Um dos grandes viajantes do mundo, ao jeito do https://mtp.travel/ (Most Traveled People), é português e temos vindo a caminhar com ele à volta do globo. Quase terminando as minhas entrevistas com este médico, chegou a hora de saber o que o fez tremer depois de ter passado anos na AMI e ter escrutinado quase todo o planeta. Custódio Issa aconselha a calcular os riscos antes de se fazer qualquer caminhada.
Fica aqui a lista do perigo. Mas é um perigo que só aumenta a curiosidade para se viajar nestes lugares. O caso da República Centro-Africana que é um lugar sem lei. Mesmo sabendo disso, Issa insistiu numa viagem de 100 quilómetros além da capital, depois de um café tomado como puro turista. Os locais confessaram que se admiraram com a coragem do nosso português ali num Estado sem lei.
Outro país: Afeganistão. Considerou que é extremamente perigoso por causa dos talibãs estarem a 20km do seu alojamento. Segundo os afegãos que o acolheram, aquilo era ‘estar longe’. 20 quilómetros. Longe? Para este ocidental, era perigosíssimo. Mas foi uma viagem que valeu a pena.
Recorda como conheceu pessoas e lugares em contextos ignominiosos. Em plena altura do furação das Honduras, com a capital debaixo de água, Issa lembra: “vi cenários indescritíveis, nunca iria às Honduras, nem ninguém numa circunstância dessas”. Os portugueses foram os primeiros a socorrer neste furacão. Depois, recomenda bastante, mesmo sendo país perigoso: Coreia do Norte. Quando lá chegar, verá que as pessoas pouco sabem do que se passa no exterior. Turistas poucos há, sobretudo no Inverno. Descreveu-o como “Estado Eremita”.
Outro caso de perigo e de lhe tirar o sono: relembra que veio “a fugir do Ruanda” e fez-me esta pergunta/sugestão: “viu o filme ‘Hotel Ruanda’? Eu ainda não o vi” - respondo. Pronto, tenho de o ver pois soube que Issa teve de fugir e se salvar como tantos outros, contudo ele ficou contrariado pois queria ter lá ficado a absorver mais da beleza do país. Porém garante que vai voltar já em 2021, até porque a realidade, agora, é outra. E paro aqui: um verdadeiro viajante, na minha opinião, é aquele que volta, faz um replay dos sítios, das pessoas.
Sobre mais sustos em viagens: República da Guiana. Foi assaltado à mão armada com “arma apontada à minha barriga”. Nem compreendeu qual era arma. Mas no hotel tinham recomendado para não sair à noite. Decidiu sair para poder jantar, quando foi surpreendido por dois meliantes que lhe exigiram, a gritos, dinheiro. Depois de o depenarem, fugiram de mota. Quando regressou ao hotel ficou a repensar na sua sorte face à onda de criminalidade que todos conhecemos neste país.
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