Sem máscaras e sem capas, o concelho de Vimioso continua a apresentar-se a quem o visita com toda a sua essência natural. O Parque Ibérico de Natureza e Aventura (PINTA), que abrange todo o concelho, é um elemento central de visitação e compreensão do território. No seu centro de acolhimento, situado a poucos quilómetros da sede de concelho, “plantado”  e enquadrado na natureza, existem espaços de interpretação que facultam ao visitante um primeiro “alinhamento” do quanto pode explorar neste território.

A Porta da Rota da Terra Fria Transmontana é disso exemplo, graças a diversas ferramentas multimédia, o visitante pode ter uma experiência interativa que convida a dar o salto para a realidade, para experimentar os cinco concelhos que integram a designada Terra Fria Transmontana: Vimioso, Bragança, Miranda do Douro, Mogadouro e Vinhais.

Este espaço aposta nas emoções sensoriais. O visitante é convidado a experimentar o “cubo dos sentidos”, que recorrendo a imagens, sons, aromas e objetos relacionados com o concelho de Vimioso, permite um primeiro “sentir” do território.

Num ecrã tátil o visitante pode conhecer o potencial patrimonial, gastronómico, cultural, etnográfico, etc. e planear, através da enumeração dos Pontos de Interesse georreferenciados, a sua visitação ao território.

Há ainda uma área expositiva com artesanato e produtos locais que o visitante pode adquirir na Porta ou ser encaminhado para o produtor/artesão.

Possui ainda um pequeno observatório de aves para o visitante poder conhecer e interagir com a biodiversidade envolvente e um minilaboratório de apoio a algumas das atividades a desenvolver neste centro.

Parque Ibérico de Natureza e Aventura
Parque Ibérico de Natureza e Aventura PINTA - Porta de Entrada da Rota da Terra Fria, créditos: DR

Ao lado deste edifício, totalmente construído em madeira, fica o Centro de Atividades Lúdico-Pedagógicas (CALP) do Burro Mirandês. Este equipamento está sob a responsabilidade da AEPGA - Associação para o Estudo e Proteção do Gado Asinino e tem por objetivo promover a biodiversidade doméstica e, em particular, a raça asinina de Miranda, permitindo ao visitante desenvolver diversas atividades com os dóceis animais.

É a partir do PINTA que se pode partir para a Estação da Biodiversidade (EBIO). Trata-se de um percurso pedestre com 1,5 km, sinalizados no terreno através de painéis informativos sobre as riquezas biológicas a observar pelos visitantes. É dado particular destaque aos insetos e plantas, que são a base para a conservação dos ecossistemas terrestres. A Estação da Biodiversidade de Serapicos dá especial destaque às Libélulas e Borboletas. No período de primavera e verão, apanhar borboletas, identificá-las e devolvê-las de imediato à natureza é uma das atividades mais procuradas. No inverno, o PINTA promove passeios de interpretação do Rio Angueira, a fauna e a flora.

O PINTA está em fase de diversificação da sua oferta e está a implementar um percurso pedestre de interpretação do Lobo Ibérico que vai também ter um Centro Interpretativo na antiga escola primária da aldeia de Vale de Frades. Pelas suas caraterísticas geográficas e naturais, a região onde o PINTA se insere é uma das mais ricas em termos de presença de populações do lobo ibérico de Portugal, encontrando-se neste território a alcateia de Outeiro/Pinelo e a alcateia de Avelanoso.

Por fim as estrelas. Já foi implementado, na estrutura de acolhimento do PINTA, um observatório de astronomia e está em implementação uma sala expositiva onde se pretende promover o conhecimento sobre astronomia.

Este equipamento para além de permitir a observação de estrelas no PINTA, promove a sensibilização para a importância para os ecossistemas da diminuição da poluição luminosa.

Parque Ibérico de Natureza e Aventura
Parque Ibérico de Natureza e Aventura Parque Ibérico de Natureza e Aventura (PINTA) créditos: DR

Águas Sulfurosas com mais de três mil anos alimentam as Termas de Vimioso

As características curativas das águas sulfurosas da Terronha, são conhecidas desde tempos ancestrais e utilizadas pela comunidade local, para diversos fins, nomeadamente para curar feridas nas pessoas e nos animais. E foi esta utilização que levou a Câmara Municipal de Vimioso a promover estudos científicos que estiveram na origem da construção do balneário, apenas em 2013.

Na área da saúde, as termas estão homologadas para, com orientação da equipa médica, realizar tratamentos a nível das vias respiratórias e também para tratar problemas de reumatismos e doenças musculoesqueléticas.

São diversos os tratamentos aqui aplicados que duram sempre, como mínimo, 12  dias.

Na área da dermatologia ainda não há homologação, mas são muitos e diversos os relatos de utilizadores que reconhecem os benefícios destas águas para a cura de problemas dermatológicos.

Na área de bem-estar, as termas dispõem de uma grande diversidade de massagens, com ou sem água termal.

Depois existe a piscina, usada nas componentes referidas, que funciona também como espaço lúdico onde qualquer pessoa pode ir relaxar.

Esta piscina é uma banheira de hidromassagens gigante. Tem água termal aquecida e depois tem um sistema com cinco sequenciadores de massagens de costas, dois geysers, um pescoço de cisne e uma cascata.

A piscina e toda a componente de saúde e bem-estar funcionam todo o ano, enquanto que a vertente de tratamentos curativos tem uma época específica, que vai de 1 de maio a 30 de novembro.

Termas
Termas Termas créditos: DR

Um património com relatos de sobrevivência

A cerca de 700 metros de altitude, contruído ao lado do Rio Angueira,  a torre que resta do Castelo de Algoso mostra-nos a importância defensiva que este Monumento Nacional de Interesse Público teve antes que se delimitassem as fronteiras e se estipulasse a paz entre Portugal e Espanha. Construído no início da nossa nacionalidade, século XII, teve até ao século XIII um papel militar e estratégico fundamental, devido ao facto de estar situado numa zona de grandes disputas fronteiriças. Ao subir a torre e olhando em redor, percebemos que a partir de ali o olhar alcança em todas as direções um horizonte sem fim e percebemos porque serviu de vigia e defesa do perigo proveniente de Espanha, mais concretamente do reino de Leão.

Perto de Algoso, na aldeia de Uva, a história de sobrevivência é outra. Nesta aldeia existe a maior concentração de pombais de todo o nordeste transmontano, noutros tempos de extrema importância para a alimentação da população local. Com a emigração e o êxodo que todo o interior tem vindo a sofrer nas últimas  décadas, os pombais, plantados na paisagem, foram sucessivamente abandonados.

No ano 2000 nasceu a Palombar – Conservação da Natureza e do Património Rural , uma organização não governamental de ambiente sem fins lucrativos, que tem como missão conservar a biodiversidade, os ecossistemas selvagens, florestais e agrícolas e preservar o património rural edificado, bem como as técnicas tradicionais de construção. E é graças a esta associação que se sedeou em Uva que, em parceria com os proprietários, já se recuperaram 40 pombais. As pombas, bem como as aves de rapina que deles se alimentam, voltaram a ser presença frequente nos céus da localidade.

Regressamos a Vimioso para entrar na Igreja Matriz, porque esta é uma terra de fé e devoção. A igreja matriz de Vimioso, dedicada ao mártir São Vicente, é um templo de linhas maneiristas que se evidencia pelas dimensões, fazendo lembrar uma sede episcopal. Embora alguma bibliografia situe a edificação da igreja no período filipino, é possível que o início das obras tenha começado alguns anos antes.

Castelo de Algoso
Castelo de Algoso Castelo de Algoso créditos: DR

 Guardar a merenda num Escrinho e Lançar a Manta

A última sugestão desta visita vai para o artesanato e para a gastronomia.

Vimioso é o único lugar no nordeste transmontano onde ainda se produz uma peça de artesanato que tem o nome de “escrinho”. São cestos com tampa, produzidos em silvas e centeio, entrelaçadas de forma a criar um cesto compacto capaz de guardar a farinha, que era a utilidade mais comum noutros tempos. Atualmente, são peças decorativas, muito trabalhosas, que já poucos produzem. Aníbal Delgado e a esposa, Rosa Delgado, são os responsáveis por esta peça de artesanato continuar a existir e os impulsionadores para que outros se empenhem em manter os escrinhos vivos.

Os escrinhos são característicos da aldeia de Vilar Seco, conhecidos nas redondezas como “escrinheiros”. Diz a lenda que em tempos a comunidade local queria chegar à lua porque pensava ser um queijo e quase conseguia. Resolveram colocar escrinhos sobrepostos, mas ao empilharam todos os que tinham, perceberam que faltava um. Alguém sugeriu que se tirasse o primeiro para colocar em cima da torre e assim alcançar a lua. O resultado não precisa de descrição e esta anedota é contada com graça pelos escrinheiros que ainda não chegaram à lua, mas que já tentaram.

Os escrinhos são adequados para guardar uma boa merenda e aproveitar a sugestão município para “lançar a manta”.

escrinhos
escrinhos Escrinhos créditos: DR

Os visitantes podem alugar uma manta e receber informação sobre os locais georreferenciados onde podem “lançar a manta”, disfrutar de uma bela merenda e descarregar no telemóvel um storyboard para interpretar e compreender tudo o que rodeia, a fauna e a flora.

As mantas de farrapos são peça fundamental em todas as casas transmontanas, muito associadas aos trabalhos agrícolas, porque a meio da jornada de trabalho, são estendidas e sobre elas disposta a merenda. Depois da merenda comida, a manta serve ainda para alguns momentos de descanso, antes de regressar ao trabalho.

São peças artesanais, construídas com sobras de diversos tecidos, que depois de cortados em tiras, tantas vezes juntas com nós, se enrolam de maneira a fazer novelos e poderem ser trabalhadas nos teares tradicionais, ainda bem presentes no concelho de Vimioso.

Esta peça artesanal, apesar da sua enorme utilidade, não era considerada uma peça de valor, mas o município de Vimioso acredita que, não só lhe vai reconhecer o devido valor, como pode fomentar o seu uso com a criação de um novo produto que vai complementar a oferta turística do concelho ligada à natureza. E o produto consiste na disponibilização da manta para aluguer, recebendo o visitante informação sobre diversos locais considerados mais apropriados e ricos do ponto de vista da paisagem e biodiversidade, para que a experiência possa ser mais interessante.

Em Vimioso há lugares oficiais e especiais para “Lançar a Manta”
Em Vimioso há lugares oficiais e especiais para “Lançar a Manta”
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Os locais escolhidos estão georreferenciados, facilitando o acesso mesmo para quem não tem nenhum conhecimento geográfico do território, tem informação escrita, para quem quiser usar a manta para se sentar e aproveitar para ler, ou então, simplesmente deitar-se e ouvir um storyboard gravado, passível de ser descarregado num telemóvel.

Claro que as mantas, que os agricultores associam às merendas, as famílias que não se dedicam à agricultura sempre usaram para os piqueniques, por essa razão o município quer incentivar os estabelecimentos do setor, restauração e similares a criar o serviço de preparação de piqueniques, feitos à base de produtos regionais.

Para já foram identificados, e produzida informação especifica, oito locais, de diversos pontos do concelho: Castelo de Algoso, PINTA, Atalaia, Parque de Merendas de Pinelo, São Bartolomeu de Argozelo, São Joanico, Parque de Merendas de Angueira e Cabanais de Caçarelhos, Capela de Santa Bárbara.

O levantamento da manta por parte do turista faz-se no PINTA e ou unidades hoteleiras e de restauração aderentes, pressupondo uma caução (20€) ou documento de identificação.

A manta pode também ser usada pelos turistas nos percursos pedestres do concelho de Vimioso, todos eles passam por locais de paisagens deslumbrantes onde apetece “lançar a manta”, contemplar e sentir a tranquilidade que estes locais podem proporcionar.

O concelho de Vimioso tem uma área total de 481,59 km2 e 4.149 habitantes, de acordo com os censos de 2021 o que representa uma densidade populacional de 8 habitantes por km2.

Lugar mais tranquilo não há.