Como cheguei lá por conta própria, sem pedir ajuda a nenhum operador turístico, demorei mais do que era suposto e tornei a jornada mais complicada, já que tive de embarcar em vários autocarros e um comboio, comboio esse que se atrasou três horas.
Se é verdade que não estava de todo à espera de que ele chegasse à hora prevista, também não esperava um atraso tão grande. Já não havia camas disponíveis abordo portanto comprei um bilhete na terceira classe. Felizmente, a carruagem estava bem folgada e deu para deitar no banco e dormir devidamente durante a noite.
O comboio também demorou mais a fazer o trajeto do que era suposto, portanto o atraso foi ainda maior, daí muitos viajantes não confiarem nos comboios para se deslocarem. Mas andar de comboio no Sudeste Asiático é uma experiência única e eu gosto deste contacto mais próximo com a realidade dos locais.
No entanto, fazer as coisas sozinha e num lugar pouco turístico talvez não seja a melhor ideia… o autocarro que apanhei de seguida esqueceu-se de me deixar onde era suposto. Tive de voltar 70 quilómetros para trás noutro autocarro que me deixou no meio do nada e lá tive de arranjar uma solução, contando com a boa vontade e hospitalidade dos tailandeses. Não há que ter medo de arriscar pois haverá sempre alguém disposto a ajudar e encontra-se sempre uma solução!
Uma vez em Sam Roi Yot, aprendi que os turistas que cá vêm costumam ficar em Hua Hin, a maior cidade próxima, e dirigir-se à zona para um tour de um dia que chega para ver a tal caverna e mais atrações na área. Eu decidi ficar mesmo em Sam Roi Yot que é uma zona muito pacífica, rodeada de montanhas e de deslumbrantes paisagens. Passei os meus três dias por lá a pedalar por entre campos verdejantes e montanhas que definem a paisagem com um toque de carisma. Também aluguei uma mota e explorei um pouco mais longe, já que alugar motas e explorar é muito comum por parte dos estrangeiros na Tailândia.
Se só por si a paisagem circundante já valia a pena, as atrações de Sam Roi Yot e do seu parque nacional fazem deste lugar um sítio arrebatador, relaxante e entusiasmante.
Sendo a principal atração a caverna famosa por ter um templo construído no centro de onde desabou o teto, foi por lá que comecei. Para lá chegar é preciso fazer uma caminhada na floresta desaconselhada a pessoas com dificuldades físicas pois o terreno é íngreme e rochoso. Para lá chegar é preciso subir mais de 400 metros.
O exponente do cenário dá-se entre as 10h e as 11:30h da manhã, hora em que o sol entra pelo buraco deixado no teto da caverna e ilumina o templo com a sua luz dourada que vai mudando conforme os minutos passam, hipnotizando-me a cada instante, daí ter lá ficado mais de 1h30 a apreciar a constante mudança que os meus olhos se deliciavam a ver. É um espetáculo lindo de se ver. Por ser uma altura em que o país ainda não recebe muitos turistas devido à pandemia, o espetáculo pôde ser apreciado com tranquilidade já que o maior número de pessoas na caverna ao mesmo tempo não passou das 10. Achei a caverna encantadora e muito merecedora de uma visita em que se relaxa e simplesmente aprecia a vista enquanto ela se vai desenhando a cada momento.
Existem na área mais cavernas que desconhecia e decidi visitar mais uma, a Kaeo Cave. Bem, não voltava lá porque foi uma experiência assustadora. A caverna não tem luz absolutamente nenhuma. Simplesmente me dão uma lanterna para as mãos e posso seguir. O mais assustador foi até saber que não estava lá mais ninguém e qualquer coisa que me acontecesse ficaria no segredo da escuridão. E o medo foi bastante pior lá dentro quando me deparei com escadotes assustadores, chão super escorregadio e inclinado que acabava num fosso que nem sei mencionar de que tamanho pois não tinha luz suficiente para ver a sua totalidade. Pensar que não posso dar um passo em falso se não estou acabada e que aquela lanterna não pode ficar sem bateria… Não saber quanto tempo falta para terminar e se terei de voltar tudo para trás ou encontrarei uma saída. O facto de em certos sítios a caverna estar repleta de morcegos a dormir também não ajudou.
Basicamente, o medo foi instalado a pensar nas possibilidades, mais do que no que realmente estava a acontecer. Finalmente lá encontrei a saída quase 30 minutos depois, uma saída igualmente assustadora já que tinha uma parede de rochas de vários metros para escalar, repleta de teias de aranha bem grandes que revelam não passar por ali muita gente... Não voltaria lá sozinha, mas acompanhada não vejo problema.
Entre muitos quilómetros pedalados entre as montanhas e estradas bem vazias e planas, decidi visitar o miradouro mais bonito da zona, o Khao Daeng Viewpoint.
O miradouro vale muito a pena a escalada de mais de 30 minutos e de dificuldade considerável, já que lá do topo a vista de 360º é magnífica. Estive lá muitos minutos completamente só, o que me agradou ainda mais. A vista é para os campos, o mar, as montanhas que rodeiam a área e as praias da zona muito ventosas, tal como este miradouro que por pouco não me fazia levantar voo. Fiquei no topo a admirar cada detalhe, tentar identificar por onde passei e o que já visitei, e a agradecer pela vista magnífica que tive neste dia.
Outro local que também gostei muito de visitar foi uma zona mais afastada que consiste num pântano rodeado pelas montanhas íngremes que marcam a paisagem de Sam Roi Yot, e que dão todo o encanto ao local. Existem vários passadiços de madeira que percorrem o pântano e que nos rodeiam com um silêncio quebrado pelos sons, para mim exóticos, de várias aves que por ali habitam. É interessante parar e tentar identificar algumas que nunca tinha visto antes. É um lugar muito pacífico onde se pode dar um passeio de barco, coisa que não fiz porque não era a época das flores de lótus. Nesta área existem imensas e quando elas desabrocham o lugar deve ficar majestoso. Algo que não presenciei mas consigo imaginar.
Para sair de Sam Roi Yot tive a sorte de conhecer um outro viajante a solo que me ajudou nesta tarefa já que aqui não passam autocarros. Viajar sozinho muitas vezes não implica estar sozinho mas sim estar aberto a conhecer outras pessoas.
Foi uma boa escolha como destino a visitar na Tailândia e que foge ao turismo de massas que nesta altura também não é notório. Sam Roi Yot foi uma agradável surpresa.
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