Este ano, completou uma volta ao globo, aventura que entrou diretamente para a lista de viagens mais marcantes. Não só pela experiência "extraordinária", mas também pelo "desafio superado". De cadeira de rodas, Sofia Martins explora o mundo, com foco nas acessibilidades e inspirando outras pessoas a fazer o mesmo. "A dica mais valiosa que costumo dar é o nome do meu blog, Just Go”, conta a nossa Viajante do Mês de outubro.
Como/quando começou o “bichinho” das viagens?
Acho que o bichinho das viagens começou em pequena, pois costumava fazer viagens de carro pela Europa com os meus pais e o meu irmão e era sempre uma aventura e uma emoção. Já lá vão alguns anos e ainda existiam fronteiras, a moeda era diferente em cada país, aliás, tudo era muito diferente de cada vez que se mudava de país. Não havia Internet, como hoje, e partíamos à aventura, sem hotéis marcados e, muitas vezes, sem destino certo. Acabámos algumas vezes a dormir dentro do carro em estações de serviço por não conseguir hotel à última hora.
De que forma tenta inspirar os seus seguidores no Instagram?
As minhas partilhas procuram mostrar como organizo a minha viagem, como vou e o que faço, focando sempre a questão das acessibilidades, principalmente, para quem anda em cadeira de rodas, como eu. As acessibilidades são um problema e quando saímos da nossa zona de conforto, à qual já estamos habituados, tudo se torna mais complicado. Mas a mensagem que tento passar é que a maioria dos destinos são iguais às cidades onde vivemos e que o estar em viagem e de férias também nos dá mais liberdade para mudar planos e contornar obstáculos. Tento sempre descomplicar de forma a aliviar a insegurança que dá antes de partir, principalmente, quando implica andar de avião, que é o mais desconfortável para quem está em cadeira de rodas, pelo menos para mim.
Tento sempre descomplicar de forma a aliviar a insegurança que dá antes de partir
Viajar com mobilidade reduzida. Dificuldades, desafios e motivação.
As principais dificuldades, para quem viaja com mobilidade condicionada, prendem-se com a falta de acessibilidades o que se revela de várias formas: nas ruas, nos transportes, nos alojamentos e em todos os espaços de que queremos usufruir o mais possível.
Ir para um lugar desconhecido onde não sabemos se nos vamos conseguir movimentar com facilidade e de forma independente causa bastante desconforto e leva mesmo a que muitas pessoas desistam de o fazer.
Trago sempre um sentimento de vitória por ter superado mais um desafio e por ter vencido mais uma série de obstáculos
Andar de avião, de comboio, metro ou qualquer outro meio de transporte não é normalmente um processo fácil. Para quem viaja de cadeira de rodas, além de termos que perceber se é acessível, muitas vezes tem que ser marcado com alguma antecedência. Reservar alojamento acessível e adaptado requer alguma perícia, uma vez que, na maioria das vezes, não se encontra informação e, quando há, não é fidedigna.
É, realmente, um desafio viajar com mobilidade condicionada, mas é possível e, se nos preparamos e organizarmos, acaba por correr sempre tudo bem. Quando regresso de uma viagem, além do prazer que tive, trago sempre um sentimento de vitória por ter superado mais um desafio e por ter vencido mais uma série de obstáculos.
Além de viajar, gosta muito de…
Ao contrário da maioria das pessoas, gosto muito de explorar os locais onde estive, depois de ter regressado. Faço-o quando estou a escrever os artigos sobre as viagens e descubro, muitas vezes, coisas de que me arrependo por não ter feito ou visto.
Gosto muito de estar com os amigos, de ler, ir ao cinema, adoro mergulhar no mar e de sair pelas cidades portuguesas como se fosse turista.
Viagens mais marcantes e porquê?
Tenho várias! Mas, sem dúvida, que a volta ao mundo, este ano, me marcou muito, não só pela viagem em si, que foi extraordinária, mas também porque foi um desafio superado. Foram quarenta dias, três continentes, vários países, dez viagens de avião e várias road trips o que fez com que, fisicamente, tenha sido muito desafiante. Fazê-lo numa cadeira de rodas exigiu uma grande preparação e organização e ter corrido tudo bem trouxe-me muita confiança para continuar a viajar.
Destino que quer regressar e porquê?
Quando estou num destino, penso sempre no que faria se regressasse, mas, quando estou a decidir onde ir, nunca penso em repetir porque me falta ainda muito mundo por descobrir. Mas voltaria ao Brasil, porque fui há muitos anos e só conheci o Rio de Janeiro, que adorei, e gostava de explorar mais este país.
Maior peripécia, susto ou experiência marcante que já passou em viagem?
O maior susto foi na República Dominicana, no aeroporto, em que desconfiaram que tínhamos roubado uns óculos e nos levaram para nos revistar. Foi uma situação muito desagradável, que hoje é uma história para contar, mas na altura me deixou muito desconfortável.
O primeiro destino da “bucket list” das próximas viagens.
Alguns países da América do Sul e a Antártida. Não sei se irá acontecer, mas adorava. Tenho ainda que perceber, em termos de acessibilidades, se será possível.
Dica de viagem mais valiosa que pode dar.
A dica mais valiosa que costumo dar é o nome do meu blog, “Just Go”. Se pensarmos em tudo o que pode correr mal e os imprevistos que podem acontecer, em viagem, nunca vamos sair de casa. Por isso, a minha dica é “vão” e, depois, logo se vê.
Lugar preferido em Portugal.
O Alentejo. Foi onde passei muito tempo da minha infância, em casa dos meus avós, o que me traz muitas e boas recordações. Nem sempre encontro muito boa acessibilidade, mas encontro sempre boa vontade. O Alentejo, principalmente, na primavera e no outono, é lindo e traz muita tranquilidade e muita paz. Sempre que posso é para onde vou.
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