“Tenho Covid-19, não me utilize, use a outra mesa” - é com este aviso sério, mas em tom de brincadeira, que um snack-bar na freguesia lisboeta de Benfica alerta para a necessidade de se cumprir a distância de segurança entre clientes nas mesas da esplanada, apesar de se verificar uma procura de “menos de 80%” do habitual.
Responsável pela gerência do estabelecimento, Fernando Burgos diz à Lusa que dentro do snack-bar só podem estar “duas pessoas a receber o serviço”, para depois consumirem na esplanada, de forma a evitar possíveis contágios da Covid-19.
Localizado junto às paragens de autocarros e à estação de comboios de Benfica, serviços de transportes que verificam uma quebra de passageiros, este snack-bar mantém as portas abertas, com medidas preventivas em relação ao novo coronavírus, mas pondera o encerramento do estabelecimento.
“Se isto continua assim, mais vale estar fechado, porque o cliente que aparece não dá sequer para pagar a luz, a água, não dá para pagar ordenados”, declara Fernando Burgos, lamentando a falta de proteção de algumas pessoas.
Nas zonas mais turísticas de Lisboa, nomeadamente na freguesia de Belém, veem-se turistas a chegar em autocarros para conhecer o Mosteiro dos Jerónimos, monumento que, apesar de já estar encerrado, continua a ser motivo para fotografias.
Além dos turistas, é visível a presença de algumas pessoas que aproveitam os espaços livres como os jardins de Belém - onde uma mãe com duas crianças pequenas aproveitava a manhã para se divertirem com um papagaio colorido - e o percurso pedonal junto à beira-rio, onde se aproveita para manter a atividade física em dia.
Junto aos famosos Pastéis de Belém, que deixaram de ter a fila do costume, João Bernardo acompanha um grupo de turistas brasileiros, indicando que existe “uma quebra imensa” no setor do turismo.
“As pessoas estão-se a ir embora, os brasileiros que chegaram no barco de Cádis [Espanha] estão-se todos a ir embora”, avançou o motorista de turismo, referindo que os viajantes estão “com medo” que cancelem as ligações aéreas.
Apesar desta preocupação, continuam a passear nas ruas de Lisboa, “porque muitos não acreditam que seja assim tão grave”.
“Acham que é, assim, mais um pandemónio, uma crise de susto, do que outra coisa”, aponta João Bernardo, referindo que houve vários ‘tours’ cancelados até ao mês de maio.
Calculando que esta seja a “última semana de trabalho, por agora”, o motorista admite que “é sempre um risco” continuar a trabalhar, mas refere que já deixou de cumprimentar os clientes e mantém sempre uma distância de segurança.
“Dentro do carro, tenho a máscara, para pegar as malas uso luvas”, acrescenta.
Além de Belém, as zonas do Cais do Sodré, da Baixa e da Avenida da Liberdade mantêm uma presença considerável de turistas nas ruas, contrariando o apelo para que as pessoas fiquem em casa.
Cumprindo obrigações legais, o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), na Avenida António Augusto de Aguiar, tinha hoje cerca de 50 pessoas à espera para serem atendidas, aguardando na rua, a maioria sem cumprir a distância de segurança.
Entre os utentes do SEF, o brasileiro Ivan Filho tinha um agendamento para solicitação de residência permanente em Portugal, que estava marcado para as 09:30, mas o serviço atrasou e só foi atendido por volta das 11:15.
Considerando que era “estritamente emergencial” a presença neste agendamento, Ivan Filho sentiu-se “um pouco preocupado, um pouco tenso, porque realmente não estava ciente do volume de pessoas que iam comparecer” e porque os utentes não cumpriram a distancia de segurança. Na sua opinião, o SEF podia cancelar e notificar as pessoas dessa decisão.
Apesar desta deslocação ao SEF, Ivan Filho refere que “o trabalho está todo já planeado para ficar de casa, nas próximas duas semanas ou 30 dias”.
Reportagem: Sónia Miguel / Lusa
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