Nasceu de forma inusitada durante a pandemia. É que Andrea Zamorano e Amanda Menezes mal se conheciam quando decidiram avançar com o projeto. Conta-nos Andrea ao longo de um brunch no Samambaia, que conheceu Amanda através de um amigo, o escritor João Paulo Cuenca que acreditava que as duas se iriam dar bem.
No dia em que se conheceram, falaram da possibilidade de criar um espaço cultural em conjunto. "Nessa mesma tarde, a gente chegou ao nome Samambaia", recorda Andrea de forma alegre. "A gente nem se conhecia. Isso foi em junho. Em agosto, saiu um concurso daqui [atual Samambaia]. Eu soube e, por isso, liguei para a Amanda. Posso fazer a proposta? Ela falou: pode.".
"Não sei se a notícia é boa ou ruim"
Já que saboreávamos uns ovos Samambaia, que são a versão da casa dos clássicos Benedict (preparam-se com húmus de beterraba, espinafres, tomate cherry, ovos escalfados e molho holandês), não seria difícil de antever o resultado do concurso: Andrea e Amanda haveriam de vencer. E assim foi. "Liguei para a Amanda e falei: eu não sei se a notícia é boa ou ruim", conta Andrea entre risadas. "Nós não nos conhecíamos, não é? Tínhamos estado duas vezes juntas, mas achei que ela era a pessoa certa porque eu tinha visto o perfil daqui."
Ao ver o espaço na Voz do Operário, Andrea entendeu que teria que ser uma casa com música. Com experiência na área de hotelaria, catering, produção e gestão de eventos, para além de ser escritora, Andrea acreditou que Amanda seria a parceira certa devido à sua experiência como produtora cultural.
E é assim que nasce o Samambaia em setembro de 2020, em plena pandemia. "Uma loucura total. Tínhamos que fazer tudo num curto espaço de tempo. Os meus filhos, os filhos da Amanda, todo mundo foi escravizado aqui nesse processo para a gente conseguir montar isso.", lembra a proprietária. "O som durante um ano foi emprestado da Malu Magalhães e do Marcelo Camelo. Como são amigos da Amanda, emprestaram.", acrescenta.
Um brunch com "um toque brasileiro"
Inicialmente, abriram apenas para a escola da Voz do Operário e só em outubro para o público em geral. Começaram com os concertos, mas ainda não tinham decidido o que iriam fazer no espaço durante o dia.
Decidiram apostar no brunch por estarem numa área turística, porém, quiseram dar um toque brasileiro ao mesmo. "Tem as coisas clássicas como a panqueca americana e depois tem os ovos Samambaia, a tapioca... Também temos este abacate que é muito brasileiro. Temos a sangria de maracujá, o pão de queijo.", comenta, explicando que a ideia não é ter um brunch "exclusivamente brasileiro", dado que pode ser difícil para o visitante entender. "Até porque o turista também está em Portugal, não está no Brasil", conclui.
"Para compreender esta natureza brasileira, fomos deixando umas referências familiares de coisas que são universais mas depois tem essa brasilidade toda. E o brunch funciona e tem funcionado.", finaliza.
Para além da Tapioca, que pode ser servida com queijo, tomate e orégãos (opção brasileira, 10 €), com abacate, tofu, tomate, cogumelos e espinafres (vegana, 14 €) ou com ovos e bacon (14€), dos Ovos Samamabaia (pão caseiro, humus de beterraba, espinafres, tomate cherry, ovos escalfados e molho holandês, 11€), do Pão de Queijo e da Sangria de Maracujá (16€ ), há mais produtos brasileiros na ementa como o Açaí (11€).
Entre as opções mais clássicas, existem os ovos na versão Benedict (pão caseiro, abacate temperado, ovos escalfados e molho holandês, 10€) e Mexido, acompanhado de pão caseiro tostado (8€), assim como Panquecas Americanas (com ovos e bacon, 12€) ou com nutella e frutas (14€).
Quem quiser ainda pode comer uma Tosta de Abacate (com cogumelos, tomate e rúcula, 9€) ou de Salmão Fumado (queijo philadelphia, pepino, rúcula e tomate, 11€) ou uma salada (de salmão fumado, a 14€; césar, a 13€, e samambaia, a 15€). A ementa é completada com duas versões de Hambúrguer: Veggie (de quinoa e grãos, com húmus de beterraba, espinafres, tomate, cebola caramelizada e chips de batata doce, 13 €) e Ressaca (queijo cheddar, cebola caramelizada, maionese de alho, bacon, tomate, alface e chips de batata doce, 13 €).
O brunch do Samambaia é servido todos os dias, das 10h às 16h.
Samambaia, a casa brasileira da Graça
Inaugurado há três anos, o Samambaia Bar fica em Lisboa no bairro da Graça, em frente à paragem do icónico eléctrico 28. A casa funciona de segunda a segunda e conta com 140 lugares no total, divididos entre o salão principal e as suas esplanadas. A programação artística tem início a partir de terça-feira e estende-se até sábado - ou domingo, conforme a época do ano.
"O Samambaia tem essa particularidade de ter muito a cara do Rio de Janeiro, porque o Rio de Janeiro tem muitos sobrados antigos da época da colonização portuguesa e aqui tem esses terraços, vários níveis… Então a própria geografia do espaço nos remete imediatamente para o Rio de Janeiro.", explica Andrea.
"Depois tem este nome Samambaia que a gente inventou logo na hora. Modesta às favas", diz a rir, "é um nome muito genial porque, para já, ele quase que podia ser um ex-líbris do Brasil. Diz logo Brasil. Primeiro porque é um nome impronunciável para os portugueses. Dizem Sambambaia, Sambembaia.... Demoram um século para acertar... Então isso está associado ao brasileiro. A própria construção da palavra tem música, samba… tem essa musicalidade. E, em termos de representatividade, a Samambaia é uma planta que atravessa transversalmente o Brasil inteiro (...) é uma planta muito democrática: está nas várias camadas sociais, não tem rico, nem pobre, nem branco, nem preto, nada. De norte a sul do Brasil, todo o mundo tem Samambaia em casa. Então é uma planta que é muito brasileira. Tudo isso junto faz funcionar."
"O Samambaia nasceu em 2020, em plena pandemia, com o intuito de ser uma casa de boa música brasileira em Lisboa e um espaço de encontro de artistas. Um local em que os músicos que estavam aqui, a viver ou em lockdown, pudessem ter um palco. Desde então, temos muito orgulho por termos realizado mais de 250 concertos. Fomos o palco de estreia na Europa de nomes como Bala Desejo, Dora Morelenbaum, Bem Gil, Chico Brown, Júlia Vargas, Pedro Sá e Victoria dos Santos, além de termos recebidos renomados artistas como Danilo Caymmi, Domenico Lancellotti, Bernardo Lobo, Fred Martins, Antonio Villeroy e Marcos Sacramento”, comenta em comunicado Amanda Menezes.
Além das rodas de samba, a casa é o berço da “Roda de Santo”, projeto criado por Álvaro Lancellotti, que é uma celebração dos pontos de Umbanda (religião afro-brasileira de matriz africana). Foi também no Samambaia que surgiu a GIRA, a primeira roda de samba formada apenas por mulheres.
“O público local elegeu o nosso Samambaia como melhor bar do ano no concurso “Love Local Awards”, promovido pela revista Time Out Lisboa, e também fomos contemplados com o prémio “Ibermúsicas", comemora Andrea sem esconder o orgulho que sente. “O apoio do prémio Ibermúsicas permitiu ampliar muito o alcance do projeto do Samambaia, que pode investir em uma equipa de marketing e de criação de conteúdos e promover ainda mais a internacionalização de artistas em ascensão, em especial os que promovam as temáticas étnico-raciais e de género”.
Para além da música, o Samambaia traz na sua programação outras manifestações artísticas como o teatro, às quartas e quintas-feiras, enquanto que as terças-feiras ficam reservadas para a criação e apresentação de performances literárias de autores das mais diversas áreas.
O brunch termina às 16h mas à noite também não falta comida e bebida onde se destacam os Dadinhos de tapioca, o Escondidinho de bacalhau, o Caldinho de Feijão e os hambúrgueres Ressaca e Veggie. Para acompanhar, há bebidas como o Samambaia Daiquiri (maracujá, manjericão, cachaça e agave), Portobucha (kombucha artesanal e vinho do Porto branco) e a Sangria de maracujá.
O espaço é composto por amplas janelas, com muita luz natural, plantas e cartazes de vários espetáculos que já passaram pelo palco da casa. A decoração transporta-nos para o Rio de Janeiro, cidade de origem das proprietárias. O bar tem sempre playlists que mesclam o contemporâneo com os clássicos das músicas brasileiras, muitas vezes relidos em novas versões, de jovens artistas, o que traz para o ambiente uma atmosfera moderna e refinada.
A casa prioriza, ainda, a economia circular e o zelo pelo ambiente ao comprar bens a pequenos produtores e fornecedores locais, além da não-utilização de plásticos e da recolha dos óleos usados. O público também conta com as ações de democratização do acesso à cultura, ao pagar valores abaixo da média para os espetáculos: os bilhetes custam quase sempre 10€ por pessoa e o valor é 100% destinado ao artista.
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