Mesmo os que não conheceram a sua obra como poeta, romancista ou cronista de viagens e costumes, os que lhe são contemporâneos, certamente se assistiram alguma vez ao programa Se bem me lembro. Foi transmitido na RTP durante 5 anos e a sua capacidade de comunicação projectou-o como uma personalidade popular.
Se a nível nacional ele tem esta relevância, nos Açores é uma referencia obrigatória e em muitas ilhas é frequente encontrar placas em alguns edifícios que de algum modo têm a ver com o seu percurso pessoal, literário ou académico.
Na sua terra natal, na Cidade Praia da Vitória, há várias evocações e a principal é a Casa Museu Vitorino Nemésio. É um edifício do século XVII e era a casa da parteira onde Vitorino Nemésio nasceu em Dezembro de 1901.
A Câmara Municipal adquiriu a casa, recebeu alguns pertences da família, recolheu diverso material e criou um Centro Interpretativo que abriu as portas em 2007.
Há informação sobre a vida de Vitorino Nemésio, é feita a sua cronologia, os lugares por onde andou, muitas fotografias e um busto com um poema em que o próprio faz um auto-retrato.
Há igualmente materiais multimédia, e outros objectos de Vitorino Nemésio como por exemplo uma coroa do Divino Espírito Santo e uma guitarra clássica.
Segundo Pedro Machado, que explica aos visitantes o valor simbólico do espólio de Nemésio, talvez o objecto de maior relevância é um exemplar do livro de poemas O Canto Matinal, que Nemésio escreveu com 14 anos de idade.
O pai gostou da obra e mandou-a encadernar. Este é um livro especial que está acompanhado de um manuscrito do autor a referir a oferta do pai.
O livro tem ainda um valor simbólico acrescido porque nesta altura Vitorino Nemésio não era um aluno brilhante. Até chegou a ser expulso do liceu de Angra do Heroísmo por andar a partir vidros.
Na casa-museu encontramos ainda outros objectos que cativam a atenção. Nenhum visitante fica indiferente ao berço e a um carrinho de madeira que foram utilizados por Vitorino Nemésio.
Na casa há mais utensílios da época e alguns deles reconstituem uma cozinha tradicional de finais do séc. XIX e início do séc. XX. Seria de uma casa do Ramo Grande, uma área da Ilha Terceira muito fértil e com casas de gente com algumas posses e de arquitectura muito particular.
Na visita à casa não deixe de passar pelo quintal e aproveitar a vista para o interior da Praia da Vitória.
A Casa Museu está relativamente próxima de um outro edifício que marcou a vida de Nemésio. É a Casa das Tias, “onde se abria um mundo mais largo de intimidade e de experiência”. É uma construção do século XVIII reconstruída após o terramoto de 1841 e actualmente é a sede da Assembleia Municipal e onde funciona a Biblioteca Municipal. A fachada foi restaurada e mantém as “dez janelas rasgadas sobre a sacada de rexas.”
Em frente está um busto de Nemésio com uma referência à sua qualidade de “ilhéu”. Mesmo em frente da deslumbrante igreja da Misericórdia.
Vitorino Nemésio morreu em Fevereiro de 1978 com 76 anos de idade.
Além da sua enorme obra literária, Nemésio foi também professor em várias universidades de diversos países: Espanha, Bélgica, Holanda, França e Brasil.
Toda a sua obra literária está intimamente ligada a uma narrativa complexa de vivências do mar, objectos e pessoas dos Açores. O romance que adquiriu maior notoriedade foi Mau Tempo No Canal. Foi publicada em 1944 e retrata a sociedade açoriana nas quatro ilhas do Grupo Central (Terceira, Faial, S. Jorge e Graciosa) na primeira Guerra Mundial.
Se bem me lembro de Vitorino Nemésio faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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