E o Algarve tem uma panóplia de cheiros característicos que o eternizam no nosso coração. É o cheiro do sal, do sal misturado com a areia, da areia misturada com creme protetor e os cestos de bola de berlim e bolacha americana. É o branco das casas, o branco das vestes penduradas no estendal, o mesmo branco das toalhas de mesa impecavelmente passadas a ferro nos restaurantes à beira-mar.

Para mim, já era uma segunda casa (mesmo que sazonal) e, em 2018, tornou-se a minha nova morada quando regressei de um programa de voluntariado em Marrocos. Assentou que nem uma luva mudar de Marraquexe para Faro, por mais estranho que pareça! Açoteia sim, açoteia não, há uma presença Moura aqui pela qual me deixei encantar.

Faro
Faro créditos: Pixabay

Desafio-te, gapper, a passar por terras sulistas durante o teu gap year e a explorar sítios tão autênticos como a sua gente. Gente com tanto de personalidade, como de simplicidade. Vens daí?

Fazendo o percurso como me faz mais sentido, iniciamos viagem na ponta do Sotavento Algarvio. Vila Real de Santo António é a última terra portuguesa antes de Espanha, mas nem por isso perde um pingo de nacionalidade. Nascida em 1773, a cidade prosperou outrora por ser considerada um importante centro conserveiro (fartura na sardinha e no atum) e de passagem obrigatória pelos barcos com destino ao Alentejo para comercializar o tão raro minério. Hoje, a atividade continua a centrar-se na pesca e agricultura, sem descurar o turismo.

Vila Real de Santo António
Praça Marquês de Pombal, Vila Real de Santo António créditos: Lusa

Caso sintas indecisão sobre que percurso profissional seguir (eu mesma dediquei um ano da minha vida a isto), recomendo falares com o Manuel Serra, diretor da Escola Superior de Hotelaria e Turismo. Foi a pessoa que me mostrou as várias formações disponíveis para melhor impactar o público local e a faculdade recebe qualquer pessoa que queira conhecer o espaço e o que pode vir a oferecer.

Se, por um lado, gostavas de meter a mão na massa e voluntariar ou apoiar uma causa, o projeto Akivida é um bom ponto de partida. Esta ONG tem como objetivo principal a educação ao longo da vida e pretende que a comunidade exercite a cidadania de forma organizada. Isto é, sejas jovem, menos jovem, com necessidades especiais ou pertenças a um grupo desfavorecido, qualquer pessoa pode fazer parte desta Universidade dos Tempos Livres e desenvolver os seus conhecimentos.

Se, por outro lado, pensas em arrecadar algum dinheiro, podes procurar por trabalhos na apanha de fruta, como as laranjas que dão todo o ano. Calhando a ser setembro, contacta o António Duarte, a colheita da azeitona é feita nessa altura nos viveiros Monterosa em Moncarapacho. Além de poderes ser uma ajuda extra, complementa com uma visita ao lagar e aprende sobre a árvore sustentável que é a oliveira e os truques para escolher o melhor azeite. Eu já os sei e não, não vou partilhar!

Algarve: Descobre as pérolas do Sotavento
Colheita de Azeitona, Moncarapacho. Viveiros Monterosa, Lda créditos: Stills Photography

Pois bem, e o que comer? Não podes perder o choco frito, é a especialidade em Vila Real de Santo António e, assim que possas, apanha o comboio para a maravilhosa praia do Barril em Tavira. Experiência mágica.

E calma, não vou terminar esta aventura, sem te contar sobre a mais preciosa pérola do Algarve. Não é mais, nem menos que o Parque Natural da Ria Formosa, o cordão dunar arenoso litoral que protege a zona lagunar. Este sistema inclui uma grande variedade de habitats de evidente diversidade florística e faunística. Com mais de 17.000 hectares, o parque é uma estância única de observação de aves aquáticas migratórias do norte da Europa, que passam aqui o inverno ou simplesmente fazem aqui uma pausa antes de rumarem ao sul. Tive um “livre passe” à entrada por lá ter levado o meu primo biólogo e não me arrependo nem um segundo!

Também aposto que já estás a desesperar sem saber onde ficar, não é? Acontece que a sede desta reserva fica junto ao parque de campismo Olhanense. Aí tens a tua resposta. E antes de um pôr-do-sol, parte à descoberta de Olhão, apelidada de vila cubista, começando pelo icónico mercado e terminando no Chalet do Poeta João Lúcio. Lá está, o melhor guarda-se para o fim. Com amor, elevado ao cubo!

Marina de Olhão
Marina de Olhão créditos: Andreia Prino Pires

Texto e fotografia por: Andreia Prino Pires