topázio do lago e os tons pastel das Villas encavalitadas monte acima. O que, em bom português, deve ler-se assim: vestir o nosso melhor modelito e desfilar monte acima e monte abaixo, para o lado direito do lago e para o lago esquerdo do lago, na esperança de avistar o George Clooney e ele nos convidar para um tete-a-tete de Nespresso na mão.
Segue-se depois para Milão para nos desgraçarmos nas compras e na paciência, com os bandos que acorrem ao Duomo e tentarmos, eventualmente sem sucesso, responder à eterna questão que surge quando se visita a Última Ceia de Da Vinci na Chiesa di Santa Maria delle Grazie: como é que eles conseguiram convencer os donos do restaurante a reservar uma mesa de 26 lugares só para 13 pessoas?
De Milão ruma-se a Veneza, mas não sem antes parar em Verona para fazer uma festinha na maminha direita da estátua de Julieta. Soa um pouco pervertido, eu sei, mas diz que dá sorte no amor. Mas nesta, meus amigos, estão por vossa conta e risco. Enfim, que raio de sorte pode advir da história de amor mais desgraçada de todos os tempos?! Onde é que íamos mesmo? Pois, Veneza. A Veneza de todos os clichés… as gôndolas, as risquinhas, as casas aguarela de Burano, o cheiro a lodo, Marco Polo e a autodenominada livraria mais bonita do mundo, a Libreria Acqua Alta (pausa para nos atirarmos todos ao chão a rir, agarrados à barriga, porque… livraria Lello).
Por esta altura já se devem estar a interrogar: isso é tudo muito bonito Susana, mas e comida? Calma e sigamos para Bolonha, também conhecida entre os locais como La Graza, podem imaginar porquê. Em Bolonha, além de terem inventado para aí metade dos pratos típicos de Itália, ainda albergam a universidade mais antiga da Europa que, entre outros nomes ilustres, teve Dante como professor. E por falar em Dante, vale a pena fazer um pequeno detour até Ravenna e aprender como se escreve “a vingança serve-se fria” e “cá se fazem cá se pagam” em italiano: até aos dias de hoje Florença fornece o óleo para a lamparina que arde no túmulo de Dante, em Ravenna, como penitência por o ter exilado de Florença para aquela cidade onde acabou por morrer 20 anos depois e aí ser sepultado. Se isto não vos deixou com a música do filme “o padrinho” a ecoar na cabeça não sei o que o fará…
E é de Bolonha que seguimos a rebolar até Florença. Sim, não tenhamos ilusões, de Bolonha já só se sai a rebolar. Mas é em Florença que o festim cultural realmente começa: o palácio Pitti como amuse bouche; o museu Bargello para entrada; a galeria Uffizi para um almoço faustoso; o palácio Medici-Riccardi ao lanche; a galeria da Academia ao jantar e a capela dos Medici para acabar com aquele ratinho que ataca antes de ir dormir.
Se entretanto tiverem sobrevivido à condução dos italianos, para além de serem uns heróis e merecerem uma palmadinha nas costas, por esta altura estarão a decidir se vão já diretos para Roma ou se vão até Pisa fazer uma foto super, hiper, mega original a segurar a torre e descem depois pelo litoral. Se quiserem adicionar aventura, exotismo e estradas esburacadas à viagem é isso mesmo que vão fazer e, como prémio, vão ganhar umas dores nas cruzes e uma entrada grátis num paraíso chamado Cascate del Mulino (Terme di Saturnia) onde, a custo zero e com água a 38.ºc, vão poder curar todas as vossas maleitas, desde mau-olhado a pé de atleta.
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Artigo originalmente publicado no blogue Mundo Magno
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