Sempre tive problemas com o meu espanhol. As palavras não me saem. Por mais parecidas que sejam com o português. Quando tenho oportunidade de estudar uma nova língua, o espanhol fica de fora. Oriento-me quando for preciso, penso. Escolho outro idioma. Mas na hora de decidir entre um “Buenos Dias” ou um simples “Hola” as dúvidas são muitas. Tantas quanto as que existem acerca do país de nascimento de Cristóvão Colombo. Há quem acredite que tenha sido em Itália. Outros pensam que foi em Espanha ou mesmo em Portugal. Uma coisa é certa. Morreu em Valladolid, em 1506.

A Praça Colón, em Valladolid, serve de homenagem ao explorador que pensou ter descoberto a Índia, quando, na verdade, estava em Hispaniola, uma terra que fica entre o Haiti e a República Dominicana. Passei pela praça num dos quatro dias em que estive na província espanhola que pertence à Comunidade de Castilla Y León. A cidade é atravessada pelo rio Pisuerga. Um afluente do Douro. As ruas são estreitas. Rodeiam-se de prédios cujos tijolos não têm qualquer pintura sobre a sua cor natural. As varandas refletem a personalidade de quem habita aqueles apartamentos. Umas servem apenas para guardar o estendal. Outras são autênticas arrecadações. Veem-se móveis, cadeiras de gaming e figuras em pedra. Na “Peluqueria”, as clientes conversam com as cabeleireiras enquanto aguardam que lhes tirem o pedaço de alumínio que cobre a cabeça ou os rolos que vão formar caracóis num cabelo que teima em ser liso. Na “Churreria”, as pessoas locais fazem o mesmo que nas “Tapas e Copas”. Comem e bebem. O sabor dos calamares sobrepõe-se ao do vinho. Ou vice-versa. Nunca saberei dizer. Não bebo vinho.

Há sempre gente na rua. De manhã, as portas dos prédios abrem-se para as crianças de lá saírem de mochila às costas. As aulas começaram. Uns vão de trotinete. Outros seguem a pé com os pais. As mesas das esplanadas ainda fechadas enchem-se daqueles que já anseiam uma pausa. A cada esquina, os quiosques de revistas e jornais lucram à conta da vitória da extrema direita nas eleições italianas. Para não falar da “supertristeza” da Shakira.

As conversas de rua entram-me pelos ouvidos. Não que me queira intrometer. Apenas procuro a confirmação de quão má é a minha compreensão da língua. Abordaram-me algumas vezes. Se calhar ouviram-me falar português. Diria que não. Suponho que foi pela quantidade de malas que levava comigo. Muitas vezes, um sorriso chegava. As perguntas mais elaboradas, mereciam respostas igualmente elaboradas. Aí não estive à altura. Optei sempre pelo riso com som. E seguir caminho. Na esperança de não me cruzar com mais curiosos.

Falavam comigo à mesma velocidade do que com o vizinho que toda a vida pronunciou os dois “ll” como se fosse um “lh” e o “ñ” como se fosse um “nh”. Confesso que as minhas interações nunca acompanharam esse ritmo elevado. Aventurei-me também em algumas palavras que não monossílabos. No fundo, o meu espanhol não passa do meu melhor português acompanhado de uma ligeira acentuação. Daí ter cometido o erro de dizer “guardanapos” em vez de “servilletas” e “meias” ao invés de “calcetines”. O meu interlocutor não compreende. Encolhe os ombros. Retribuo o gesto. Fico embaraçado. Recorro à língua gestual. Se é que lhe posso dar esse nome. Cruzo palavras e apontares de dedos. Nada. Resta-me um último recurso. Dizer “No hablo Espanhol” na língua que afirmo não conhecer.

O Miguel estuda jornalismo, pratica esgrima e nos tempos livres escreve sobre as viagens que faz no seu blog, Ponto de Fuga.

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