Valletta é uma cidade para descobrir a pé, por entre as ruas estreitas com um monumento a cada esquina e o barroco a prevalecer sobre os outros estilos arquitectónicos. Valletta lembra Braga, com os mesmos tons dourados, edifícios de inspiração barroca, uma igreja em cada canto, nomes de portugueses nas paredes e a crença religiosa bem patente em cada recanto.
A cidade de Valletta começou a ser construída depois da guerra entre turcos e a Ordem dos Cavaleiros de S. João, então instalada em Malta, terminada em 1565 quando os turcos se retiraram derrotados. Os soldados fixaram-se naquele local e quando o grão-mestre da Ordem, Jean Parisot de la Valette, se apercebeu de que era ali que a ordem queria ficar, mandou construir uma cidade fortificada.
O Papa Pio V enviou um engenheiro italiano para Malta, e assim começou a criação do que, agora, é a capital de Malta, com o seu nome inspirado pelo grão-mestre que a planeou. Valletta substituiu Mdina enquanto capital e tornou-se um importante ponto estratégico no mediterrâneo.
A cidade cresceu, construída com uma grande preocupação defensiva, que ainda hoje se nota nas ruas, nas muralhas e nos muitos canhões que podemos ver. A cidade desenvolveu-se à volta da Ordem de São João que ali estava estabelecida e, ainda hoje, se percebe a influencia da ordem na cidade, sendo possível encontrar várias referências à mesma.
E é aqui que a história de Valletta se cruza com nomes portugueses. Foram três os grão-mestres portugueses que administraram a cidade, durante a Idade Média, e se um não foi capaz de perpetuar o seu nome na história da cidade, os outros dois sim. Um foi amado pelos malteses, outro amou Malta, ainda que o amor não fosse, muitas vezes, recíproco.
António Manoel de Vilhena é um nome que soa a português, mas que a maioria dos portugueses é incapaz de associar a alguém. No entanto, é um nome guardado no coração dos malteses, uma figura histórica importante e uma das mais amadas. Foi grão-mestre e o seu legado continua na capital maltesa, em cada rua, em cada esquina, em cada edifício. Ficaram imponentes construções que mandou edificar, um clube de futebol e uma rádio local com o seu nome, o teatro de ópera e os vários bustos e estátuas em sua homenagem perpetuam o que a memória não deixa esquecer. Este português administrou Valletta e tornou-se querido entre todos. É possível encontrar a sua estátua no Palácio da Ordem num subúrbio de Valletta e o seu nome está no Forte Manuel e no Teatro Manuel - o segundo teatro mais antigo da Europa ainda em funcionamento.
Valletta leva um pouco de Portugal, mas não só pelo nome de António Manuel de Vilhena. Passando em frente ao Albergue de Castela, edifício que hospeda o gabinete do Primeiro-Ministro, é possível ver um busto na fachada com mais um nome que soa português: Manuel Pinto da Fonseca.
Manuel Pinto da Fonseca foi o quarto grão-mestre português da Ordem (terceiro em Valletta). Não foi tão amado pelo povo, muito devido aos altos impostos que impôs. Além disso, fez muitos inimigos na nobreza ao criar novos títulos nobiliárquicos e no clero ao expulsar os jesuítas da ilha. Ainda assim, amou Malta. Completou o Albergue de Castela, uma das construções mais importantes da capital, na fachada do qual ainda é possível ver o seu busto. A 25 de maio de 1743, deu nome à cidade de Qormi que foi denominada Città Pinto. O seu brasão de armas é caracterizado por cinco crescentes vermelhos, simbolizando o número de otomanos que Manuel Pinto da Fonseca tinha vencido de uma só vez, durante a revolta. Encontra-se sepultado em Valletta e o seu túmulo é uma das principais atracções da ilha.
Os três grão-mestres portugueses estão sepultados na Co-Catedral de S. João, o monumento mais deslumbrante e rico de Malta, assim como mais de 400 cavaleiros e outros membros da ordem. O edifício, que funcionou como igreja conventual da Ordem de São João, é uma das maiores atrações da cidade e é muito fácil entender porquê.
A fachada simples passa despercebida, numa cidade com uma igreja em cada esquina mas ao entrar na Co-Catedral é impossível não ficar rendido à magnificência da obra. O interior é, totalmente, ornamentado com pinturas, talha dourada e tectos abobadados. A catedral contem oito capelas, cada uma dedicada ao santo padroeiro das 8 línguas (ou regiões) dos Cavaleiros da Ordem. Entre elas está a capela de Castela, Leão e Portugal, dedicada a Santiago Maior, onde se encontram os monumentos funerários dos grão-mestres portugueses.
Um dos locais mais emblemáticos é a sala do Oratório, onde podemos encontrar o famoso quadro de Caravaggio com a “Decapitação de São João Baptista”, criado em 1608. Dizem ser a maior obra criada pelo artista, uma das últimas e a única assinada por ele. Embora a maior e mais famosa, esta não é a única obra de Caravaggio na catedral, uma outra, mais pequena, onde está representado São Jerónimo ocupa, também, a catedral.
A entrada custa 10 euros, mas ver tudo que existe nesta catedral vale bem mais do que isso e é um local de paragem obrigatória.
Valletta está intrinsecamente ligada à história da Ordem de São João de Jerusalém. Foi dominada por Fenícios, Gregos, Cartagineses, Romanos, Bizantinos, Muçulmanos e pela Ordem de São João ao longo da sua história. E isso deixou marcas numa cidade que é um pouco de tudo, misturando vários estilos num lugar de inspiração, predominantemente, barroca. A sua riqueza história e cultural e o facto de um dos locais com maior densidade histórica do mundo fizeram de Valletta Património Mundial da UNESCO.
O SAPO Viagens visitou Malta a convite do Turismo de Malta
Publicado originalmente a 8 de outubro de 2018
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