O Bosque Madiba é constituído por uma centena de árvores, correspondendo cada uma delas a uma data relevante na vida do Prémio Nobel da Paz em 1993. O bosque vai ficar numa área que está a ser recuperada na sequência da destruição causada pelo furacão Leslie em 2018.
É um pouco esta a história do Bussaco: uma mata que está a fazer quase 400 anos e que procurou ser um retiro. Hoje, quem quiser também pode ir para o Bussaco com este objetivo. Fica a dormir nas antigas casas dos antigos guardas florestais, no meio da mata, sem televisão nem internet e até os telemóveis têm pouca rede.
Mesmo assim, o ambiente não tem comparação como o que foi vivido pelos monges carmelitas porque lhes era imposto um voto de silêncio. Só falavam nas rezas dominicais na igreja e de 15 em 15 dias entre eles. O resto era voto de silêncio e até as rezas que faziam nas ermidas eram mentais.
Os carmelitas descalços chegaram ao Bussaco em 1628. Procuravam um lugar para se instalar em Portugal e o primeiro contacto em Sintra não permitia um retiro absoluto devido à presença da corte.
O Bussaco foi a escolha acertada e andaram por aqui até 1860, mais de dois séculos. O fim foi ditado pela extinção das ordens religiosas.
Deixaram um legado valioso e construíram o único “Deserto” português, um retiro absoluto do exterior. Um conjunto que complementa a descoberta cultural com a descoberta da natureza, dos quais se destaca o Convento, a Via Sacra, fontes arquitectónicas, miradouros e algumas espécies de árvores notáveis. Há ainda o Palace.
Não eram muitos os carmelitas descalços. Em simultâneo, estariam no Bussaco o máximo de 20 monges. Alguns dormiam no Convento de Santa Cruz que construíram e outros nas ermidas no meio da mata e que ainda hoje existem. Eram constituídas por um pequeno quarto, um oratório, uma capela muito pequena e a cozinha. De certa forma, o que é hoje o Bussaco deve-se a eles. O legado edificado, cultural e natural.
Muitas das espécies aqui plantadas foram escolha dos monges. O caso mais conhecido é o denominado Cedro do Bussaco que é um cipreste originário do México. Eles queriam árvores muito altas porque acreditavam que assim estavam mais próximos de Deus.
A preocupação em manter a mata, de salvaguardar as espécies esteve na origem de um dos primeiros documentos ecológico. É a Bula Papal Urbano VIII, de 1643, que excomungava quem cortasse árvores ou cometesse outro tipo de danos à Mata.
Esta bula está replicada nas Portas de Coimbra, um dos acesso à mata e que os carmelitas fecharam para garantir o Deserto. Havia direito de admissão. Mulheres não entravam, seriam excomungadas.
Esta era a sanção que está escrita noutra bula que também lemos nas Portas de Coimbra. Na verdade, não foi bem assim. Terá havido algumas excepções. Por exemplo, o relato da Poetisa Bernarda Lacerda na obra Soledades de Bussaco leva a crer que terá andado na Mata.
Curiosamente um dos lugares com mais sucesso nos dias de hoje é a igreja do Convento. É muito procurada para casamentos. Mesmo por estrangeiros.
Outro lugar utilizado é as Portas de Coimbra, junto a um miradouro que em dias limpos alcança a Serra da Boa Viagem, junto à Figueira da Foz.
Do miradouro temos também uma perspectiva mais detalhada da arte dos embrechados. A utilização de pequenas pedras como se estivessem embutidas nas paredes, para efeitos decorativos. O Convento de Santa Cruz também tem uma grande diversidade de decorações com pedras. Na igreja domina a cortiça. A arte dos embrechados também se destaca nas ermidas e em pequenas construções que recriam a via-sacra.
Como os monges pretendiam replicar Jerusalém, construíram uma via-sacra com a mesma dimensão e as mesmas distâncias entre os vários “passos”.
Nos percursos no meio da mata conseguimos ver várias destas construções. Na Páscoa um grupo de pessoas recria a Via Sacra na sexta feira santa.
Estas ermidas ficam relativamente próximas do jardim central que antes era a horta e que alimentava os monges. O jardim está muito bem cuidado e faz parte do postal ilustrado em conjunto com o Palace.
O hotel foi mandado construir em 1888 e ocupou parte do Convento. A obra é da autoria do arquitecto italiano Luigi Manini, cenógrafo do Teatro Nacional de S. Carlos. O edifício foi construído em várias fases e revela vários estilos com forte influência neomanuelina. A estrutura central tem três pisos e um torreão à semelhança da Torre de Belém, em Lisboa.
A finalidade da construção é um pouco incerta. A intenção inicial seria um palácio real mas depois foi adaptado para hotel. Na expressão do então ministro das Obras Públicas, Emídio Navarro, devia ser construído um “palácio do povo”.
Esta área da Mata é muito visitada. Há várias estruturas de apoio e muitos casais românticos.
Quem procura o silêncio tem outras zonas dos 105 hectares da Mata onde pode contemplar a natureza num retiro absoluto. Há muitos cursos de água e a vegetação é densa. A humidade e as árvores altas dão frescura às caminhadas mesmo nos dias mais quentes de Verão.
Há vários trilhos e nos passeios não se pode perder a atenção para o adernal.
É o maior conjunto de adernos em todo o Mundo. São anteriores à vinda dos monges carmelitas para o Bussaco. É uma árvore que os ramos dos arbustos se entrelaçam e formam o tronco principal. Atingem vários metros de altura. Em algumas partes, formam um autêntico bosque com sucessivos entrelaçados e formas difusas. É no Bussaco que se encontra a maior concentração deste tipo de vegetação.
Este é um dos motivos porque há famílias a procurar pernoitar uns dias no Bussaco nas antigas casas dos Guardas Florestais que foram recuperadas. Vão à procura do contacto com a natureza. Outros, também originários das cidades, querem romper com o stress fazer um retiro.
A riqueza natural e o património edificado único são os pilares da candidatura da Mata Nacional do Bussaco a Património Mundial da Humanidade pela Unesco.
O Bussaco está classificado como Monumento Nacional. A Mata do Bussaco é gerida por uma Fundação.
De realçar, entre as muitas iniciativas desenvolvidas, o esforço de reflorestação que envolve personalidades conhecidas do mundo das artes. É o “Trilho dos Famosos”.
Bussaco: a mata nacional dos votos de casamento e silêncio faz parte do podcast da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e pode ouvir aqui.
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