Fotografia de Helene Havard

Com quase 100 anos de história, o La Mamounia já foi eleito o melhor hotel do mundo, mas é possível que nada, nem ninguém, lhe tenha trazido mais projeção mundial do que uma jovem russa conhecida por Anna Delvey.

Delvey é a identidade falsa criada por Anna Sorokin, a personagem central de Inventing Anna, uma mini-série da Netflix que em fevereiro contou ao mundo como a impostora russa ludibriou parte da elite social e financeira de Nova Iorque e deixou atrás de si quatro anos de faturas por pagar em alguns dos clubes, restaurantes e hotéis mais exclusivos da cidade.

Os momentos da série passados em hotéis de luxo estão entre os mais aliciantes, sobretudo pelas artimanhas que Sorokin emprega para conseguir escapar-se ao pagamento das suas estadias. Sorokin arriscou a sua sorte tantas vezes que quase faz parecer fácil ficar num hotel de 5 estrelas e não pagar.

O hotel de Marraquexe

A história de Sorokin é atravessada por tantas mentiras sobre o seu percurso de vida que o genérico da série televisiva é o primeiro a avisar: "esta história é totalmente verdadeira, exceto as partes que são totalmente inventadas". E o episódio em Marraquexe é tão caricato que seria de esperar que o hotel em que tudo acontece fosse inventado.

É no La Mamounia, um hotel de cinco estrelas no centro da capital marroquina, que a sorte de Sorokin, aliada a uma dose de astúcia, começa a esgotar-se. Inspirada por Khloé Kardashian, Sorokin alugou um dos três riads do hotel para si e algumas amigas. O único senão? Os três quartos, a piscina privada e o mordomo incluídos custam 8 mil euros por noite.

Não surpreende, portanto, que o cartão de crédito de Sorokin seja, pela enésima vez na série, recusado. Segue-se uma tensa confrontação entre a gerência do hotel e o grupo de Sorokin, impedido de deixar o alojamento até fornecer algum meio de pagamento alternativo. Ainda que a situação pareça exagerada para a televisão, é um dos momentos mais marcantes da mini-série (para quem nunca sonhou sair de um hotel sem pagar).

Como é realmente o La Mamounia?

As cenas do episódio passado em Marrocos foram filmadas no próprio hotel, no mesmo riad usado por Sorokin, apenas semanas antes da pandemia encerrar o turismo mundial, no início de 2020, com a curiosidade adicional de alguns dos funcionários ainda se recordarem da verdadeira Anna.

A história do hotel marroquino recua alguns séculos, com a oferta pelo sultão Mohammed ben Abdlallah ao seu filho, Moulay Mamoun, de um vasto pomar com 15 hectares. É neste espaço que, em 1923, a Companhia dos Caminhos de Ferro Marroquinos decide construir um hotel, ao estilo de um palácio de verão marroquino, rodeado por todos os lados por um jardim amuralhado.

Evolução das pesquisas no Google por
A estreia em fevereiro de "Inventing Anna" na Netflix coincidiu com um aumento acentuado nas pesquisas no Google por "La Mamounia". créditos: Google Trends

O interior do edifício principal conjuga a arte do zellige (os mosaicos cerâmicos que revestem as paredes e os pavimentos da casa tradicional marroquina) com tapetes e mobília em art déco. Os três riads do hotel funcionam como pequenos palacetes autónomos, com os seus próprios quartos e piscina, virados para um pátio central que confere privacidade e proteção do calor marroquino.

Os jardins do La Mamounia dão o toque final na imagem de um oásis. Com pouco mais de metade do tamanho do Parque Eduardo VII, em Lisboa, são um dos maiores espaços verdes (privados) da capital marroquina.

Às refeições, os hóspedes (ou "residentes", como o hotel prefere chamar aos seus clientes) têm quatro restaurantes à escolha, além de uma casa de chá no meio dos jardins.

Uma estadia mais modesta, num quarto duplo, começa nos 500 euros por noite.