Talvez nunca tenham ouvido falar do Parque Molinológico de Ul — ou talvez, sim. Não quero perder-me nos detalhes do espaço reabilitado, apenas porque não lhe faria jus. A reabilitação dos moinhos e os espaços de lazer, numa explosão de branco caiado, verde e castanho, são fantásticos. Depois há uma neblina que a proximidade do rio torna mais cerrada e que parece pairar, entre o chão e as copas das árvores mais pequenas, protegendo os moinhos de água, convidando à descoberta.
O Núcleo de Moinhos, junto à Ponte da Igreja, foi intervencionado e reabilitado com um espaço de cafetaria e «um “museu vivo” das estruturas da confeção do pão e de moagem de cereais, uma atividade com mais de 200 anos de existência», pode ler-se na página da Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis. É o máximo que vos posso dizer. Convido-vos a libertar umas horas da agenda e descobrir o local. Merece bem a pena fazê-lo!
Quero falar-vos do percurso «Um rio, muitos moinhos» que, afinal, são dois e que nos conduz pela densa floresta do Parque. Um encontro mágico com a Natureza e uma série de surpresas ao longo do caminho que nos deixam com um sorriso de criança na cara e com a clara sensação, em determinados pontos do caminho, que o éden poderia ser assim.
Estes percursos circulares, pelas margens do Rio Antuã, têm início e fim junto ao Núcleo Central do Parque Temático Molinológico de Ul. O trail 1 e o percurso 2 vão-se cruzando e desencontrando ao longo do caminho. O primeiro, com nível de dificuldade alta, subidas e descidas acentuadas, piso escorregadio e 18 km de solo e pedra, de pó e folhas. O segundo, de cerca de 13 km, com um nível de dificuldade média/baixa.
Sensatos e prudentes como somos, fomos, obviamente, pelo percurso 1. Primeiro, parabenizar os responsáveis pela sinalização: o nosso sentido de orientação é dos mais primários e, ainda assim, perdermo-nos na floresta foi — como todos os trilhos e percursos deveriam ser — missão impossível.
Caminhar ao longo do rio é uma sensação de paz única, o barulho da água que segue o seu curso, as pequenas cascatas, as pedras moldadas pelas quedas de água e o barulhos dos nossos passos que pisam as folhas e os pequenos paus de madeira num ritmo cadenciado.
Atravessamos caminhos ladeados de árvores. Convidados a explorar o que está para lá do que os nossos olhos alcançam, alguns troncos caídos obrigam-nos a decidir se passar por cima ou se passar por baixo deles é a melhor solução. Em alguns locais a vegetação é tão compacta e tão alta, que apenas o estreito trilho, calcorreado pelos que por ali passaram antes de nós, permite seguir em frente.
Depois existem as subidas e descidas íngremes que nos fazem duvidar da capacidade em continuar, mais ainda quando os quilómetros começam a pesar nas pernas. "Nas subidas inclinas o corpo para a frente" — bem tento, mas parece haver uma força que me puxa para trás. "É desta que vou ladeira abaixo", mas há sempre uma mão que me ampara, que me empurra: a beleza de nunca fazer um caminho sozinha!
"Nas descidas pousa o pé na lateral, para ter mais apoio" e assim vou, pé ante pé, a tentar equilibrar-me. Deu quase sempre tudo certo, até uma descida mais acentuada, onde o piso, coberto de folhas, ainda estava húmido e a inevitabilidade que tinha contrariado um par de vezes venceu, escorreguei e deixei-me deslizar até conseguir parar. Felizmente, o chão, sem pedras, estava coberto de folhas, amparando a queda. Fiquei ali, sentada, a rir-me de mim, a rir-me da situação. Sim, porque existem quedas que não nos magoam e simplesmente nos obrigam a parar. Para que tenhamos tempo de apreciar o que nos cerca, para que possamos dar valor àquilo que nos rodeia. São quedas boas e felizes!
As pontes, as pequenas cascatas, os pormenores e os pormaiores, alguns edifícios renovados, as pedras dos lugares abandonados que sempre nos contam uma história, a preciosa sombra, em dias de calor, e a água que corre no rio Antuã.
É este o meu convite! Uma viagem pela beleza do Parque Molinológico de Ul, em Oliveira de Azeméis.
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