Os caretos de Podence têm mais uma razão para festejar. A manifestação cultural do Carnaval e das Festas de Inverno pelos caretos de Podence faz agora parte do Património Imaterial da Humanidade.
Patrícia Cordeiro, socióloga responsável pela candidatura, considera que este reconhecimento é, em primeiro lugar, uma forma de afirmar o empenhamento da comunidade de Podence, uma aldeia no concelho de Macedo de Cavaleiros, no Nordeste transmontano, de manter esta tradição.
Esta é uma manifestação cultural que exigiu perseverança. Há cerca de meio século eram muito poucas as pessoas que se vestiam de caretos no carnaval.
Segundo Patrícia Cordeiro, a inversão foi dada com um grupo de pessoas que criou uma associação de caretos. Ao longo do tempo, foi animando outras pessoas da terra e os emigrantes.
Hoje são, talvez, os maiores protagonistas porque Podence tem muito pouca gente. "Os emigrantes vêm todos os anos, vestem os fatos dos avós, tios, pais... e com todo o orgulho saem para a rua com os caretos. Eles estão já a fazer a passagem para os filhos e netos e dar continuidade a uma prática que os enche de orgulho", diz a socióloga.
Este sentimento de pertença levou também as mulheres a participar. Antes o grupo de cerca de vinte elementos era um exclusivo dos homens. Patrícia Cordeiro diz que também este envolvimento das mulheres nos rituais revela ser um processo interessante "porque gera um diálogo na própria comunidade sobre os que estão a favor e contra".
"Por outro lado, é um exemplo de como a tradição se foi adaptando à atualidade, mantendo o contexto familiar que sempre foi caraterístico dos caretos de Podence".
O Entrudo em Podence não é um carnaval qualquer. Em primeiro lugar, é o carnaval chocalheiro. Independentemente do reconhecimento internacional no Nordeste transmontano, todos conhecem o grupo Caretos de Podence que percorre no domingo e na terça-feira de carnaval as ruas da aldeia.
São endiabrados com as raparigas, com máscaras bizarras de madeira, zinco ou cabedal e com mantas de lã cobertas com franjas muito coloridas. Tudo numa grande e ruidosa chinfrineira provocada pelos chocalhos que estão presos nas ancas.
Diz Maria José Varela, da casa do Careto, que é hábito em Podence os rapazes e homens, novos e velhos, vestirem-se de caretos. “Enquanto podem com os chocalho toda a gente se veste. Depois brincam todos. É muito animado. O Entrudo aqui é bom”.
A aldeia não ultrapassa algumas centenas de habitantes, mas no carnaval Podence enche-se de gente. É uma tradição antiga que cada vez reúne mais visitantes "de todo o país e até do estrangeiro" sublinha ainda Patrícia Cordeiro que "é curioso como uma pequena aldeia transmontana consegue gerar esse impacto."
Nas palavras da socióloga, "é provável que a classificação como Património da Humanidade vá gerar maiores fluxos turísticos" mas, de certa forma, a comunidade local já se adaptou ao grande movimento de visitantes.
O impacto na região vai ser grande "e é também uma prova de que se deve olhar de forma diferente para o interior de Portugal, de forma positiva e investir mais porque vale a pena viver nestas regiões." Ainda no entender da socióloga responsável pela candidatura na Unesco, o desejável é que se consiga um ganho que vá para além do turismo, "que se gere um ciclo virtuoso que valorize os valores das comunidades rurais. Um modo de vida sustentável, ecológico, a gastronomia tradicional... Este será o último objetivo do reconhecimento de Podence: um impulso para a valorização cultural de toda a região."
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