“Boa noite, tenho estado a fazer a digestão da viagem (à Nigéria), na realidade estou é a preparar a próxima. Vou ao Burundi no próximo mês”. Issa relembra que como é um “solo traveler”, as viagens têm que ser preparadas com mais cuidado. E é sobre cuidado que hoje vos escrevo. Também sobre um país tropical que bem apetece no nosso mês frio de novembro.
Nigéria é um destino a recomendar de acordo com o perfil do viajante, assim Issa denota com muito cuidado. “As pessoas são a essência das viagens” e foi o que encontrou de novo na viagem à Nigéria. “É um país fechado, eles não saem muito, nunca tinha visto nigerianos na vida (…) o país mais populoso de África!”. Imagina-se perder tanto de África? Porque ir, então?
“Cortês, decente, amável, simpático”… adjetivos que Issa me listou quando lhe pedi para falar das pessoas da Nigéria. Riscos a ter em conta, todavia, para todos os viajantes (com perfil mais ou menos aventureiro): a situação “tensa” da Nigéria assusta, mas basta prevenir; “é um país proibitivo, começa logo pelo visto”. Tem de tirar o visto na embaixada cá em Portugal, mas pode não ser fácil conseguir um visto de Turismo. Sabia disto? Dada a situação complexa da Nigéria, os raptos são muito frequentes. Mas, nada disto aconteceu na pele de Issa, o português que já viajou quase o mundo todo, literalmente.
Cuidado com questionamentos religiosos, ir em modo low-profile, não indicar os locais onde vai no dia antes. Leve dinheiro em mão, pois mesmo os locais que anunciam ter possibilidade de cartão de crédito… depois não têm. Moeda a levar: Issa aconselha o dólar americano. Sobre a pandemia, não se registaram casos expressivos de COVID-19 nem ondas como nós temos sofrido. Sobre isto Issa descreve como: “não consegui arranjar explicação para isso”. Sendo médico e viajante, nem duvido eu sobre este tema na curiosa Nigéria.
Sobre prevenção sanitária, antes de ir tem de aceder a uma plataforma do Governo (Ministério da Saúde), pagar cerca de 100 euros (pagamento online) para realizar um teste num laboratório que o viajante escolhe. Depois o QR Code é avaliado na entrada no país. A quarentena é ‘supostamente’ de sete dias.
Calabar: tem de visitar, com cuidado e com coragem para ouvir o mundo na sua plenitude. As histórias supersticiosas são fantásticas. Ficamos a pensar nelas. Eu fiquei a pensar em tudo o que Issa me ia narrando sobre aquela zona perto dos Camarões e Guiné Equatorial. Mais, ainda sobre Calabar: em dezembro tem um festival de máscaras, mesmo na altura natalícia. Se é amante de animais, se viaja para ver animais exóticos: também aqui encontra primatas que só existem mesmo perto de Calabar. Animais em vias de extinção e que precisam do ‘nosso olhar’.
Têm gasolina a 30 cêntimos do euro por litro! Assim as viagens de táxi são fáceis para os viajantes. Issa sentiu-se muito bem ali, mas recomenda que quem for saiba que deve ‘arriscar’. Foram várias “provas de fogo” e que convém saber para não deixar escapar as belezas da Nigéria (ver galeria). Essas belezas estão no encontro e na caminhada com as pessoas de lá.
Confidence, Sunday, Innocence, Hope... nomes oficiais das pessoas, sabia? É curioso e talvez caraterize, da melhor forma, as caraterísticas humanas ‘desta gente’. Issa relembra o seu teste de ADN e no qual está registado 1% de identidade nigeriana. O viajante português sentiu uma conexão, pese embora a segurança do país enorme, que pode ser explicada pela simpatia ‘genética’.
Sobre a língua: ali consta que há mais de 500 dialetos. Imagine-se a Torre de Babel verdadeiramente aqui achada num coração gigante africano. Sobre a antiga capital – Lagos (nome dado pelos portugueses desde a origem!) – ora visite a aldeia flutuante Makoko que é uma favela com 200.000 pessoas. Pode recontar os zeros… sim são muitas pessoas. Mas, prepare-se caso seja um viajante que facilmente se impressiona. Leve um motorista que saiba os contactos exatos para autorizarem a entrada dos forasteiros. É desafiante e flutuante: “tudo flutua; as casas são de pedaços de materiais do que calha; sem eletricidade (…) extremamente pobre. Mas valeu a pena, extremamente interessante”.
Apesar de imagens que nos queimam a pele por causa da carência que ali se vive, algumas das casas combinam com a alegria do sol, as vestes são garridas e mesmo o que se vê nos barcos ancorados nas casas e mercearias flutuantes…tudo tem muita cor. Veja a galeria acima.
Não se vê turistas, porém. Por exemplo no sudoeste, em Calabar, não avistou ninguém além dos nativos. Só Issa estava a viajar. Sentiu-se “desintoxicado” e “com experiências do ponto de vista humano (…) que me fez chorar”, palavras em português. E, por falar em se ser humano, aproveitou para ajudar um aspirante a cantor, um artista local. Propôs que viesse cantar a Sines, no festival de junho. O jovem artista cruzou-se com Issa num hotel, em Lagos, “e enviou uns áudios” (uma espécie de demo, acreditaremos) para que o nosso português ouvisse. O rapaz ficou tão feliz com a possibilidade de vir a Portugal fazer-se ouvir que aceitou o encontro que Issa marcou para o dia seguinte. O português conta algo caricato e amável sobre este encontro. Era só um encontro para trocarem ideias sobre a possível vinda a Portugal. Mas o rapaz demorou horas num cabeleireiro e trouxe uns sapatos novos (a etiqueta estava a ver-se) para a reunião que supostamente era só um ‘trocar de ideias’ entre um artista de sonhos e um português igualmente amável que corre o sonho do mundo. Que pode ter ajudado mais uma pessoa nesta sua última viagem.
“Crazy tourism” – caraterizou assim a sua visita à Nigéria quando um nativo lhe perguntou “que tipo de turismo fazia”. E então, vamos fazer crazy tourism? Eu vou.
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