Liguei o computador na esperança de localizar rapidamente a Turquia no mapa. Estamos no ponto de transição entre a Europa e a Ásia, em que, tal como acontece na zona onde o rio se cruza com o mar, os elementos de um misturam-se com os do outro. O islamismo, judaísmo e cristianismo coabitam num espaço que outrora pertenceu aos bizantinos e otomanos. Os primeiros foram expulsos pelos segundos, que, por sua vez, foram traídos pela aliança secreta que fizeram com a Alemanha na I Guerra Mundial. De Bizâncio a Constantinopla e de Constantinopla a Istambul, a evolução do nome da capital traduz a história de um país que hoje é também centro de decisões europeias.

Passei uma semana em Antalya, uma cidade a pouco mais de 700 Km de Istambul. Apesar de diferente, a cultura não me chocou. Talvez me tenha surpreendido apenas com as chamadas para as orações que são feitas a meio da noite. O anúncio surge do alto do minarete, a torre que integra as mesquitas. Existem cinco orações muçulmanas obrigatórias: Fajr, Dhuhr, Asr, Maghrib e Isha. A hora depende sempre da posição do sol.

No dia de regresso a Lisboa acordei antes das seis da manhã. A chamada para a oração serviu de despertador. Faltava algum tempo para chegar a carrinha que nos ia levar para o aeroporto. Sentei-me numa espreguiçadeira junto à piscina a comer uma laranja. É claro que a meio da minha refeição improvisada, o autocarro chegou, uma metade da laranja ficou por comer, e a outra nas minhas mãos e roupa. Chego à fila para o avião a desejar sentar-me e cair num sono profundo. Enquanto espero, faço o pouco que posso. Olho à volta. Uma senhora surge com o nariz todo enfaixado. Ao lado, um senhor tem uma ligadura à volta da cabeça. Mais à esquerda, uma rapariga com uns lábios enormes e, mais à frente, uma outra com feições que me parecem pouco naturais.

A Turquia é a capital europeia do implante capilar e cirurgia estética. O tempo transforma-nos e alcançar a nossa definição de perfeição torna-se uma tarefa cada vez mais exigente. Confesso que também eu tenho medo de perder o cabelo. E cabelos brancos? Sei que vou querer arrancá-los um a um ou até mesmo pintá-los. Mas também sei que, no dia seguinte, vou ver-me ao espelho e já lá estão mais cinco ou seis, que de repente triplicam e a partir daí é sempre somar. As rugas também hão de aparecer. O botox pode ser a solução, mas acaba por ser como as muralhas de areia que construímos na praia para evitar o avanço do mar. Estamos apenas a adiar a escrita de uma história que precisa mesmo de mais uma linha para que possa encontrar um desfecho.

Nas redes sociais, cada vez mais se tem normalizado tanto as transformações naturais do corpo, como o recurso a procedimentos estéticos. Ainda bem que assim o é. É urgente sentirmo-nos bem. Uma vez adquirido o voo para a Turquia, resta-me apenas aconselhar a compra de um creme de rosto com ácido hialurónico. A pele fica hidratada, não há efeitos secundários, nem é preciso ficar o mês seguinte privado de apanhar sol. Não é todos os dias que se pode mergulhar nas águas quentes do Mediterrâneo.

O Miguel estuda jornalismo, pratica esgrima e nos tempos livres escreve sobre as viagens que faz no seu blog, Ponto de Fuga.