A tradição atrai cada vez mais visitantes e mantém as ruas cheias de vida nestes dias em que novos e velhos se juntam, tornando o Carnaval tão especial.

O Carnaval por cá começa um pouco mais cedo. No final do mês de janeiro já os homens se juntam e começam a planear a construção da "coitadinha" da Comadre, boneca feita de palha, tecidos de cores garridas e roupas velhas.

As mulheres, à socapa dos homens, começam também a preparar o "triste" do Compadre feito do mesmo material.

Entrudo em Pias: a tradição ainda é o que era nesta aldeia
Semana das Comadres créditos: Pedro Sá

Nas duas semanas anteriores ao Carnaval acontecem as tão disputadas corridas do Compadre e da Comadre e por isso tudo tem de estar preparado nessa altura.

Alguns habitantes expõem as suas criações nas varandas e janelas da aldeia, mas os tão procurados permanecem bem escondidos até à hora da corrida.

Entrudo em Pias: a tradição ainda é o que era nesta aldeia
Corrida do Compadre créditos: Pedro Sá

Na primeira semana de comemoração as raparigas exibem furtivamente o Compadre, já os rapazes da aldeia tentam de tudo para conseguirem roubar o boneco que terá como destino a fogueira.

Até lá tudo é válido, as raparigas devem proteger a sua criação mas não existem limites nem sequer locais que os rapazes não possam entrar por estes dias para se apoderarem do tão provocante Compadre.

Entrudo em Pias: a tradição ainda é o que era nesta aldeia
Semana dos Compadres créditos: Pedro Sá

Já na semana seguinte, a semana das Comadres acontece tudo da mesma forma mas desta vez os rapazes é que vão exibir as suas bonecas, provocando todas as mulheres da aldeia.

Por estes dias, homens são adversários das mulheres e tudo é combinado em segredo.

Habitualmente, estas corridas aconteciam na quinta-feira mas atualmente são feitas ao domingo de forma a que todos possam participar.

Entrudo em Pias: a tradição ainda é o que era nesta aldeia
Disfarce típico créditos: Pedro Sá
Entrudo em Pias: a tradição ainda é o que era nesta aldeia
Disfarce típico créditos: Pedro Sá

Já nos últimos dias de Carnaval acontece um desfile pelas ruas com disfarces típicos da região, um baile de Carnaval, a corrida do "touro" e ainda a queima do Entrudo.

O disfarce nesta aldeia é bastante característico, contempla mulheres mascaradas de homens e homens mascarados de mulheres em que são utilizados chapéus, meias, calças, camisas e saias, luvas para que as mãos não sejam reconhecidas e o elemento principal do disfarce é "a máscara de renda".

Entrudo em Pias: a tradição ainda é o que era nesta aldeia
Disfarce típico créditos: Pedro Sá

Toalhas, cortinas ou panos de renda são colocados na face para que a identidade do mascarado seja ocultada, já que por esta altura todas as pantominices são permitidas.

Existe outro elemento bastante esperado no largo da aldeia, o "touro". Dois ou quatro homens juntam-se e são cobertos por duas ou mais mantas, são colocados uns chifres no cima da cabeça, uma molhelha, e um rabo na traseira.

Entrudo em Pias: a tradição ainda é o que era nesta aldeia
Corrida do touro créditos: Pedro Sá

Esta corrida é feita à volta das pessoas que se encontram a assistir e quem vai escondido debaixo da manta apronta sempre das suas distribuindo alguns "coices" pelo público.

Outro momento bastante divertido é quando alguém se aproxima com um recipiente cheio de leite como se o fosse ordenhar e nessa altura com um pontapé derramam o leite para o público.

A queima do Entrudo é habitualmente feita na terça-feira de Carnaval no largo da povoação.

Entrudo em Pias: a tradição ainda é o que era nesta aldeia
Baile de Carnaval créditos: Pedro Sá
Queima do Entrudo
créditos: Pedro Sá

Esta cerimónia é idêntica ao Enterro do Ano Velho na aldeia.

Na queima do Entrudo de Pias foram utilizados os Compadres e Comadres que a população criou, mas antes foi feita uma pequena leitura do testamento da Comadre para o Compadre e vice-versa.

A Queima do Entrudo assinala assim o fim do programa de Carnaval na aldeia.

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Artigo originalmente publicado no blogue Indo eu Indo eu