A paisagem é marcada por grandes arrozais que se estendem até às dunas da praia e mudam conforme as estações. Nos meses de abril e maio, a água enche os campos e estes parecem enormes espelhos a refletir o céu. Depois o arroz germina e tudo fica verde. Com o outono chegam os tons amarelos e castanhos que contrastam com o azul profundo do mar e as areias claras da praia... As cores podem alterar-se, mas a beleza serena deste lugar mantém-se sempre igual.
Localizada entre o estuário do rio Sado e o oceano Atlântico, a Comporta, na verdade, integra sete aldeias: Pego, Carvalhal, Brejos, Torre, Possanco, Carrasqueira e Comporta.
Foram as gentes destas aldeias, principalmente as da Comporta, da Carrasqueira, da Torre e do Carvalhal que, entre 1925 (ano em que a propriedade pertencente à Companhia das Lezirias foi adquirida pela empresa inglesa Atlantic Company) e meados dos anos 50, retiraram ao estuário do Sado cerca de 800 hectares do sapal e ergueram “a comporta”, ou seja, os mais de 20 quilómetros de muro de terra e pedra que retém a maré, para que a água do mar não galgue as culturas do arroz.
Foi a partir daqui que a região conhecida até ali como a "África Metropolitana", pelas más condições de vida, excesso de mosquitos e extrema dureza do trabalho, começou a melhorar.
As aldeias da Comporta, tal como muitas outras do Alentejo, não perderam a sua autenticidade, nem os seus costumes. A modernidade, sem dúvida, é bem acolhida nesta região hippie-chic, mas isso não significa que a história que a criou se perdeu completamente.
O turismo agora é importante, mas a rizicultura continua a estar no centro da vida na Comporta, tal como está no centro da sua história e para conhecer verdadeiramente os arrozais, é necessário perdermos-nos neles e passar algum tempo a observar as aves e a ver os cursos de água que hoje fazem parte da Reserva Natural do Estuário do Sado.
De praia em praia
As praias são o principal atrativo da Comporta e o motivo pelo qual ganhou fama internacional. Na “Hamptons Portuguesa” como foi apelidada pelo Finantial Times, o oceano parece mais azul e a areia mais branca e fina. As dunas cobertas de vegetação completam a paisagem de sonho que nos faz sentir como se estivéssemos nos limites da Terra.
De entre as praias, destaco a da Galé, uma das mais belas de Portugal. Tem enormes falésias de cor ocre e vermelho que quase nos levam a acreditar que estamos a passear na costa australiana. Mas quem não conhece bem a região pede percorrer os quase 60 km de costa, e conhecer todas as opções.
Comecem na Praia da Comporta. Fica situada a sul da península de Tróia, à saída da aldeia da Comporta e é um glorioso trecho de areia branca, preservado pelas dunas que o cercam e pelos campos de arroz que ficam do outro lado. No verão, tem espreguiçadeiras e chapéus de sol para relaxar. Tem também um bar e restaurantes como o Comporta Café Beach Club e a Ilha do Arroz.
Continuando para sul encontram a Praia dos Brejos. Chegar lá não é muito fácil. Só é acessível a pé ou de bicicleta atravessando os arrozais que se estendem entre a Comporta e o Carvalhal. Se forem de carro terão de estacionar junto do café Ti Glória ou do restaurante Gervásio e caminhar pelos arrozais. É uma caminhada longa, mas é agradável, se se evitar os horários mais quentes do dia.
No sopé da duna, encontram um caminho pavimentado que leva a esta maravilhosa praia deserta. Se voltarem no final do dia, lembrem-se de levar um repelente de mosquitos. É absolutamente essencial se não quiserem acabar todos picadinhos.
Pela dificuldade de acesso, esta praia raramente é visitada e no verão é o lugar perfeito para fugir dos turistas que “invadem” as praias vizinhas. A paisagem envolvente está particularmente bem conservada e da praia é possível admirar a reserva natural da Serra da Arrábida. Não há restaurantes ou bares na Praia dos Brejos, por isso, se forem até lá, levem uma cesta de piquenique.
A seguir fica a Praia do Carvalhal. Esta praia está localizada fora da aldeia do Carvalhal e tal como a praia da Comporta está cercada por dunas e campos de arroz. Abriga muitas espécies de insetos, pássaros e flores e está totalmente integrada neste ecossistema.
É servida por restaurantes tradicionais como O Dinis - Dos Pescadores, onde podemos saborear deliciosos peixes grelhados, amêijoas e pratos típicos portugueses e por restaurantes de ambiente mais moderno e contemporâneo como o Sublime Comporta Bech Club, que para além do inevitável peixe grelhado, ostras e marisco, oferece variadíssimas opções internacionais como o tártaro, tataki ou guacamole e uma excelente secção de carne grelhada. A praia do Carvalhal é acessível a pessoas com mobilidade reduzida e tem espreguiçadeiras e chapéus de sol disponíveis para alugar durante o verão.
Depois fica a Praia do Pego. É considerada uma das mais belas praias da Europa, e a sua reputação cresceu quando a revista Condé Nast Traveller elegeu o restaurante local — Sal — um dos dez melhores restaurantes de praia do mundo. A Praia do Pego é ideal para a pratica de natação, surf, bodyboard e kitesurf, tem acesso para pessoas com mobilidade reduzida e espreguiçadeiras e chapéus de sol disponíveis para alugar durante o verão.
Continuando a percorrer a costa podemos descobrir as Praias da Raposa e do Pinheirinho, que são de mais difícil acesso e não tem infra-estruturas nenhumas. A Praia do Pinheirinho é lindíssima, mas chegar até lá é complicado e o ideal é ter um jipe com tração 4×4 para atravessar os trilhos de areia. Tem de seguir pela estrada nacional 261 que atravessa a Comporta e o Carvalhal em direção a Melides, passar pela prisão do Pinheiro da Cruz, encontrar uma saída à direita que dá acesso à Herdade do Pinheirinho, seguir por essa estrada até encontrar uma zona descampada onde podem estacionar e depois atravessar o mato a pé… eu disse que não era fácil.
A praia seguinte é a Praia da Galé. Para aceder a esta praia é necessário percorrer um caminho que parte do pequeno parque de estacionamento junto ao parque de campismo.
A Galé é um pouco diferente das outras praias da Comporta, porque como referi em cima, é rodeada por falésias de arenito vermelho, ricas em fósseis e grandes dunas de areia com formas extraordinárias.
Nos penhascos da Arriba Fóssil da Galé, podemos encontrar evidências de formas de vida com quase cinco milhões de anos. A paisagem é impressionante!
A Praia da Aberta Nova, é a última da lista. Tem cerca de 3,5 km de extensão, por isso é sempre fácil encontrar aqui um local tranquilo para pôr a toalha e desfrutar do cenário. É perfeita para os amantes da pesca desportiva e do alto das dunas, onde fica o Bar dos Tigres, tem-se uma vista fantástica sobre o oceano, sobre a praia e sobre a flora local envolvente. Espreguiçadeiras e toldos estão disponíveis para alugar durante o verão. Os mais pequenos também gostam desta praia porque tem uma zona onde a maré faz uma pequena lagoa que lhes permite brincar sem preocupações. O parque de estacionamento que serve esta praia está localizado a 200 m da costa e é preciso descer uma longa escadaria de madeira para chegar ao areal.
Museu do Arroz e Cais Palafítico
Depois das praias, um passeio pela Comporta exige uma paragem no Museu do Arroz.
Localizado à entrada da aldeia da Comporta, este espaço dedica-se, como o nome indica, à cultura do arroz e às tradições a ela ligadas. Uma visita leva-nos até ao passado e ajuda a compreender o impacto que a rizicultura teve na história e no desenvolvimento da região denominada Herdade da Comporta.
As instalações situam-se numa antiga fábrica de descasque de arroz, datada de 1952, e o edifício integra um dos melhores restaurantes da região — o restaurante Museu do Arroz.
Outro lugar imperdível numa visita à Comporta é o Cais Palafítico da Carrasqueira. Construído entre as décadas de 50 e 60 do século passado, é apoiado em estacas de madeira de aparência frágil e irregular. Atualmente tem como objetivo servir de embarcadouro aos barcos de pesca que ali acostam, tendo algumas centenas de metros nos quais é possível caminhar. Permite ver as embarcações de perto e algumas aves da zona do Estuário do Sado.
A Comporta é um verdadeiro paraíso, onde podemos deixar o tempo voar devagar… Podemos aproveitar a praia no verão ou andar a pé ou a cavalo quando o tempo está mais frio. Podemos passear de barco para ver os golfinhos no mar ou quem sabe fazer um voo de balão de ar quente sobre a natureza selvagem do Sado. Basta escolher. Atividades divertidas não faltam neste local encantado onde a natureza é rainha!
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Artigo originalmente publicado no blogue The Travellight World
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