Antes do início dos combates, os homens retiram as cabeças empalhadas de aves, raposas e cabras que carregam sobre suas próprias cabeças como símbolo de força ou para dar sorte.
São, na maioria, originários de Chumbivilcas, uma província do departamento de Cusco, radicados em San Juan de Lurigancho, a nordeste da capital peruana.
Na mesma arena a céu aberto, onde em pouco tempo socos voarão de um lado para o outro, houve dança e bebidas.
Vestidos com trajes típicos e exibindo jaquetas e botas de couro, os homens e as mulheres juntaram-se em torno da Huaylía, uma tradicional dança dos Andes. A festa, no entanto, terminará em luta.
"Acerto entre vizinhos"
Tudo faz parte do Takanakuy, que em quéchua significa bater uns nos outros.
É uma tradição que remonta à época da colónia espanhola, quando os escravos lutavam entre si e acabou por se tornar um acerto de contas entre vizinhos em lugares onde não havia autoridade.
As lutas "antes eram por problemas de terras e essa era a forma de resolver os problemas entre famílias, entre vizinhos", disse à AFP um dos lutadores, Froilán Rosas, um cabeleireiro de 33 anos.
Os duelos também são realizados para defender a honra pessoal ou familiar. Atualmente, homens que não pertençam à comunidade, mesmo os estrangeiros, podem participar.
O Takanakuy é realizado todos os anos no dia 25 de dezembro nas regiões andinas de Cusco, Apurímac, Huancavelica e Arequipa. Também é comum nos Andes bolivianos.
O objetivo de travar os combates nesta data é terminar o ano em paz, explicam os moradores.
Em algumas regiões andinas é realizado o Warmi Takanakuy, exclusivo para mulheres.
Um abraço de encerramento
A festa faz uma pausa e a luta começa. Um lutador desafia outro pelo nome e sobrenome. Se este não aceitar, poderá propor um representante.
Antes de entrar no ringue, alguns sem camisola, os homens amarram as mãos com panos e trocam os sapatos por botas.
Neste clube de luta andino, os duelos costumam ser breves, não durando mais de um minuto, e apenas são permitidos murros e pontapés.
“Este é um ritual. Começa com um abraço e depois da luta termina com um abraço”, explica Julio Boza, 72 anos, um dos organizadores.
Em primeiro lugar - explica o homem corpulento - “é uma forma de resolver tudo (os problemas e as desavenças) que tivemos no ano. Este é o momento de resolver”.
Desta vez foram dez lutas que reuniram dezenas de espetadores.
Entre os lutadores estava um romeno entusiasmado, que foi encorajado a lutar depois de desafiar um residente local. O desafiante, que vestia uma t-shirt da seleção peruana de futebol com o nome do ídolo Paolo Guerrero, venceu a luta.
Embora o Takanakuy antes fosse organizado com base em rivalidades, hoje é mais a um hobby para os jovens.
“Como somos rapazes, queremos medir-nos pela força, saber como estamos. E mais do que tudo, o sangue que carregamos também nos chama para a festa”, diz Omar Huachaca, um comerciante de Cusco de 30 anos.
Comentários