Os exemplos desse preenchido calendário desportivo são vários: em Futsal Feminino, a cidade acolheu o Mundial de 2012, em Futsal Masculino, várias finais da Taça de Portugal, em Ciclismo, diversas etapas da Volta a Portugal, em BTT, provas de apuramento para os Jogos Olímpicos, no Ténis, o Open Internacional de Azeméis, nas Artes Marciais, provas do Campeonato Nacional, e, em Hóquei em Patins, o Mundial de 2003 e o Europeu de 2016, em que Portugal se sagrou campeão.

Esta dinâmica implica uma oferta alargada de infraestruturas desportivas, no que se inclui o único Centro Municipal de Boccia no país, e acentuou-se nos últimos anos para benefício de vários setores da comunidade, como reconhece o diretor de uma empresa que se inspirou numa competição local para lançar uma nova área de negócio.

"Trabalhamos com madeiras há 50 anos, mas antes só fazíamos mobiliário doméstico e para hotelaria", recorda Paulo Martins, administrador da Azemad. "Em 2003, quando recebemos o Mundial de Hóquei e nos pediram para construir o stick que ainda detém o Recorde do Guiness de maior do mundo, é que nos lembrámos de começar a fabricar equipamento desportivo também, já que tudo o que havia no país era importado", revela.

Desde então, a empresa fabrica 20.000 sticks de hóquei por ano e, se Portugal absorve 40% da produção, igual percentagem é destinada a Itália, Espanha e França, encaminhando-se o restante para "todo o mundo".

"Foi uma aposta que fizemos e que ganhámos", reconhece Paulo Martins. "Ganhámos nós e vem ganhando a cidade, porque, nos últimos anos, nota-se aqui muito mais movimento e isso vê-se na restauração, no comércio e nos hotéis - como aconteceu este ano durante o Europeu de Hóquei, quando trouxemos cá clientes estrangeiros e estava tudo esgotado ", refere.

Para Hermínio Loureiro, presidente da Câmara Municipal, ex-secretário de Estado do Desporto e atual vice-presidente da Federação Portuguesa de Futebol e do Comité Olímpico de Portugal, esse efeito na dinâmica empresarial e social da cidade é significativo, mas outra perspetiva se revela mais importante: “a prática desportiva é o instrumento mais barato de Saúde Pública. Quanto mais investirmos no Desporto, mais qualidade de vida vamos ter no futuro e menos despesas teremos de suportar com Saúde".

"Sempre decisiva" nessa estratégia será, contudo, a colaboração com as coletividades locais e a generosidade do seu trabalho voluntário, para garantia de "uma oferta eclética, sem modalidades preferenciais".

Disso resulta também que, "tanto as federações nacionais como as internacionais, gostam de trabalhar com Oliveira de Azeméis", o que o autarca atribui, não só ao profissionalismo demonstrado "na organização das provas, mas também ao envolvimento que elas geram na população".

Cristina Neves sentia esse espírito já antes da morte do premiado ciclista Bruno Neves, seu irmão. "Nogueira do Cravo já tinha tido o centro de Ciclismo onde se formou o Bruno e as pessoas acompanhavam muito a modalidade, mas, quando ele morreu, em 2008, quatro amigos dele lançaram este projeto em sua memória e toda a gente continua a acarinhar-nos", conta a presidente da Escola de Ciclismo com o nome do atleta.

A estrutura integra hoje uma equipa de Cadetes e outra de Juniores, e só não compete em mais escalões "porque não tem pessoal suficiente para treinar os miúdos e acompanhá-los nas provas, já que a modalidade tem um calendário muito exigente, obriga a saídas todos os fins-de-semana e ainda implica muita despesa em logística".

Ainda assim, Cristina Neves afirma que “o concelho é muito virado para o Desporto e a ligação de Hermínio Loureiro à área também ajuda, porque a sua reputação atrai mais eventos e as pessoas têm brio nisso".

Marco Silva, que em 2014 fundou o Futsal Clube de Azeméis e este ano o fez subir à I Divisão, partilha dessa perspetiva. "O nome do presidente da Câmara ajuda, mas também houve uma aposta grande no marketing e construíram-se novos equipamentos", argumenta.

Assim se operou "uma transformação a 180 graus" no concelho: "Antes não havia aqui nada. Agora há praticamente tudo e, com ferramentas para se trabalhar, é mais fácil cativar praticantes".

Hermínio Loureiro não comenta a influência que lhe atribuem nessa evolução, mas concorda que, "em 30 anos, é bem visível o aumento da cultura desportiva" no município. "Estejam os praticantes a competir a sério ou só a divertir-se, o facto é que tirámos as pessoas do sofá", realça.

Marco Silva concorda, mas mostra-se mais exigente: "Sair de casa não basta. Com tanta oferta em Oliveira de Azeméis, o pessoal não tem desculpa para não estar realmente em boa forma".