SAPO Viagens: Pode descrever-nos a logística envolvida nesta deslocação até à Rússia?
Humberto Martins: Cheguei à Rússia no dia 23, de madrugada. Foram 21 horas de voos e aeroportos. Saí do Porto pelas 6 da manhã de dia 22 e cheguei, já dia 23, a Mineralnie Vodi (Cáucaso/Rússia). Foi uma logística idêntica a outros tantos voos com a exceção de ter de tratar da minha bagagem em Istambul, por ter comprado voo para entrar na Rússia a uma companhia de aviação russa. Foi uma cunhada (cidadã russa) que me conseguiu comprar o voo através de um site russo. Sem essa ajuda penso que não teria sido possível. Istambul é uma das poucas “pontes” que dá acesso a voos internacionais para a Rússia.
No relato partilhado no Facebook, o Humberto refere algumas atribulações à chegada. É algo habitual nestas viagens internacionais a sítios mais remotos? Como se prepara para estes pequenos imprevistos?
Nada de especial. Apenas passei por um controlo mais apertado na fronteira. Penso que foi o “profissionalismo” da agente que estava de serviço que levou a esse controlo. Apenas fez com que houvesse um atraso de mais de hora e meia e quando saí do aeroporto já não havia nada aberto. Tive que acreditar na honestidade de dois taxistas, o que não se veio a confirmar.
A viagem do aeroporto para o hotel ficou mais cara 20 euros e comprei um cartão SIM para comunicar com a minha família, mas o mesmo não estava em funcionamento.
Fora estas peripécias, que ficam para mais tarde recordar, foi uma chegada normal de um estrangeiro fora do espaço Schengen.
Agora que o Elbrus foi conquistado, como descreve o grau de dificuldade desta subida?
Já tinha lido e visto imensos vídeos acerca desta montanha. Estava familiarizado com a mesma. Poucas surpresas tive. Sabia que fisicamente não era das mais exigentes e que a aclimatação devido aos seus 5.642 metros de altitude não seriam um obstáculo.
Tudo correu normalmente com a exceção do dia de cume. Deitamo-nos pelas 21 horas com despertador para a meia-noite. Quando nos deitamos estava uma noite de luar fantástica. Quando acordamos estava a nevar com muito vento.
Foram 4 horas a subir com muito vento e neve e sem visibilidade alguma. O frio fez-se sentir mais um pouco, mas quando o sol apareceu tudo se transformou. A energia que sentimos nesse momento é enorme.
Resumindo, penso ser uma subida de nível médio-baixo de dificuldade.
Em 2023, o Humberto "riscou" dois cumes da lista de sete. Que sensações o atravessam ao pensar nisto?
Acima de tudo sinto que o projeto está a valer a pena. Desfrutei cada momento. A beleza que encontramos nestes locais dificilmente poderá ser descrita ou fotografada. As pessoas que conhecemos trazem-nos imensas histórias e experiências. Sinto-me mais rico como pessoa.
Para além disso faz-me pensar que ainda falta muito e que será um enorme desafio conseguir os 7 Cumes.
O Humberto já anunciou que o próximo cume a subir, em 2024, será o Denali, na América do Norte. Há alguma característica nesta montanha que se destaque para si como especialmente desafiante?
Tem duas características que levam a demonstrar respeito.
A sua latitude em relação ao Equador, o que faz com que seja mais fria até que o próprio Everest. Está quase inserida no círculo polar norte.
Outra característica que importar pesar, é a sua elevação em relação à sua base (5.500 metros), o que faz com que seja a montanha mais elevada do mundo nesse aspecto. Em termos físicos, é muito exigente.
A partir de agora, para as quatro montanhas em falta, terei de ter uma preparação específica para cada uma. São montanhas com características diferenciadas e que apresentam desafios próprios.
Mas são estes desafios que me fazem querer voltar à montanha.
Obrigado, Humberto!
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