Será preciso esperar até o final de 2020 para ter um diagnóstico completo que permita aos arquitetos trabalhar no restauro de Notre-Dame. Após a licitação, a reconstrução do monumento histórico, o segundo mais visitado da Europa, poderá começar em 2021.

A catedral pode ficar exatamente igual a antes do incêndio de 15 de abril, como deseja a maioria dos franceses e o arquiteto chefe, ou podem ser feitas modificações arquitetónicas, como defende o governo.

É preciso primeiro reconstruir o telhado de madeira e o pináculo de 93 metros de altura, um dos símbolos da capital francesa. No momento é impossível determinar "quanto vai custar e quanto tempo vai demorar", diz o arcebispo de Paris, Michel Aupetit.

O presidente francês, Emmanuel Macron, disse que as obras para que a catedral "seja mais bela do que antes" deveriam ser finalizadas em cinco anos, um prazo considerado como um "objetivo" aproximado pelos especialistas.

Os trabalhos já sofreram atraso, depois de uma interrupção durante quase um mês, no final de julho, devido ao risco de contaminação com chumbo.

Notre-Dame: seis meses após o incêndio
A impressionante estrutura de andaimes. Imagem de 14 de julho de 2019 créditos: Kenzo TRIBOUILLARD / AFP

O objetivo mais urgente é descartar o perigo de que a abóboda desmorone, devido ao andaime de 500 toneladas instalado ao redor do pináculo antes do incêndio. A queda de uma das barras poderia causar danos irreparáveis.

"Não é o caso de querer assustar, é uma realidade física", explica em entrevista à AFP Christophe-Charles Rousselot, delegado-geral da Fundação Notre-Dame.

Ideias para a reconstrução

- o arquiteto Alexandre Fantozzi propõe uma agulha coberta de vitrais em tons avermelhados.

- o britânico Norman Foster propõe um teto de vidro. O pináculo, em forma piramidal, seria feito de vidro e aço inoxidável.

- Alexandre Chassang, do estúdio ABH, propõe um gigantesco pináculo futurista em vidro.

- o Vizum Atelier propõe uma fina torre branca, prolongada por um feixe de luz.

- o designer Anthony Séjourné imagina um feixe de luz efémero.

- o escritório francês Godart + Roussel propõe um pináculo metálico.

- o estúdio belga Miysis propõe um teto de vidro e um pináculo idêntico ao original.

- Nicolas Abdelkader, do estúdio NAB, propõe uma estufa de madeira e uma colmeia gigante.

- Marc Carbonare propõe uma esplanada, aberta ao público com um pináculo em pedra e um jardim.

- o designer francês Mathieu Lehanneur quer recriar uma gigantesca chama no lugar do pináculo.

Custos triplicam: de 30 para 85 milhões de euros

Para impedir o desmoronamento, foram instaladas armações de madeira que servem de molde e sustentação. Essa medida, juntamente com as precauções antichumbo e outras iniciativas não programadas inicialmente, estão a aumentar o orçamento dessa primeira fase, que passou de 30 milhões de euros em 15 de abril para 50 milhões em junho e 85 milhões atualmente.

Os trabalhos para desmontar o antigo andaime, que ficou fundido com a estrutura do telhado devido ao calor das chamas, vão durar vários meses. "Será instalado outro andaime por cima para que os operários baixem com cordas e cortem uma a uma as barras", diz o arcebispo.

As obras de consolidação não serão finalizadas até meados de 2020. Se tudo correr bem, a nave poderá ser aberta parcialmente para missas.

A presença de chumbo é outra variável determinante, já que continuam a ser detectados níveis elevados nas fendas do átrio, apesar dos trabalhos de descontaminação.

Também é preciso levar em conta a investigação de três juízes de instrução, chamados para determinar as causas do incêndio. Tudo aponta que não foi intencional, mas poderiam ser descobertos os responsáveis por uma série de negligências: empresas privadas, diocese, Estado?

Um general no comando

Como um exército em campanha, as obras colossais da Notre-Dame precisam de uma estrutura e de um líder. Macron nomeou o general Jean-Louis Georgelin, ex-Chefe do Estado-Maior, para formas as equipas, encarregar-se das decisões e avançar a marcha forçada.

No final de 2020, está prevista a decisão final de como será reconstruída a catedral que, no ano passado, recebeu 12 milhões de visitantes.

"É preciso refazer o pináculo de forma idêntica", declarou em junho Philippe Villeneuve, arquiteto chefe de Monumentos Históricos e a cargo da restauração da catedral. O especialista defendeu "a grande força" desse elemento do século XIX que se integrava na perfeição na obra medieval exatamente porque era "atemporal".

Villeneuve afasta-se assim da vontade de Macron de inserir um "toque contemporâneo" ao monumento.

Turistas tiram fotos em frente à catedral
Turistas tiram fotos em frente à catedral créditos: ALAIN JOCARD / AFP

Está também prevista a renovação da própria zona ao redor da Notre-Dame, junto ao rio Sena.

A onda de solidariedade criada após o incêndio traduz-se em promessas de doações num total de 800 milhões de euros: desde os 200 milhões desembolsados pelo magnata francês Bernard Arnault, proprietário do grupo de luxo LVMH, até 1 euro oferecido por um menino de oito anos.

No entanto, a demora nas obras, os controlos de saneamento, os relatórios exigentes, a instalação de andaimes e a tecnologia necessária podem ser factores que façam com que no final do processo falte dinheiro.