Tem o nome de viola beiroa porque os últimos registos e a sua revitalização têm lugar essencialmente nos concelhos de Castelo Branco e Idanha a Nova.
Em Castelo Branco, há a Orquestra da Viola Beiroa e Idanha tem uma oficina de música tradicional que pertence à Filarmónica Idanhense onde se ensina a tocar e a construir. Estão igualmente em exposição vários exemplares da viola Beiroa.
João Abrantes é diretor artístico da Filarmónica Idanhense e coordenador da oficina e refere que a viola Beiroa tem apenas algumas semelhanças com a viola Campaniça.
Ambas têm o mesmo formato em “8” muito vincado. “Faz-nos lembrar curvas perfeitas. Tem 12 cordas. 10 mais duas suplementares e que são de afinação fixa”.
Encontrei João Abrantes com António José Conceição numa ação de formação da viola Beiroa em Penha Garcia. António José Conceição, antigo fotojornalista, apaixonou-se por este tipo de viola e dedicou-se à sua construção. Diz que, do ponto de vista da sonoridade, a viola Beiroa adapta-se a vários géneros musicais. “É um instrumento muito versátil porque dá para acompanhar quase todo o tipo de música. Desde o fado de Coimbra, fado de Lisboa, o folclore…”
Os registos de um passado de há várias décadas revelam que a viola Beiroa era muito utilizada na dança da roda. No entanto, é desconhecida a sua origem. Conforme diz João Abrantes, há poucos dados que permitam avaliar como chegou aqui. “Como há pouca investigação isso permite a existência de várias versões. A investigação mais relevante é do início da década de 70. É muito interessante, mas não conseguiu ir muito longe na história do instrumento.
Os registos dessa investigação indicam que o único local onde na altura era tocada a viola Beiroa era em Penha Garcia. O tocador era Manuel Moreira que acompanhava a Ti Catarina Chitas com o adufe e a cantar (Catarina Chitas morreu em 2004 com 113 anos). A viola dele está no Museu Nacional de Etnologia.
Na Lousã é também apontada a existência de uma viola com mais de um século que foi recuperada e poderá estar associada à Dança das Virgens. “Estamos a falar de um espaço de tempo de 100 a 200 anos. Há quem aponte mais para trás e quem diga que a viola Beiroa deu origem à Caipira no Brasil”.
Não só são escassos os resultados de pesquisa sobre a viola Beira como o próprio instrumento caiu no esquecimento. Durante mais de 80 anos não se construiu qualquer viola Beiroa na região. “Desapareceu quase por completo do panorama da música tradicional. Só nos últimos 20 anos começou a sua renovação. Ao longo deste hiato houve um trabalho de investigação muito relevante do mestre Alísio Saraiva que fazia parte do Rancho Folclórico do Retaxo. Desenvolveu uma afinação própria e há cerca de 8 anos começou a reaparecer a viola Beiroa. Primeiro a Associação Viola Beiroa em Castelo Branco e depois em Idanha começamos a desenvolver modelos de construção e hoje sim, há quem construa, quem toca e, sobretudo, quem ouça”.
O número de executantes tem vindo a subir. João Abrantes estima que “na região há mais de 40 pessoas. Em Castelo Branco há um núcleo grande, que tem a Orquestra da Viola Beiroa e em Idanha a Nova há outro núcleo. Pelo distrito há vários artistas que assimilaram a viola Beiroa” em vários géneros musicais. Agora, para ganhar maior expressão, precisa de músicas próprias – “a dinâmica que este processo está a ter ainda não atingiu uma dimensão nacional porque falta composição própria e é fácil de fazer. A viola Beiroa é um instrumento com timbres ricos e com uma beleza harmónica fantástica”.
Novos instrumentos
Não só há mais executantes como também novos instrumentos musicais que António Conceição concebeu.
Na sequência do aperfeiçoamento que realizou na viola Beiroa, António José Conceição criou dois novos instrumentos musicais que não havia nesta zona e inspirados na viola “com curvas perfeitas”. “Um cavaquinho e um bandolim. Ao cavaquinho chamei Beiroinha e ao bandolim chamei Beirolim. Têm afinações iguais ao cavaquinho e ao bandolim mas a sonoridade é completamente diferente. Segundo pessoas que já experimentaram os dois instrumentos dizem que a sonoridade é melhor do que os instrumentos tradicionais”.
António José Conceição também dá preferência às madeiras da região, com uma única exceção: o abeto alemão para o tampo. “Dizem os especialistas que é o mais adequado para os instrumentos de corda devido às propriedades de acústica e sonoridade”. No resto procuram madeiras da região como nogueira, mogno, ébano, carvalho e azinho. Em média, uma viola Beiroa demora quase duas semanas a produzir.
Viola beiroa e das curvas perfeitas faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
Comentários