Na várzea da atual Bobadela, no concelho de Oliveira do Hospital, por onde corre o Rio de Cavalos, os Romanos fundaram uma cidade - a Splendidissima Civitas.
Dessa “Esplêndida Cidade”, como alguém a apelidou há quase 2.000 anos, já só restam as ruínas que agora se confundem com a pequena povoação, mas continuam a impressionar pela sua grandeza e estado de preservação.
As ruínas da Bobadela são um dos mais importantes conjuntos arquitetónicos de valor histórico-arqueológico do período romano em Portugal, mas sabe-se pouco sobre a cidade que esteve na sua origem. Está confirmado que foi fundada no tempo de Augusto, o primeiro imperador de Roma e que era rodeada por uma estreita muralha dentro da qual se construíram vários edifícios característicos de uma cidade romana, mas o seu nome continua um mistério. Talvez se chamasse Elbocoris ou Velladis, mas não há certezas.
Assim que entramos na aldeia da Bobadela, o nosso olhar é imediatamente atraído pelo magnifico Arco Romano, que se pensa ter sido a entrada de um fórum. Data do século II e está classificado como Monumento Nacional. Foi construído com grandes blocos de granito, assentes sem qualquer argamassa.
O fórum era o principal espaço público da cidade e o local a partir do qual os romanos governavam todo o território.
Bem próximo dali fica o anfiteatro romano da Bobadela, que foi utilizado desde os finais do séc. I d.C. até finais do Séc. IV d.C. como local de jogos e lutas… Ao percorrer o terreno, não é difícil imaginar as bancadas da arena elíptica cheias das gentes de então a divertir-se com os espetáculos de gladiadores.
Existem também vestígios estruturais da principal praça da outrora cidade romana e inscrições dedicadas à Splendidissima Civitas e aos Deuses Júpiter e a Neptuno.
De entre os inúmeros artefactos achados, um dos mais notáveis é a cabeça monumental de um imperador romano. Foi localizada em 1884 num pátio, nas imediações do fórum. Apesar de ser incerta a sua localização original bem como o contexto do achado, pelas dimensões da cabeça esculpida em mármore branco, pensa-se que terá pertencido a uma estátua com aproximadamente 3 metros de altura. A degradação do retrato torna extremamente difícil a sua identificação, mas a data da escultura aponta para Tibério (14 d.C. – 37 d.C.) ou Domiciano (81 d.C. – 96 d.C.).
Uma visita ao Centro Interpretativo de Bobadela Romana ajuda-nos a compreender um pouco melhor a história desta antiga cidade, com uma exposição que articula peças arqueológicas recolhidas nas escavações, textos, fotografias e ilustrações, com equipamentos multimédia interativos e um filme documental.
Ficamos a saber que o território administrativo da civitas, com capital na Bobadela era muito extenso e englobava vários concelhos que hoje confinam com Oliveira do Hospital. As suas fronteiras correriam ao longo de algumas serras, como a da Estrela, do Açor e do Caramulo. Uma inscrição datada do ano 4 d.C, encontrada em Guardão, no concelho de Tondela, é testemunho da extensão do território administrativo da Bobadela Romana.
A exploração do ouro no Rio Alva e nos seus afluentes, na época romana, seria a atividade que mais dinamizava a economia da civitas da Bobadela e explica a sua relação estreita com outras cidades romanas vizinhas como Igaedis (atual Idanha-a-velha), Conímbriga e Vissaium (atual Viseu), às quais a Bobadela estava ligada por estradas.
Com o fim do Império Romano, a Splendidissima Civitas perdeu o seu brilho, mas os sinais da sua importância não se apagaram e hoje temos a sorte de ainda os poder observar nas ruas da bonita aldeia de Bobadela.
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Artigo originalmente publicado no blogue The Travellight World
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