Por: Manuel Carvalho
Partimos às oito horas da manhã da estação de Mbezi, em Dar es Salaam, a maior cidade da Tanzânia, num autocarro que se destinava ao Norte do país, bem perto da fronteira com o Quénia.
Nesta zona, encontram-se as áreas metropolitanas de Moshi e Arusha, ambas no sopé de colossais, mas elegantes, montanhas: o Monte Kilimanjaro e o Monte Meru, respetivamente.
No entanto, aquilo que leva a maioria dos turistas a visitar esta região (com exceção dos destemidos aventureiros que tentam subir a mais alta montanha africana) são mesmo os parques naturais, afamados por proporcionarem algumas das melhores tours de safari do planeta. E foi justamente por aí que escolhemos começar.
Após longas mas amigáveis negociações (como tem sido hábito nesta viagem), aceitámos um programa de quatro dias que incluía visitas de jipe a três dos melhores parques do país: Tarangire, Serengeti e Ngorongoro. Vamos então a eles.
Tarangire National Park
Este não é o mais reputado dos parques naturais africanos (estar ao lado de um titã neste tópico como o Serengeti não ajudará), mas está longe de ser o "patinho feio" deste programa.
O Tarangire National Park estende-se por 2850 km2 (para comparação, uma área 42 vezes superior à do Hell's Gate National Park, onde estivemos no Quénia), sendo o habitat de mais de quatro mil elefantes, das enormes (e raras) árvores baobab, e das três espécies de predadores mais procuradas - leão, chita e leopardo.
Assim que entrámos, deparámo-nos com uma paisagem árida, embora conseguíssemos distinguir tons de verde mais vivos do que o tipicamente encontrado nas savanas africanas. Rapidamente avistámos algumas árvores baobab no meio de inúmeras acácias e descobrimos que contribuem para a elevada quantidade de flora no parque, pela sua capacidade de armazenar enormes quantidades de água e enriquecer assim o solo nas estações secas (são por isso chamadas de "árvores da vida"). Outro pormenor que sobressaiu imediatamente foi a enorme quantidade de ninhos de térmitas que cresciam até alguns metros do solo e que, hoje em dia, são ocupados por grupos de mangustos-anões.
Um pouco mais à frente, à medida que nos aproximávamos do rio Tarangire (que deu nome ao parque), começaram a surgir, bem perto de nós, as prometidas manadas de elefantes.
A certa altura, demos por nós vários minutos seguidos a contemplar a beleza do dia-a-dia dos elefantes: a forma única como usam a tromba, para arrancar os tufos de relva com que se alimentam, ou para se encherem de terra, para matar os parasitas que se encontram na pele. Tudo isto enquanto ignoravam o enorme jipe parado a menos de dois metros, como se fosse um inseto (sinceramente, não sei o que pode ser intimidador para um animal com seis toneladas e chifres que crescem até dois metros).
Mais para o fim do dia, o walkie-talkie do nosso guia recebeu uma mensagem da qual só captámos a palavra "simba" (“leão” em swahili), mas que foi suficiente para o jipe mudar de direção e aumentar a velocidade até chegar a uma árvore rodeada por outros quatro jipes (o que costuma ser um sinal positivo).
Num dos ramos da árvore encontrava-se uma leoa, a observar atentamente manadas de gnus e zebras a poucas centenas de metros e, citando os guias, "com muita vontade de caçar".
Infelizmente, o sol estava a desaparecer e, pouco depois, estava na hora de seguirmos para o alojamento onde passámos a primeira noite, perto do Lago Manyara.
Serengeti National Park
Chegámos ao popular Parque Nacional do Serengeti perto da hora de almoço do nosso segundo dia, com os termómetros a marcar acima dos 30 graus.
As expetativas estavam, claro, altíssimas. Mas sabíamos que o calor, na teoria, ia dificultar a observação de animais, já que, nestas horas do dia, estes se tendem a esconder em zonas frescas e com sombra.
Ainda assim, os primeiros instantes no Serengeti foram imediatamente apaixonantes.
A interminável pradaria (na verdade, o nome Serengeti significa “o sítio onde a terra se estende sem fim”), que tantas vezes tínhamos visto na televisão, estava ali, à nossa frente. E, apesar da ausência de sombra (apenas algumas acácias esparsamente distribuídas), vida selvagem não lhe faltava. Pelo contrário. Centenas, milhares de gazelas espalhavam-se pela erva rasteira que ficava do nosso lado direito. Do esquerdo, outras tantas zebras viviam em comunhão com gnus e impalas. Mais à frente, apareceram os javalis, as hienas, as girafas, os antilopes e os búfalos. Depois, os hipopótamos, os elefantes, as avestruzes, e, mais tarde (e mais escondidos), os leopardos e os leões.
Pouco antes de anoitecer, seguimos para o Seronera Campsite, o parque de campismo onde pernoitámos, em tendas e no coração do Serengeti. A preocupação era alguma, visto que o parque não tinha qualquer vedação e havíamos passado, por exemplo, por um leopardo a poucos quilómetros de onde estávamos, mas rapidamente nos tranquilizaram e a noite correu bem, protegidos por um céu muito estrelado.
No dia seguinte, eram cinco horas e meia quando nos levantámos e estava ainda escuro. Os primeiros minutos foram árduos, mas as horas que ficaram por dormir e o frio que se sentia foram esquecidos assim que o sol começou a aparecer por trás das árvores, num laranja vivo que coloria o amarelo creme da savana, oferecendo-nos um dos nasceres-do-sol mais memoráveis das nossas vidas.
A um céu magnifico, juntaram-se dezenas de balões de ar quente que descolaram, brindando turistas um pouco mais abastados com as melhores horas diárias de observação de vida selvagem.
Uns metros abaixo, partiu o nosso jipe para seis horas de passeio, com poucas paragens, e das quais se destacou termos conseguido, pela primeira vez, avistar chitas, os mais velozes animais terrestres existentes. Foram mais seis horas de paisagens magníficas, das melhores que alguma vez tivemos oportunidade de apreciar.
Voltámos, de seguida, às nossas tendas para o almoço e para, de seguida, partir para o próximo (e último) destino.
Ngorongoro Conservation Area
Último destino esse que era a fascinante cratera de Ngorongoro, a maior cratera intacta do mundo, formada após um vulcão com a altura do Monte Kilimanjaro colapsar. Tem mais de 19 quilómetros de diâmetro, e vida selvagem em abundância, tanto no topo como no fundo da cratera...
Continua na próxima semana…
Projeto Prá frente
O Projeto Prá Frente foi criado por dois jovens engenheiros, com a intenção de conhecer (e partilhar) uma perspetiva completa do Sudeste Africano, focando-se não só no seu património deslumbrante, mas também nas suas pessoas e naquilo que tem para oferecer para o futuro.
Para saber mais siga o Instagram: @projeto_prafrente
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