É Natal. Estamos na Tailândia, bem a norte, a esses 10'000 Km de casa. Hoje e aqui, como há 16 Natais, as nossas mãos dão-se: onde quer que estejamos estamos sempre de mãos dadas no Natal. Estas mãos (que trazemos) trazem – nas linhas que dizem que as mãos têm – a nossa história, a nossa filha, a nossa casa, os nossos empregos, os nossos medos e coragens, as nossas conquistas, os nossos sonhos. Algures, nas nossas mãos, está esta viagem; algures, nestas mãos, está esta árvore: a nossa árvore.
Foi a quatro mãos que abrimos a terra para lhe dar (mais) vida. Foram estas mãos que trazemos – e que se conheceram quando ainda mal tinham histórias nas suas linhas – que pegaram na pá, que abriram a terra e que a encheram com as raízes da árvore que escolhemos e que depois voltámos a cobrir de terra. É a nossa árvore: plantada pelas nossas mãos.
Enquanto as nossas mãos adultas trabalhavam por uma vontade, há muito guardada, as suas mãos de menina dormiam o sono que as tardes lhe trazem.
Ela dormia – ali bem perto – e eu enchia as minhas mãos de terra, cobria as raízes da árvore, como poucos minutos antes a tinha coberto a ela, depois de me adormecer nos braços. E no fim fiquei a olhá-la - à árvore -, como fico sempre a olhar para ela; e cheirei-lhe o cheiro que o vento já levava. Nesse momento conhecia-lhe o cheiro das flores brancas que tem. Cheiravam a janela aberta em dia de sol: cheira-me sempre assim quando o meu peito se enche – cá fora – com as vontades que eu trago - cá dentro - e desde menina que eu queria plantar uma árvore.
E as mãos da menina – que dormia, que dormiam – acordaram, depois de os dois termos lavado as nossas com cheiro a terra e foi a seis mãos que construímos o coração que oferecemos à nossa árvore, um coração que sabe da menina, que sabe deste lugar e deste tempo.
E eu queria uma prenda de Natal com vida, com cheiro, com raízes, com coração.
E eu queria que as nossas mãos – as nossas seis mãos –, se um dia fossem lidas, contassem desta árvore e emaranhassem quem as lesse, por não a conseguir situar numa só linha. Porque, nestas mãos que trazemos – e que nos trazem – as linhas da vida e do coração falam a uma só voz, contam a mesma história, moram no mesmo traço, alimentam-se da mesma raiz, são a mesma árvore.
Esta foi a minha prenda de Natal. Posso dizer-vos que tem a magia de a poder ver crescer, ano após ano, a cada Natal, e eu não me lembro de nenhuma outra prenda que o tenha conseguido.
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