Casablanca – A Cidade Branca e cheia de luz à beira-mar
Marrocos está a mudar, uma das mais antigas monarquia do mundo está a modernizar-se, especialmente as suas cidades principais, mudanças que pudemos constatar in loco, numa escapadinha de quatro dias, à boleia da Royal Air Maroc. Partimos de Lisboa para Casablanca – a Cidade Branca, assim chamada pela predominância de edifícios com fachada branca, localizada junto ao mar, a segunda maior de África depois do Cairo.
Aqui encontramos algumas semelhanças com a nossa Lisboa, a luz, as praias, até as casas e a reconstrução da cidade após um grande terramoto, sem esquecer é claro, a Ponte Aérea existente entre as duas cidades no tempo da Segunda Guerra Mundial, imortalizada no filme Casablanca, com Humphrey Bogart e Ingrid Bergman.
E é por aqui que começamos a nossa visita, chegamos ao fim da tarde à Cidade Branca e fomos até ao Rick’s para jantar e beber uma bebida, a magia do espaço, tal como o vemos no filme não existe, mas a sua memória e influência está lá, nas paredes, no filme projetado no ecrã de televisão e até na música de fundo que vem do piano instalado no piso térreo. De Ricks nem sinais, mas os empregados servem-nos da forma mais educada e simpática possível, num estilo muito ocidental.
No dia seguinte, partimos à descoberta da cidade moderna, optámos pelo caminho junto ao mar, passamos pela marina, vimos as praias e seguimos até à Mesquita Hassan II, uma das maiores do mundo islâmico e a terceira maior do mundo, construída entre 1987 e 1993.
A sua imponência e grandiosidade impressionam mesmo ao longe, mas é ao perto que nos sentimos pequeninos perante tamanho e magnificência do edifício, decorado de forma primorosa, com um trabalho quase na sua totalidade feita por artesãos marroquinos.
A área destinada às orações ocupa cerca de 20 000 metros quadrados e pode acolher até cerca de 25 000 fiéis, aqui homens e mulheres rezam em separado, em zonas distintas (as mulheres ficam nas mezzanines). Para além da beleza da decoração, tem no teto principal que abre, uma das suas características principais (simboliza a união entre o céu – Deus, a terra e o oceano).
Outra zona de grande beleza arquitetónica fica no subsolo, e é dedicada às abluções e tem 41 fontes em mármore, para além de dois hammams. O minarete desta mesquita tem 200 metros de altura e é um dos mais altos do mundo. A Mesquita Hassan II está aberta ao público em geral, em horários definidos, para visitas, e os muçulmanos não pagam entrada.
É aqui, neste local de culto, que aprendemos um pouco mais sobre o Islamismo e sobre os cinco pilares em que assenta: Existência de um único Deus – Alá; um Livro sagrado escrito em árabe – Alcorão; reconhecimento de Moamé como o Profeta; a realização de cinco orações por dia (curtas entre 3 a 4 minutos) e a regência dos dias pelo Calendário da Lua.
Seguimos viagem até outra zona da cidade, o Quartier Habbous – também conhecido por Bairro Francês por ter sido projetado por arquitetos franceses, construído entre 1918 e 1955, para acolher os migrantes que aqui chegavam, especialmente famílias de comerciantes.
De estilo europeu, é fácil para nós passear por estas ruas, e admirar as suas lojas, visitar as livrarias e sentirmo-nos tentados pelo cheiro dos doces típicos marroquinos, vindos das pastelarias e padarias típicas.
Aqui ainda tivemos tempo para visitar a antiga Casa Governador, atualmente um edifício administrativo do Governo e que parece uma fortaleza, pela sua arquitetura. No interior, os pátios estão abertos ao público e é possível admirar a decoração de estilo marroquino. A entrada é livre.
Outro ponto de paragem, neste caso obrigatório para um católico, é a Igreja Católica Notre Dame de Lourdes construída em 1956, segundo projeto do arquiteto Achille Dangleterre, onde se destaca um grandioso conjunto de vitrais da autoria de Gabriel Loire. No exterior, uma réplica da gruta de onde Nossa Senhora da Imaculada Conceição apareceu a Bernadette Soubirous em 1858. Esta é uma das igrejas católicas existentes em Casablanca.
Antes de mudarmos de cidade e paisagem, passámos ainda pela Corniche (uma das zonas panorâmicas mais bonitas da cidade, com vários quilómetros de zona para passeio), ver as praias e o mar, e espreitar o porto e o bairro de Anfa, em tempos local de paragem de fenícios, romanos, piratas e até de portugueses nos séculos XV e XVI. Atualmente é das zonas mais caras da cidade devido à sua localização junto ao mar.
E com isto deixamos Casablanca com o cheiro a maresia, e a vontade de voltar para descobrir mais desta cidade em mudança.
Próximo destino: a exótica Marraquexe
O destino seguinte da nossa viagem é a cidade ocre, onde o vermelho ocre domina a paisagem e os prédios são em terra e barro, aqui não há mar mas sim deserto por todo o lado, mas o encanto e a magia escondem-se atrás de cada esquina e cada porta, tal como os imensos jardins, falamos da exótica Marraquexe, também apelidada de cidade-jardim ou pérola do sul.
Esta não é a primeira vez que aqui vimos, mas é quase como se fosse, a antiga cidade imperial mudou muito desde a última vez, e na antiga Medina há mais para ver e visitar que o velho souk, os riads e kasbahs, há locais novos a descobrir, museus de arte moderna, jardins e novos espaços noturnos e hotéis fora da cidade, até os espetáculos de dança são mais modernos e atrativos.
Começamos a visita pela Medina e pela parte antiga, aqui, no labirinto de ruas estreitas e casas antigas há muito para descobrir, entre lojas de artesão, e museus.
Optámos por entrar na Madraça Ben Youssef, a antiga escola islâmica da cidade antiga, datada do século XIV e que funcionou até à década de 60, onde se aprendia o Corão, a ler e a escrever, álgebra, e direito corânico. Para aqui vinham 264 rapazes com mais de 10 anos de várias zonas do país, especialmente do interior, entre ricos e pobres. O edifício é composto por dois pisos. No piso térreo ficavam o pátio, um espelho de água e as salas de orações e aulas, no piso superior ficavam os quartos dos estudantes, hoje tudo é visitável.
Nas ruas envolventes pode-se comprar um pouco de tudo, especiarias, ervas, óleo de aragão, roupa, quadros, instrumentos musicais, artesanato, tapetes, candeeiros, tâmaras e até provar doces e pratos típicos, a oferta é muita e variada.
Entre os novos locais a descobrir em Marraquexe começamos pelo Jardin Secret, instalado num antigo palacete em plena Medina. O edifício remonta à segunda metade do século XVI, quando o sultão Moulay ‘Abd-Allah começou a erguer o bairro de Mouassine, foi destruído quando a dinastia saadiana caíu em desgraça, e reconstruído em meados do século XIX depois pelo governador local U-Bihi. Agora encontra-se nas mãos de um italiano – Lauro Milan, que se apaixonou por ele, recuperou e abriu aos turistas em 2008. Aqui, sobressaem dois jardins, um exótico com espécies oriundas de todo o mundo; e um islâmico tradicional, com fonte e canteiros emoldurados por mosaicos, mas também se podem admirar outros pormenores, como a azulejaria, e a decoração das paredes e dos painéis de madeira. Do terraço de um dos pavilhões do Jardim pode-se observar a cidade e a paisagem até às Montanhas do Atlas.
Na outra ponta da cidade, na zona moderna da cidade e onde moram os europeus, maioritariamente franceses, no Bairro Guéliz fica o famoso Jardin Majorelle, criado originalmente nos anos 20 pelo artista francês Jacques Majorelle e adquirido na década de 80 pelo estilista francês Yves Saint Laurent e Pierre Bergé. Após a morte de YSL (as suas cinzas estão aqui depositadas) o jardim foi doado à Fundação Pierre Bergé – Yves Saint Laurent – Jardin Majorelle.
O local sobressai pela sua beleza, conjunto de plantas (palmeiras, cactos, nenúfares, entre outras), tanques, fontes, algumas esculturas e ainda pelo azul forte patente nas poucas construções existentes.
No seu interior está ainda instalado o Museu Berbére, que entre várias peças, apresenta joias e trajes típicos marroquinos e que influenciaram o estilista francês nas suas criações. De destacar ainda na porta ao lado o novíssimo Museu Yves Saint Laurent, dedicado ao artista, inaugurado em outubro passado.
Fora da cidade, (a 28 quilómetros pela estrada na região de Ourika), fica outro dos jardins que visitámos, mas este não é um jardim qualquer, aqui há também obras de arte (entre elas uma de Rodin e peças de Picasso) espalhadas pelo meio da vegetação e flores aqui plantadas ao longo de três hectares, falamos do ANIMA – o Regresso do Paraíso criado pelo austríaco André Heller, que comprou o terreno em 2008 e demorou 8 anos a construí-lo, e para aqui transportou plantas oriundas de todo o país, para além de rosas de várias cores e outras flores, sem falar nas características palmeiras, laranjeiras e até oliveiras e bambú. O edifício existente na propriedade dispõe ainda de salas de exposições e um café, e abriu ao público em março de 2016.
E terminamos o roteiro fora da cidade com uma visita ao novo Museu de Arte Contemporânea Africana – MACAAL (inaugurado em 2016), instalado no resort Al Maaden. Aqui podem-se admirar obras de artistas marroquinos contemporâneos, mas não só, também estão presentes obras de autores moçambicanos e de outros países africanos. Este museu é uma verdadeira janela para a nova arte africana, e para a visão do mundo dos seus artistas.
Fora do circuito habitual ficam também alguns sítios por onde passámos e não queríamos deixar de partilhar.
Se é fã de cavalos então sugerimos uma visita ao luxuoso hotel Selman Marraquexe e às suas cavalariças, onde é possível admirar e até montar um autêntico puro sangue árabe. Aqui estes animais são verdadeiras estrelas, mimados até mais não.
Para almoçar sugerimos o restaurante Dar Moha, um restaurante bonito e requintado, onde é possível provar a gastronomia típica marroquina, mas servida com o cuidado e elegância à europeia. Se estiver bom tempo (o que é uma constante por estes lados) aconselhamos que se faça a refeição no jardim, à volta da piscina, rodeado de flores. A refeição começa com um conjunto de entradas Sabores das Montanhas Atlas – como saladas de tomates e pimentos, azeitonas, beringela, cenoura em vinagrete, cebola doce, entre outras iguarias típicas por estas bandas, seguindo-se o prato principal: pastilla de frango e amêndoa; tagines (vegetariana, cordeiro, peixe, frango); couscous e para sobremesa uma tarte ou gelado. Para rematar a refeição, um fresco e saboroso chá de menta.
E para a noite sugerimos duas opções, uma em pleno centro da cidade, no escondido e luxuoso Riad Lotus Privilège, aqui pode-se jantar tranquilamente, conversar e ainda assistir a um pequeno espetáculo de dança do ventre.
Ou então, se preferir um espetáculo mais grandioso e um espaço ao ar livre, então a sugestão vai para o Palais Dar Soukkar. Aqui pode-se jantar, beber uma bebida, assistir ao espetáculo e ainda dançar ao som de um dj. O espaço, tal como o nome indica, fica num imponente palácio, no deserto (agora não tão deserto como noutros tempos).
Terminamos a nossa visita à Cidade Vermelha, como não podia deixar de ser, com uma visita a um dos souks mais famosos de Marrocos – o Souk El Kessabine e à Praça Jemaa El Fna para assistir ao pôr-do-sol. Esta é talvez a praça marroquina mais conhecida e famosa em todo o mundo, pelo seu comércio, ambiente e animação.
Os vendedores de fruta, os aguadeiros, os amestradores de macacos e cobras, os músicos são algumas das figuras características do local e que fazem parte do seu colorido. À volta da Praça existem vários cafés com terraços, onde se pode subir, beber um sumo de laranja e apreciar a paisagem, é impossível ficar indiferente a este cenário.
Este é também o melhor sítio em toda a cidade para se ver e admirar a Koutoubia (mesquita construída em 1158 pelos vendedores de livros, cuja entrada está interdita a não muçulmanos, e uma das mais emblemáticas do mundo islâmico), de que sobressai o seu minarete com 77 metros de altura.
E é com um dos monumentos e edifícios marroquinos mais emblemáticos que nos despedimos, já com o regresso em mente, pois afinal, aqui há tantos segredos para ver e descobrir, ou não fosse esta uma das terras encantadas dos estórias das arábias.
Informações Práticas
Voos: Há voos para Casablanca a partir de Lisboa e Porto, têm a duração de cerca de uma hora e meia /duas, em voo direto com a Royal Air Maroc e a TAP
Moeda: Dirham marroquino (1 Dirham = 0,08825 Euros). Pode-se trocar dinheiro no aeroporto e nos hotéis, ou levantar diretamente das lojas multibanco espalhadas pela cidade.
Língua: A língua oficial é o árabe, o francês é a língua estrangeira utilizada, embora já se comece a ouvir muito o inglês nos locais e restaurantes frequentados por turistas.
Fuso Horário: O mesmo que o nosso.
Formalidades de entrada e saída: Passaporte em vigor. Os países pertencentes à União Europeia estão isentos de visto. Durante o voo e na chegada ao hotel ser-lhe-á solicitado o preenchimento de um pequeno papel com os seus dados.
*O C&H viajou a convite do Turismo de Marrocos e da Royal Air Maroc
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