Principalmente nas regiões Norte e Centro de Portugal, ainda é possível vivenciar tradições pagãs que eram celebradas nesta época do ano. Festas que assinalavam o fim do inverno e o início da primavera, celebrando a fertilidade.
Depois, a religião mudou alguns moldes, mas a lógica continuou a mesma: festejar antes de começar o período da Quaresma. Aliás, a própria palavra entrudo tem um significado religioso pois vem da palavra latina introitus, que significa entrada, ou seja, entrada na Quaresma, período que tem início no dia seguinte, na quarta-feira de Cinzas.
Dos famosos Caretos de Podence, passando pela peculiar Dança dos Cus até chegar à Queima do Entrudo, selecionamos lugares onde poderá brincar ao Carnaval em Portugal de forma mais genuína.
Lazarim, Lamego, Viseu
"É conhecido pelas máscaras de madeira que, em conjunto com os fatos, são o destaque da celebração. A tradição de esculpir máscaras de madeira em Lazarim remonta a algumas gerações e essas esculturas são o resultado de habilidades transmitidas de pai para filho". Ainda de acordo com o site do município de Lamego, as máscaras "representam figuras da mitologia local, animais ou personagens folclóricos". O momento alto do Entrudo de Lazarim é um desfile onde os caretos caminham pelas ruas da aldeia ao som dos bombos. Este ano, a festa decorre de 10 a 13 de fevereiro. O programa pode ser visto aqui.
Quem já participou da celebração, deixa boas descrições e bons registos fotográficos: Até o "Diabo" é bem-vindo: a autenticidade e a tradição do Entrudo de Lazarim e A audácia dos Caretos de Lazarim não tem género.
Podence, Macedo de Cavaleiros, Bragança
Fica na aldeia de Podence a celebração de Carnaval que entrou para a lista de Património Imaterial da Humanidade da Unesco. Um título de peso que fez subir a popularidade dos Caretos de Podence. A festa remete ao ritual pagão que celebra o fim do inverno e o início da primavera.
"O Careto de Podence é conhecido pelo seu comportamento performativo, 'as chocalhadas' de que são alvo principal as mulheres, um ato simbólico que remete para uma origem remota e uma possível ligação a antigos rituais agrários e de fertilidade. Hoje, estes mascarados, que visitam as casas de vizinhos e familiares, num ritual de convivialidade, emigrantes que regressam à terra, constituindo-se, por isso, o Entrudo Chocalheiro como um momento essencial da vida dos descendentes de Podence, que regressam no Carnaval para dar continuidade à prática que herdaram de pais e avós", descreve o site dos Caretos de Podence. O Entrudo Chocalheiro decorre de 10 a 13 de fevereiro e o programa está disponível aqui.
Cabril, Montalegre, Vila Real
Em pleno Parque Nacional da Peneda-Gerês, Cabril volta a celebrar este ano o entrudo que tem como ponto alto o desfile de mascarados pelas ruas da freguesia. A noite termina com a Queima do Entrudo. De acordo com a organização, “vale tudo para ser careto, homens vestidos de mulheres, mulheres vestidas de homens, com ou sem chapéu, de mantas e lenços de cores garridas, com caretas ou panos de renda, sem nunca esquecer as luvas, tudo faz parte da indumentária para que a identidade de cada um seja ocultada”. Este ano, as celebrações acontecem a 12 e 13 de fevereiro. O programa pode ser visto aqui.
Cabanas de Viriato, Carregal do Sal, Viseu
A peculiar tradição da Dança dos Cus faz de Cabanas de Viriato, em Carregal do Sal, um local único durante as festividades do Carnaval. Segundo informações do Turismo do Centro, esta prática remonta ao século XIX, quando, entusiasmados pelos aplausos recebidos após uma apresentação no Teatro dos Bombeiros, os atores decidiram levar a celebração para as ruas da vila. Foi assim que nasceu a famosa “dança grande”, mais tarde batizada de “dança dos cus”. Nesta dança insólita, os participantes desfilam vestidos, mas preparados para um choque engraçado: ao terceiro compasso da música, os pares, divididos em duas filas, voltam-se para o centro e chocam os traseiros. Ao som da valsa da Filarmónica e com a presença de cabeçudos, a Dança dos Cus ganha vida, atraindo turistas curiosos que desejam testemunhar essa manifestação cultural.
Carrazeda de Ansiães, Bragança
A sátira social é usada para apresentar publicamente os motivos de insatisfação e discórdia da comunidade. O momento alto é o rebentamento do “Pai da Fartura”, a figura alegórica que representa os excessos, as mentiras e os enganos, para um julgamento, junto ao Pelourinho da vila. As atividades, promovidas pela Câmara Municipal, são organizadas em parceria com os Zíngaros de Carrazeda de Ansiães. Aqui encontra mais informações.
Vilar de Amargo, Figueira de Castelo Rodrigo, Guarda
A aldeia de Vilar de Amargo revive o tradicional Entrudo Lagarteiro. A tradição permite “mulheres mascaradas de homens e homens de mulher, com rendas e máscaras de cortiça a esconder a face para que ninguém seja reconhecido nas pantominices que fazem os outros”, descreve a Câmara Municipal de Figueira de Castelo Rodrigo. Este ano, a celebração ocorre no dia 10 de fevereiro com um programa recheado que contará com o caldo das viúvas, a macha fúnebre pelas ruas da aldeia e a Queima do Entrudo.
Pias, Cinfães, Viseu
O Entrudo de Pias é uma das épocas altas desta pequena localidade. O disfarce nesta aldeia é bastante característico: "mulheres mascaradas de homens e homens mascarados de mulheres em que são utilizados chapéus, meias, calças, camisas e saias, luvas para que as mãos não sejam reconhecidas e o elemento principal do disfarce é a máscara de renda". Este ano, o Entrudo de Pias é celebrado a 10 e 11 de fevereiro. Neste artigo, encontra uma descrição mais completa desta celebração.
Vale de Ílhavo, Ílhavo, Aveiro
Nesta celebração, os maiores protagonistas são os "cardadores". De acordo com o Turismo do Centro, "a tradição exige que os homens, geralmente solteiros, que saem à rua para “cardar” as raparigas não se deixem identificar, usando uma máscara perfumada feita com pele de ovelha branca revestindo-se as aberturas dos olhos e da boca com rodelas de cortiça pintadas de vermelho. A cabeça é revestida por longas fitas coloridas, de diferentes tamanhos, que descem até ao fundo das costas, formando uma multicolor cabeleira. O nariz é comprido e de forma fálica, feito com panos vermelhos e o bigode é formado por crina". Este ano, a festa decorre nas ruas de Vale de Ílhavo de 11 a 13 de fevereiro. E à festa junta-se também o Pão de Vale de Ílhavo, tão típico desta que é uma das mais recentes Aldeias de Portugal.
Aldeias do Xisto de Góis, Coimbra
Nas Aldeias do Xisto de Góis, o Entrudo vivia-se de forma simples. Procurava-se roupa e objetos velhos, algo que ocultasse o rosto. Os mais criativos e engenhosos usavam uma máscara feita a partir de cortiça, a imagem de marca da iniciativa que ainda hoje acontece. Recuperada pela Lousitânea, esta tradição anima as ruas estreitas e as praças históricas das Aldeia do Xisto de Aigra Nova e das aldeias vizinhas durante o Carnaval. Há espaço para o bailarico ao som das concertinas, o Jogo do Pau, a Queima do Entrudo, o atelier de máscaras de cortiça e a declamação das quadras jocosas. Este ano, a iniciativa decorre a 11 de fevereiro. Mais informações aqui.
Mira, Coimbra
Os Caretos da Lagoa, em Mira, são foliões do sexo masculino. "Vestem-se com trajes femininos vibrantes, adornados com máscaras de cartão, com chifres e serpentinas. Ao redor do pescoço, penduram chocalhos e guizos. O uso das “campinas” é restrito aos homens, simbolizando a virilidade, embora confunda ao incorporar a saia vermelha, uma fusão entre o humano, o diabólico, o religioso e o profano. Com uma aparência quase demoníaca, os Caretos, sempre em grupo e ocultando as suas identidades, causam tumulto nas ruas com um alarido de sons, urros e campainhas. Saltam, provocando e exibindo um ritual misto de desafio, ousadia e sedução em direção às moças e mulheres de todas as idades, especialmente as jovens solteiras", descreve o Turismo do Centro.
Guarda
Na cidade mais alta de Portugal, capital do distrito com o mesmo nome, o ponto alto das celebrações carnavalescas é o Desfile e Julgamento do Galo que decorre no Domingo Gordo (11 de fevereiro). "A sátira e o humor vão andar à solta pelas ruas do centro da cidade com o desfile das freguesias do concelho, onde o Galo voltará a ser julgado. A catarse guardense pretende espiar todos os males de 2023, dando esperança para o novo ano de 2024. E como sempre, de um lado vão estar os defensores do Galo e do outro os acusadores. O Julgamento terá este ano formato de 'Opereta'. Como sempre, no palco deste tribunal encenado, o réu será o Galo, figura central de toda a estória, culpado de tudo e por tudo", descreve o município no site onde pode encontrar mais detalhes sobre a festa.
Canas de Senhorim, Nelas, Viseu
De acordo com o Turismo do Centro, o Carnaval de Canas de Senhorim tinha início logo no dia 6 de janeiro, Dia de Reis, com as Paneladas. Altura em que os mascarados saiam pelas ruas e atiravam para dentro das casas panelas de barro velhas, cheias de cinzas e bugalhas, provocando grande estrondo e confusão. No entanto, este costume tem vindo a desaparecer. Atualmente, a festa oficial começa no domingo Gordo, em que as duas marchas rivais saem à rua, preparando o grande desfile carnavalesco de terça-feira. Na segunda-feira de Carnaval, pela manhã, acontece a Farinhada, em que as raparigas que saem de casa, até ao meio-dia, correm o risco de serem enfarinhadas. À tarde, é a Segunda-Feira das Velhas: cantam-se marchas antigas e o desfile faz-se com fatos alusivos ao passado. Na quarta-feira de Cinzas, depois da Batatada, jantar de grupo cujo prato principal é o bacalhau com batatas, ovos e hortaliça, o palhaço do Entrudo é passeado pelas ruas, fazendo-se a despedida do Carnaval. Após a leitura do testamento, o boneco é queimado em público, determinando o fim da festa e o início da Quaresma.
Vila Boa de Ousilhão, Vinhais, Bragança
No Entrudo de Vila Boa de Ousilhão, "os 'máscaros' saem à rua no domingo Gordo de Carnaval, juntamente com as 'madamas' e 'marafonos' que percorrem as ruas da aldeia e fazem as suas habituais tropelias. O dia termina com a 'galhofa' e um baile tradicional. Os Caretos continuam com os seus rituais, atuam em regra em pequenos grupos que, dispersos por diferentes locais, acabam por tomar conta da aldeia à procura das suas vítimas, as moças solteiras", pode ser lido na página da Rota da Terra Fria.
Santulhão, Vimioso, Bragança
Mais um Entrudo que decorre na Terra Fria de Trás-os-Montes, mais precisamente na freguesia de Santulhão. O culminar da festa acontece no dia 13 com o desfile pela aldeia e Julgamento do Entrudo. Mas, antes disso, há um programa que começa dia 10 e que contempla várias atividades, como montaria ao javali, passeio pedestre, teatro, jantar do butelo e arraial. Aqui pode saber mais informações sobre o Entrudo de Santulhão.
Lindoso, Ponte da Barca, Viana do Castelo
No Entrudo de Lindoso queimar o "Pai Velho" faz parte da tradição. E quem é esta figura? "Uma espécie de despedida do inverno e o acolhimento à primavera que está a chegar? Recordação das festas dos "loucos medievais", colocando um ponto final ao tempo de excessos que precedem a quarta-feira de Cinzas? O rito da fecundidade estimulado por uma nova seiva que vai surgir após as longas noites do solstício do inverno?", somos indagados pelo município de Ponte da Barca. As celebrações decorrem junto à eira comunitária de onde o "Pai Velho" é transportado num carro de bois durante a manhã do domingo Gordo e da terça-feira de Carnaval. Nesta noite, a festa culmina com a queima do boneco e a leitura do seu testamento.
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