Há um conjunto significativo de estudos sobre a existência destas casas e dos esforços do combate ao infanticídio e ao abandono infantil desenvolvidos por Pina Manique no final do século XVIII.
Há também muitas monografias que relatam a situação da mulher em algumas localidades, em especial a vulnerabilidade das trabalhadoras agrícolas e de inúmeros casos de filhos bastardos nas casas da nobreza rural. Mas uma Casa da Roda, com a sua estrutura original, não há muitas.
A de Caria é toda em pedra, data de 1784 e foi recuperada há menos de uma década.
Como quase todas as casas da Roda estava num lugar discreto. O objetivo era garantir o anonimato das mães.
Numa das fachadas está uma abertura, com um formato idêntico ao de uma janela e com uma estrutura giratória de madeira de dois patamares.
Um para colocar o bebé, outro para os pertences e que permitia à mulher, mais tarde, reivindicar a tutela da criança. Era raro e quando sucedia era festejado com um baile como é ilustrado numa fotografia que está no interior da casa. A maior parte das crianças morriam.
A entrega das crianças era costume ser feito durante a noite e no interior da casa estava a ama de leite que era alertada pelo toque de uma campainha.
No interior estavam dois berços. O azul para os bebés do sexo masculino e cor de rosa para as meninas. Havia ainda material para alimentar os bebés, como as mamadeiras de vidro que estão em exposição.
As Casas da Roda deixaram de funcionar em meados do século XIX devido a contestação popular.
O centro histórico de Caria vale a pena ser visitado porque, além da casa da Roda tem outro património relevante como é o caso da Igreja Matriz, a Casa da Torre que é o paço episcopal dos bispos da Guarda e que terá sido construído com base no antigo castelo de Caria.
Ao caminhar no centro histórico descobre ainda o solar Quevedo Pessanha e o palacete visconde de Tinalhas.
Neste largo está ainda a capela de Santo António cuja origem é do século XVII e remodelada em 1767.
Não deixe ainda de conhecer a Casa Etnográfica.
É uma casa antiga de pedra com vários pisos e há uma grande variedade de objetos. Pode, por exemplo, descobrir os utensílios do homem que era em simultâneo barbeiro e dentista, em meados do século passado.
Há também trajes antigos, elementos decorativos de uma casa tradicional beirã e dos espaços públicos. Uma das curiosidades são os calendários com as fotografias das "meninas", uma imitação nacional da Playboy.
Em outros espaços são evocados organizações e eventos locais.
Em Caria há ainda cruciformes nos portados das casas, assinalando a presença de judeus, o que não é de estranhar devido à proximidade com Belmonte.
A Casa da Roda de Caria faz parte do podcast semanal da Antena1 Vou Ali e Já Venho e pode ouvir aqui.
A emissão deste episódio, A Casa da Roda de Caria, pode ouvir aqui.
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